Blog do Flavio Gomes
Autódromos

AS PISTAS

SÃO PAULO (1 de 4) – A curva do Café não pode ser responsabilizada sozinha pelas mortes de Sondermann e Sperafico. Ela existe há 70 anos. Só que os carros que corriam há 70 anos eram bem diferentes dos de hoje. Por isso, o Café não precisa ser exterminado. Precisa, sim, ser estudado. Do que […]

SÃO PAULO (1 de 4) – A curva do Café não pode ser responsabilizada sozinha pelas mortes de Sondermann e Sperafico. Ela existe há 70 anos. Só que os carros que corriam há 70 anos eram bem diferentes dos de hoje. Por isso, o Café não precisa ser exterminado. Precisa, sim, ser estudado.

Do que estou falando? Da criação de traçados alternativos em Interlagos. Adequados às categorias que lá correm.

Para um monoposto, como um F-1 ou um F-3, o Café não é um grande problema. A pressão aerodinâmica desses carros é enorme e mesmo que ele tenda a escapar para o lado de fora da pista, isso acontece de uma maneira bem menos acentuada do que numa trapizonga como os tubulares estoqueanos. A FIA mandou mexer no muro para que em caso de batida ali, os carros da F-1 deem uma lambida na parede e fique por isso mesmo. É assim nos ovais americanos. É assim em muitas outras pistas que têm “retas-curvas” com muros próximos. Quanto mais próximos, melhor. Menor é o risco de ricochetear.

Ah, mas o Webber se estampou lá em 2003, e o Alonso também. Verdade, mas é bom que se lembre que chovia copiosamente. Webber escorregou e bateu. Alonso acertou um pneu no meio da pista. O problema, ali, é para outro tipo de carro. Não é coincidência que, recentemente, tenham morrido dois em tubulares e um numa moto. No caso das duas rodas, em 1992, quando houve uma etapa do Mundial em Interlagos, mandaram fazer uma chicane. Pronto, resolveu.

Vi hoje o sensacionalismo explícito no site Globo.com, com o título “O apelo de um pai”, algo assim. Era um texto do Galvão Bueno clamando por uma área de escape no Café. Entendo a preocupação do Galvão. Seus dois filhos correm nas cadeiras elétricas da Estoque (sobre elas, e outros carros, falo em outro post). Mas, tecnicamente, é uma bobagem. Área de escape ampla se constroi onde se chega em alta velocidade, não por onde se passa em alta velocidade. Onde tem freada. Ou, em casos isolados, em curvas como o Laranjinha — que além de cega, tem espaço para tal.

Fazer uma área de escape no Café é como mandar cercar um oval de asfalto e afastar as arquibancadas todas por dez ou vinte metros. Interlagos é, dentro do possível, uma pista segura. Tem esse ponto crônico do Café, que pode ser resolvido para algumas categorias com uma chicane como a proposta abaixo pelo Leonardo de Souza; tinha a antiga entrada da Reta Oposta, onde Berger bateu e o muro foi recuado; tem a segunda perna do S do Senna, com guard-rail muito próximo. E não muito mais. As áreas de escape asfaltadas são eficientes e, no geral, é um circuito que atende aos padrões da FIA, que não são pouco rigorosos.

Como dito acima, é preciso, porém, adequar o circuito às várias categorias que correm lá. A MotoGP, por exemplo, não vem mais por causa do Café. A Dorna já propôs, até, correr no sentido horário. Mas isso implicaria a realização de obras monstruosas. Mesmo assim, continua-se a correr de motocicleta em Interlagos, sem preocupação com o risco absurdo no Café — que matou um fotógrafo num “track day” no começo do ano.

Para a F-1, repito, o Café não representa mais riscos do que os muros de Melbourne ou Montreal. Riscos minimizados pelo downforce dos carros. Para veículos que desgarram fácil e de construção frágil, sim, é um ponto crítico.

Que se faça logo uma chicane. E o problema, ao menos dessa pista, está resolvido.

Das outras usadas no Brasil, aí é outra conversa. Tem lugar que é, de fato, perigoso demais para receber certos carros/motos/caminhões. Mas e a CBA se importa com isso?