Blog do Flavio Gomes
F-1

DOWN UNDER (2)

SÃO PAULO (tudo torto) – Foi no fim do primeiro dia da primeira bateria de testes de pré-temporada que todos se entreolharam no escritório da equipe, e aí as versões variam, e alguém disse: fodeu. As versões variam porque é claro que nem todos disseram a mesma palavra, talvez só um, mas o sentido era […]

SÃO PAULO (tudo torto) – Foi no fim do primeiro dia da primeira bateria de testes de pré-temporada que todos se entreolharam no escritório da equipe, e aí as versões variam, e alguém disse: fodeu. As versões variam porque é claro que nem todos disseram a mesma palavra, talvez só um, mas o sentido era esse mesmo.

Um carro de Fórmula 1 só se conhece de verdade na pista, por mais sofisticados que sejam os atuais simuladores — esses que parecem videogame, ao menos os que alguns programas de TV mostram como se fossem o auge da tecnologia, a mim parecem apenas isso, videogames; há simuladores melhores e mais precisos, que a TV não mostra nunca.

Ainda mais hoje em dia, nesta era dos testes limitados e tal. Quando eles eram liberados, fazia-se a mesmíssima coisa. Um cabra tinha umas ideias, colocava no papel e no computador, os softwares avaliavam se aquilo poderia dar certo, um modelo em escala era produzido e colocado no túnel de vento, e milhões de dados coletados depois, o carro ia para a pista e andava muito antes de começar o campeonato. Não era raro dar tudo ao contrário, e aí entrava a sensibilidade do piloto, a criatividade dos engenheiros, o conhecimento técnico para a busca de soluções. Nenhuma equipe grande chegava ao primeiro treino livre oficial de uma temporada sem ter mexido no carro loucamente.

A Ferrari, nos tempos de Schumacher, testava mais do que ninguém. Tinha um circuito no quintal. O alemão trabalhava de sol a sol e tudo que tinha de ser corrigido antes de começar o campeonato era. Agora, se o bicho sai errado, não há tempo para encontrar o novo rumo. É o caso. E piloto, depois de duas ou três voltas num carro, sabe dizer se ele é bom ou não. No caso da F2012, o diagnóstico em Jerez foi: fodeu.

Bem, o primeiro treino no seco em condições normais com todo mundo na pista aconteceu agora há pouco e a Ferrari ficou em 16° e 18°. A esta altura, em Melbourne, o pior dos cenários para o time maranéllico é não passar nem do Q1. Quase impossível, considerando que quatro carros serão eliminados só por terem nascido, os marússios e os hispânicos. Mas olha… Dá para apostar que Alonso e Massa passam ao Q2, afinal não é possível que o carro seja tão ruim, mas eu não jogaria um dólar australiano na passagem para o Q3. Olhando de fora, a delicadeza da F2012 na pista lembrou muito o Meianov, todo quadrado, apanhando para fazer curva, instável, irascível, um cavalo xucro.

Para quem torce pela Ferrari, vai ser um ano de amargar. Para quem gosta de ver o circo pegar fogo, vai ser uma delícia. Ah, e quem me contou da tal primeira reunião no fim do primeiro treino foi alguém que vocês conhecem, e que neste ano ocupa uma posição de destaque no time.

Não posso revelar seu nome, aqui ele é apenas o Gola Profonda.