Blog do Flavio Gomes
F-1

TRI, 20

SÃO PAULO (e assim se passaram…) – Diz a lenda que Mansell, quando entrou na reta, disse a seu engenheiro, pelo rádio: “I’m cruising, guys”. Era a abertura da décima volta do GP do Japão naquele 20 de outubro de 1991. Céu de brigadeiro para o inglês, que estava atrás da dupla da McLaren, o […]

SÃO PAULO (e assim se passaram…) – Diz a lenda que Mansell, quando entrou na reta, disse a seu engenheiro, pelo rádio: “I’m cruising, guys”. Era a abertura da décima volta do GP do Japão naquele 20 de outubro de 1991. Céu de brigadeiro para o inglês, que estava atrás da dupla da McLaren, o “coelho” Berger e Senna logo atrás. A Williams, àquela altura, já tinha um carro melhor que os rivais. A vitória era possível, sair de Suzuka com chances de ganhar o Mundial era uma possibilidade concreta. A superioridade dos carros de outro planeta seria plenamente confirmada no ano seguinte, com um massacre do Leão.

A corrida era longa e Mansell tinha tempo para atacar, por isso fez questão de dizer à equipe que estava tudo bem, era só comecinho de prova e o ritmo era bom. Mas segundos depois de tranquilizar o time pelo rádio foi parar na brita, em mais uma de suas trapalhadas. E Senna faturou o tri sem ter de enfrentar o assédio de Nigel.

Depois, passou Berger e, na última volta, entregou a posição ao escudeiro a pedido da equipe. Foi o momento do famoso “eu sabia!” de Galvão Bueno. Ayrton não gostou muito da história de deixar o outro ganhar, mas tudo bem. Com seis vitórias na temporada, quatro delas num arrasador início de campeonato, já tinha assegurado o título. A reação de Mansell dera-se a partir da metade do ano, depois de um começo desastroso, zerado nas três primeiras etapas. Sair perdendo de 30 a 0 não era mesmo muito animador. Chegar às últimas provas lutando pelo título era quase lucro.

Hoje faz 20 anos que um piloto brasileiro ganhou um campeonato do mundo. De lá para cá foram três vices, dois de Barrichello e um de Massa, tudo na Ferrari. Mas apenas uma briga direta, com Felipe em 2008 — Rubens nunca lutou verdadeiramente pelo título, nem com Schumacher, nem com Button, apesar de ter um carro que nas mãos do companheiro foi campeão.

Duas décadas sem uma taça é algo que, claro, tem alguma explicação. Ainda mais quando tal jejum se segue a um período de 20 anos de muito sucesso, com oito conquistas entre 1972 e 1991 e outros tantos vices (quantos, mesmo? Acho que seis, mas estou com preguiça de procurar). A explicação é óbvia: o automobilismo nacional acabou, internamente não temos nada que preste, os autódromos viraram ruínas, os dirigentes se preocupam com coquetéis e carteirinhas.

Quando vai aparecer um novo Senna?, é o que mais ouço de transeuntes que não ligam muito para corridas mas aguardam ansiosos por alguém que alegre nossas manhãs de domingo para que possam voltar a ligar para as corridas. Não há nada no horizonte, respondo, sem me estender muito. Porque se tiver de elaborar uma resposta mais detalhada, terei de dizer que não só não existe um novo Senna no horizonte, como também não há um novo Rubinho, ou um novo Massa. No horizonte do automobilismo brasileiro não há nada, para ser sincero.

Senna foi um dos grandes e esse título de 1991 foi o mais fácil dos três que conquistou. No vídeo acima gosto especialmente do finzinho, quando outros carros chegam no brasileiro na volta de retorno aos boxes e, respeitosamente, escoltam a McLaren do novo tricampeão. Pilotos, por mais que todos se achem melhores que os outros, respeitam aqueles que julgam especiais.