Blog do Flavio Gomes
F-1

PALAVRA DE NEWEY

SÃO PAULO (de quem estava lá) – As declarações de Adrian Newey ao “The Guardian” jogam novos elementos na discussão sobre as causas do acidente que matou Ayrton Senna. Ele fala num pneu furado, o direito traseiro. Foi hipótese cogitada na época, assim como uma quebra de suspensão e, depois, de acordo com a perícia, […]

SÃO PAULO (de quem estava lá) – As declarações de Adrian Newey ao “The Guardian” jogam novos elementos na discussão sobre as causas do acidente que matou Ayrton Senna. Ele fala num pneu furado, o direito traseiro. Foi hipótese cogitada na época, assim como uma quebra de suspensão e, depois, de acordo com a perícia, a quebra da coluna de direção no ponto onde fora soldada a pedido do piloto (que gostava de um volante maior e, por isso, a coluna teve sua posição alterada, sendo necessária uma emenda meio porca). Falou-se também em suicídio e ataque cardíaco. Falou-se de tudo.

Claro que na Williams alguém deve saber exatamente o que aconteceu. Não é muito difícil, com os recursos de telemetria que já na época estavam disponíveis, estabelecer a sequência de eventos que levaram à batida. Que a coluna quebrou, todos sabem e viram. Mas foi antes da pancada no muro? Depois?

Newey, projetista do carro, é um desses que devem conhecer a verdade, ou algo próximo dela. Por que, 17 anos depois, vem à tona a história do pneu que furou, ou perdeu pressão atrás do lerdo e estreante safety-car?

Não sei. Talvez porque o repórter tenha perguntado. Newey não tem cara de mentiroso. Talvez tenha dado uma pista sobre a verdade que nunca ninguém lhe perguntou.

Eu ouvi várias dessas verdades. Lá por 1995 ou 1996, estava hospedado no mesmo hotel que Emanuelle Pirro, ex-piloto que fez parte da equipe que redigiu o relatório final sobre as causas do acidente. A gente estava em Malmedy, na Bélgica, num conjunto de chalés onde muita gente se hospedava. De noite, enchíamos a cara de cerveja belga e jogávamos ping-pong e sinuca. Numa dessas noitadas, fiquei horas falando com Pirro. Ele me contou, depois de algumas dezenas de Mort Subite (procurem no Google), que a perícia estava chegando à seguinte resposta: a Williams teria um sistema de direção hidráulica controlada eletronicamente que era proibido naquele ano. O sistema entrou em pane, o carro perdeu o controle  e Senna arrebentou a coluna de direção no braço.

Não sabia se dava muito crédito àquilo, depois de uma noitada de cerveja, tabaco e jogatina. Foi com aquela verdade que fui dormir naquela noite no meu chalé gelado nas Ardènnes. Hoje, adormecerei com essa do pneu que furou. Amanhã, quem sabe?

Um dia alguém conta o que aconteceu.