E depois de duas corridas, Alonso é o líder do Mundial.
Como é a vida, não?
Bem, Alonso venceu o GP malaco, estava feliz e radiante, mas não é burro. Sabe que esse carro aí está longe de ser algo que preste. Eu não queria nem de graça. Talvez para a GP2. “Precisamos ganhar em condições normais. Não em condições como as de hoje.”
“As de hoje” em Sepang foram o que se chama de extremas. Faltando 20 minutos para a largada, começou a chover fraco. Na volta de apresentação, já tinha piloto querendo colocar pneu para seco. Mas quando largaram, desabou um puta toró.
Apesar da tempestade, Hamilton e Button, os dois da primeira fila, se seguraram na boa. E os apressadinhos que queriam slicks avisaram pelo rádio que era melhor providenciar botes salva-vidas. Começaram as trocas para pneus de chuva brava, sendo Pérez e Senninha os primeiros a trocar — o brasileiro porque tinha tocado em Maldonado e parou antes do previsto. O chicano porque é espertoman.
Na sétima volta, estavam quase todos calçados com a borracha mais apropriada para os programas do Datena. Menos Vergne e Karthikeyan. Aí Button entrou no rádio para comentar, de forma até lúdica, quando perguntado sobre as condições da pista, que o último setor estava “like a lake”.
Dá até música, “Like a Lake”. O fato é que era tanta água que pararam tudo. Safety-car na frente do pelotão, duas voltas e bandeira vermelha. Para essa merda toda. Hamilton seguia na liderança, com Button em segundo e o espertinho do Pérez em terceiro, porque aproveitou mais do que ninguém os pneus para pista muito molhada, já que trocou antes. Ganhou um caminhão de posições quando os outros pararam.
O mais impressionante nessa interrupção foram as tendas armadas no grid, enormes, com duas salas, copa, cozinha, dois quartos, uma suíte, home-theater, dependências de empregada e terraço gourmet. Mas uma vaga apenas. Tudo para os pilotos não tomarem chuva. Alguns times, os mais pobrinhos, tiveram de se virar com guarda-chuvas chineses, aqueles de 5 reais que estavam vendendo na arquibancada.
Foi então que alguém se perguntou: e aí, quem está atrás do Alonso, afinal? Porque estava claro que Alonso não iria ganhar nada, e sendo assim, o vencedor seria o segundo colocado. Pérez. Acreditam? Pérez.
Putz, o Pérez vai ganhar, muchachos! E aí a prova ficou bacana demais, com o mexicano partindo para cima, reduzindo a diferença volta a volta, até que começou a secar de verdade, Ricciardo foi a primeira cobaia a colocar slicks, começou a virar 5s mais rápido que os outros, e os outros pararam também. Slicks pra todo mundo.
Há quem acredite que foi mensagem cifrada. Na linha “Fernando is faster than you”. Besteira. Por quê? Porque a Sauber compra motor da Ferrari? E daí? O que aconteceria se Serginho passasse Fernandinho? A Ferrari iria parar de vender? Iria aumentar o preço acima da inflação? Iria cobrar mais pela revisão? Iria reduzir a garantia? A Sauber não tem motivo nenhum para abrir mão de uma vitória contra ninguém. Fosse um embate Red Bull x Toro Rosso, poderia até ser — embora não seja o perfil do nenhuma das duas. Mas a Sauber, não. Bobagem.
Prefiro a tese do João Paulo de Oliveira, que pelo Twitter disse que o engenheiro não tinha de dizer nada, que não se deve desconcentrar um piloto nessa situação. Checo ia ganhar a corrida. Entusiasmou-se demais, talvez, se desconcentrou, saiu da pista, chegou em segundo. E Alonso se livrou de um passão nas últimas voltas pela segunda vez no ano. Na Austrália, foi Maldonado que bateu quando estava chegando para jantar o espanhol. Os caras se assustam, deve ser isso.
Checo dedicou o segundo lugar à cadelinha Frida, que morreu há alguns dias, a Carlos Slim, o bilionário dono da Claro e da Telmex que o patrocina, e a Deus. Nessa ordem. Tem coisa mais fofa? Gracinha, diria a Hebe. Puta piloto, digo eu. Deu dobradinha da Ferrari, dirá o mais maldoso.
Foi um baita resultado para Pérez, piloto atrelado à Ferrari e preferido da imprensa italiana para assumir logo um dos carros vermelhos. Primeiro pódio mexicano desde o segundo lugar de Pedro Rodriguez em Zandvoort, 1971. Na chuva. Com uma Ferrari em primeiro, a de Jacky Ickx. Coincidências demais.
Menos de um. Massa.
Putz. Como foi mal, Massa. Começou até de maneira razoável, estava em oitavo quando a prova foi interrompida, mas depois começou a despencar, despencar, despencar, todo mundo o ultrapassava, os pneus acabavam, e chegou uma hora que, depois de demorar para passar Petrov, o que é inaceitável, viu-se à frente apenas dos nanicos. Na prática, pois, em último. Com o companheiro em primeiro. Aí faltam argumentos para defender Felipe. Tem alguma coisa muito errada com ele.
Em compensação, o primeiro-sobrinho fez uma corridaça. Se começou mal, caindo para último quando teve de ir aos boxes logo no início, depois da relargada o rapaz foi um leão. Passou quem viu pela frente, foi passado e passou de novo, partiu para cima, não cometeu erros, e chegou em sexto. Um resultado brilhante, e se Bruno acertar nas classificações, pode começar a sonhar mais alto porque a Williams, incrivelmente, fez um carro muito bom para 2012. Maldonado teve um domingo menos feliz, até pelo toque de Senninha na largada, mas estava já em décimo quando o motor quebrou, na última volta. É meio cagado, esse Maldonado. Mas muito rápido.
E para terminar, a Red Bull. Putz. O que aconteceu com esses caras? OK, Webber foi o de sempre. Mas e Tião? Bateu no Karthikeyan também e furou o pneu. No fim da corrida, pelo rádio, a equipe mandou abandonar. Depois desistiu. Depois mandou de novo. “Emergência!”, gritaram pelo rádio. O que encontraram? Uma granada na entrada de ar? Um foco de mosquitos da dengue?
Coisa mais esquisita, sô.
Quem ouvir um compacto da corrida transmitida pela rádio Estadão-ESPN com meus comentários? Clique aqui: F1-2503-COMPACTO.mp3">GP MALASIA F1 2503 COMPACTO