Blog do Flavio Gomes
Indústria automobilística

JECAS

SÃO PAULO (tudo perdido) – Na Europa, a Audi arrebenta no DTM, corre (e ganha) em Le Mans, participa de Goodwood e da Mille Miglia, faz grandes campanhas publicitárias, cultiva a história da Auto Union, estimula a admiração e a paixão dos clientes por seus carros. Aqui… Aqui, já tem uns dois ou três anos, […]

SÃO PAULO (tudo perdido) – Na Europa, a Audi arrebenta no DTM, corre (e ganha) em Le Mans, participa de Goodwood e da Mille Miglia, faz grandes campanhas publicitárias, cultiva a história da Auto Union, estimula a admiração e a paixão dos clientes por seus carros.

Aqui…

Aqui, já tem uns dois ou três anos, algum gênio do marketing da Vila Olímpia chegou à conclusão de que para vender Audi a estratégia é fazer papel de ridículo. E, claro, os resultados são ótimos. Afinal, depois que fechou sua fábrica no Paraná, a Audi passou a não vender quase nada no Brasil. Aí foi-se a tempestade, foram retomadas as importações de poucas unidades, novos modelos foram lançados, caríssimos, e a marca voltou a vender alguma coisa. Sei lá, de 5 carros por mês, passou a vender dez. Oh, um aumento de 100%! Um sucesso.

Estou chutando os números, são outros, mas ainda assim irrelevantes.

E a estratégia genial é a seguinte: patrocinar torneios de pólo, aquele de cavalo, montar estande em Campos do Jordão, fazer test-drive em autódromo para endinheirados que frequentam as páginas de “Caras”, abrir showroom no Shopping Iguatemi, para vender… dois, três carros. Oh, que sucesso.

Ou fazer essa coisa patética de oferecer um descontão a uma das eminências culturais do país, como o pensador contemporâneo Luciano Huck, que finge que se interessou pelo carro, qualquer um, e aí se produz um press-release, planta-se uma nota grande num site de celebridades, possivelmente remunerada, e faz o cara informar “espontaneamente” pelo Twitter, aos seus milhões de seguidores, que comprou um Audi. Com um ar assim tipo cool, sabe? Oh, que emocionante.

Aqui entre nós… Alguém se interessa por um Audi porque o Luciano Huck resolveu comprar um? Vejam a cara de sonso do sujeito olhando o book do carro! Não tem a menor noção do que está comprando, mas sabe perfeitamente quanto está economizando com o jabá escancarado. Um cara que faz com automóveis o que ele faz, ou fazia, naquele quadro ridículo de seu programa igualmente ridículo não tem a mais remota ideia da história esculpida em aço em Ingolstadt.

Meus DKWs morrem de vergonha disso. Se há algum tempo, quando a família Senna trouxe a Audi para o Brasil, a ordem era esconder a origem, porque achavam que DKW maculava a marca, hoje são os DKWs que ficam constrangidos com essas papagaiadas.

Mas não se deprimam, amantes das quatro argolas. Essa linha de conduta está restrita ao Brasil, país detentor do maior número de ricos-jecas por polegada quadrada nas telas de LCD. Audi de verdade é a Audi de Michele Mouton, Mattias Ekström, Timo Scheider, Tom Kristensen, Bernd Rosemeyer, Hannu Mikkola, Walter Röhrl… Não a do Luciano Huck.