Blog do Flavio Gomes
F-1

AQUELES DOMINGOS

SÃO PAULO (lá vem…) – 2 de junho de 1991. Hoje faz 20 anos da última vitória de Piquet na F-1. Como pude esquecer? Ainda bem que me lembraram pelo Twitter. E a mesma alma caridosa me mandou esta primeira página do caderno de esportes do “Jornal da Tarde” aí embaixo, que lembra que o […]

SÃO PAULO (lá vem…) – 2 de junho de 1991. Hoje faz 20 anos da última vitória de Piquet na F-1. Como pude esquecer? Ainda bem que me lembraram pelo Twitter. E a mesma alma caridosa me mandou esta primeira página do caderno de esportes do “Jornal da Tarde” aí embaixo, que lembra que o triunfo representava a sétima vitória consecutiva de brasileiros no Mundial. Foram duas de Nelson em 1990 (Japão e Austrália, ambas pela Benetton), quatro de Senna em 1991 (EUA, Brasil, San Marino e Mônaco pela McLaren) e Piquet de novo em Montreal, também com a Benetton. Notem a cobertura do “JT”: seis páginas, mais a capa do caderno de esportes!

Outros tempos, não?

Essa corrida do Canadá foi histórica porque Mansell liderou de ponta a ponta e na última volta parou ninguém sabe direito por quê. Dizem que ao acenar para a torcida alegremente desligou a chave geral do carro. Nunca foi devidamente esclarecida a questão.

(O vídeo aí no alto está com as imagens invertidas, não sei por quê. Mas enquanto não achar outro, vai esse mesmo, porque tem a narração original da Globo.)

Não estive naquela prova. Eram meus últimos dias como editor de Esportes da “Folha”, já estava decidido que o Mario Andrada e Silva, que estava voltando de Paris, iria assumir a editoria e eu iria par seu lugar como repórter especial. A corrida seguinte, no México, foi minha primeira como correspondente exclusivo para a F-1. Detalhe irrelevante, mas é que me lembrei disso agora.

Nelson deixaria a F-1 no fim daquele ano, o mesmo da estreia de Schumacher pela Jordan na Bélgica. Na etapa seguinte, em Monza, ele passaria a ocupar o lugar de Roberto Moreno na Benetton e, dizem também, aposentou Piquet. Claro que não foi assim tão simples. Nelson já estava mesmo pensando em parar e a chegada do alemão talvez tenha precipitado as coisas, porque o tricampeão não recebeu nenhuma boa proposta para continuar e acabou optando pela retirada sem grandes dramas. Aí foi disputar as 500 Milhas em Indianápolis, houve o terrível acidente  nos treinos, voltou ao IMS em 1993, de muletas, e o resto é história.

Piquet sempre foi um piloto excepcional e um personagem idem. Nos meus primeiros anos de F-1, ele estava mais arredio do que de costume porque tinha deixado a Williams, pegou uma Lotus capenga, Senna começou a fazer muito sucesso, aquelas coisas. Mas ele tinha atitudes que julgo inesquecíveis e fazem parte do meu pequeno rol de historietas pouco importantes que guardo com carinho.

Em 1989, eu já tinha começado com esse negócio de correr de carro antigo e estava fazendo uma carretera DKW. Meu mecânico era o Miguel Crispim, gênio da Vemag que, nos anos 70, foi uma espécie de pai de Piquet na Fórmula-Vê. Nelson vinha de Brasília numa Kombi, muitas vezes não tinha onde dormir, ficava com o Crispim, que o ajudava nos boxes, os dois ficaram amigos do peito.

Aí eu estava em Monza para a corrida, cruzei com o Nelson no paddock, ele estava puto porque tinha andado mal no treino, algo assim, mas o chamei. “Nelson, Nelson!”, e ele, apressado, “Não enche o saco, baixinho”, e eu: “Hei, não quero te entrevistar, não”. Tirei um pequeno papel do bolso, dei a ele e disse: “Ó, o Crispim mandou te entregar, é o telefone dele, pediu pra você ligar”. Piquet parou na hora, abriu um sorriso luminoso, pegou o papel e falou, “Puta que pariu, onde anda o negão, você tem falado com ele?”, e a gente ficou conversando um tempão sobre meu DKW, sobre a oficina do Crispim na Saúde e tudo mais.

Grande Nelson.