Blog do Flavio Gomes
F-1

PAULISTÂNIAS (24)

SÃO PAULO (20 graus, 21 no asfalto) – Ah, não tem problema algum cair no clichê de vez em quando. Todo mundo vai manchetar “O INCRÍVEL HULK”. E nós no Grande Prêmio também. Será quase uma disputa estética nos jornais e sites. O título é o mesmo, monotemático, que nem no carnaval de 2000, 500 […]

SÃO PAULO (20 graus, 21 no asfalto) – Ah, não tem problema algum cair no clichê de vez em quando. Todo mundo vai manchetar “O INCRÍVEL HULK”. E nós no Grande Prêmio também. Será quase uma disputa estética nos jornais e sites. O título é o mesmo, monotemático, que nem no carnaval de 2000, 500 anos do descobrimento, quem souber lidar melhor com o tema leva.

Incrível, incrível mesmo esse Hülkenberg. E só mesmo Interlagos para dar uma cor especial à F-1. Verde, no caso. Interlagos é o único circuito imprevisível do mundo. Onde um cara como Nico Hülkenberg, de uma equipe como a Williams, é capaz de fazer a pole contra Red Bull, Ferrari, McLaren, Renault. Em todos os outros dá para apontar favoritismos, há uma certa lógica. Mas não há lógica no clima de Interlagos. Tem que respeitar a represa, amigo!

Bom, acho que todo mundo viu a classificação. Começou com pista molhada, bem molhada, e o Q1 eliminou os de sempre, seis nanicos, mais Sutil.

Todos usaram pneus intermediários. Os tempos começaram a ser registrados na casa de 1min22s. No fim, Alonso foi o mais rápido com 1min18s987 — era o trilho se formando, claro. Destaques para Kubica em terceiro e Kobayashi em quarto. Lá no fundão, os dois brasileiros perderam para seus companheiros de equipe. Senna-sobrinho ficou em último e Di Grassi, em antepenúltimo.

No Q2, a chuva deu uma diminuída e foi parando, parando, até parar. Quem conhece Interlagos sabe que essa pista seca rápido. Se a chuva não voltasse mais, estava na cara que o Q3 seria para slicks. Webber fechou a segunda parte da classificação em primeiro com 1min18s516. Kubica voltou a andar bem, terceiro. Os degolados foram Button, uma decepção, Kobayashi, outra, Rosberg, mais uma, e os já esperados Buemi, Heidfeld e Liuzzi. Schumacher e Barrichello, lá na frente em quinto e sexto, abriram seus veteranos sorrisos para as condições que teriam pela frente, nas quais normalmente se saem bem.

O Q3 teve todo mundo saindo dos boxes com intermediários só para dar uma olhada. Os tempos começaram a vir na casa de 1min17s e foram caindo. Kubica foi o primeiro macho-man a colocar slicks. Hamilton, o segundo. E todos vieram atrás. O trilho era visível. Interlagos seca rápido, se alguma equipe tivesse me pedido consultoria, eu dava, Cobrando, claro.

Mas estava fácil de errar. É o grande charme dessa pista, a chuva que vem e vai, e deixa tudo muito ardiloso, é preciso saber conversar com esse asfalto traquinas, compreendê-lo, não pisar no centímetro quadrado errado.

Aí surgiu Hülkenberg, que fez tudo isso. De slicks, enfiou 1min16s373 no cronômetro. Seguiu em frente, os pneus precisavam de mais temperatura, a volta boa viria na segunda ou terceira. Hamilton baixou, 1min16s274. Alonso entrou em 1min15s989. Mas o incrível Hülk não perdoou: 1min15s462 e, para acabar de decepar as pretensões dos rivais, 1min14s470.

Uau.

Desde o GP da Europa de 2005, em Nürburgring, que a Williams não fazia uma pole. Na ocasião, o piloto era outro alemão, Heidfeld. Desde o GP da França de 1999, em Magny-Cours, que um motor Cosworth não aparecia em primeiro no grid. Na ocasião, o piloto era o atual companheiro de Hülkenberg, Barrichello, numa equipe que não existe mais, a Stewart, que virou Jaguar e hoje é a Red Bull.

São as voltas que o mundo dá.

O campeonato? Pelo menos no grid, o sábado ficou de bom tamanho para a Red Bull. Vettel ficou em segundo e Webber em terceiro. Hamilton, meio intruso, aparece em quarto. Alonso, o líder do Mundial, só em quinto. Massa não vai poder ajudar muito, de novo, porque larga em nono. O título será decidido em Abu Dhabi.

Vettel e Webber tratarão de se livrar de Nico, o Incrível, logo no começo. A corrida deve ser disputada no seco e o alemãozinho, uma Cinderela esvoaçante nesta noite, começará a virar abóbora amanhã a partir das duas da tarde.

Mas não faz mal. Já fez muito. Uma pole histórica, como foram as de Rubens na Jordan e na Stewart, de Vettel na Toro Rosso, de Fisichella na Force India, de Kubica na BMW Sauber…

Incrível, esse Hülk aí.