Blog do Flavio Gomes
F-1

SAUDOSAS MALACAS (4)

SÃO PAULO (legal demais) – A Ferrari fez um dos piores carros dos últimos tempos. O bicho não anda, a equipe admite, os pilotos choramingam, a imprensa corneta. E depois de duas corridas, Alonso é o líder do Mundial. Como é a vida, não? Bem, Alonso venceu o GP malaco, estava feliz e radiante, mas […]

SÃO PAULO (legal demais) – A Ferrari fez um dos piores carros dos últimos tempos. O bicho não anda, a equipe admite, os pilotos choramingam, a imprensa corneta.

E depois de duas corridas, Alonso é o líder do Mundial.

Como é a vida, não?

Bem, Alonso venceu o GP malaco, estava feliz e radiante, mas não é burro. Sabe que esse carro aí está longe de ser algo que preste. Eu não queria nem de graça. Talvez para a GP2. “Precisamos ganhar em condições normais. Não em condições como as de hoje.”

“As de hoje” em Sepang foram o que se chama de extremas. Faltando 20 minutos para a largada, começou a chover fraco. Na volta de apresentação, já tinha piloto querendo colocar pneu para seco. Mas quando largaram, desabou um puta toró.

Apesar da tempestade, Hamilton e Button, os dois da primeira fila, se seguraram na boa. E os apressadinhos que queriam slicks avisaram pelo rádio que era melhor providenciar botes salva-vidas. Começaram as trocas para pneus de chuva brava, sendo Pérez e Senninha os primeiros a trocar — o brasileiro porque tinha tocado em Maldonado e parou antes do previsto. O chicano porque é espertoman.

Na sétima volta, estavam quase todos calçados com a borracha mais apropriada para os programas do Datena. Menos Vergne e Karthikeyan. Aí Button entrou no rádio para comentar, de forma até lúdica, quando perguntado sobre as condições da pista, que o último setor estava “like a lake”.

Dá até música, “Like a Lake”. O fato é que era tanta água que pararam tudo. Safety-car na frente do pelotão, duas voltas e bandeira vermelha. Para essa merda toda. Hamilton seguia na liderança, com Button em segundo e o espertinho do Pérez em terceiro, porque aproveitou mais do que ninguém os pneus para pista muito molhada, já que trocou antes. Ganhou um caminhão de posições quando os outros pararam.

O mais impressionante nessa interrupção foram as tendas armadas no grid, enormes, com duas salas, copa, cozinha, dois quartos, uma suíte, home-theater, dependências de empregada e terraço gourmet. Mas uma vaga apenas. Tudo para os pilotos não tomarem chuva. Alguns times, os mais pobrinhos, tiveram de se virar com guarda-chuvas chineses, aqueles de 5 reais que estavam vendendo na arquibancada.

Foram 51 minutos de lenga-lenga para que a corrida recomeçasse. Num passe de mágica, as enormes barracas desapareceram. Com menos chuva, saiu todo mundo atrás do safety-car. Quando o dito cujo saiu da frente, sete pilotos foram para os boxes colocar intermediários correndo, porque estava secando. A McLaren se atrapalhou com Hamilton, que se atrapalhou com o mundo, e Alonso ganhou sua posição. Button fez uma de suas raras barbeiragens, bateu em Karthikeyan (que estava à sua frente de verdade!), teve de trocar pneu de novo e estragou sua corrida.

Foi então que alguém se perguntou: e aí, quem está atrás do Alonso, afinal? Porque estava claro que Alonso não iria ganhar nada, e sendo assim, o vencedor seria o segundo colocado. Pérez. Acreditam? Pérez.

Putz, o Pérez vai ganhar, muchachos! E aí a prova ficou bacana demais, com o mexicano partindo para cima, reduzindo a diferença volta a volta, até que começou a secar de verdade, Ricciardo foi a primeira cobaia a colocar slicks, começou a virar 5s mais rápido que os outros, e os outros pararam também. Slicks pra todo mundo.

Pérez parou uma volta depois de Alonso, perdeu uma meia-dúzia de segundos, e começou a remar tudo de novo. Fernandinho ia se virando do jeito que dava com aquela carroça inguiável, e na volta 49 o engenheiro entrou no rádio do nosso teen asteca para dar um toque: “Checo, toma cuidado, meu filho. Calma. Essa posição é muito importante para nós”. Foi só falar e o pobre diabo escapou da pista. Conseguiu voltar, mas terminou em segundo.

Há quem acredite que foi mensagem cifrada. Na linha “Fernando is faster than you”. Besteira. Por quê? Porque a Sauber compra motor da Ferrari? E daí? O que aconteceria se Serginho passasse Fernandinho? A Ferrari iria parar de vender? Iria aumentar o preço acima da inflação? Iria cobrar mais pela revisão? Iria reduzir a garantia? A Sauber não tem motivo nenhum para abrir mão de uma vitória contra ninguém. Fosse um embate Red Bull x Toro Rosso, poderia até ser — embora não seja o perfil do nenhuma das duas. Mas a Sauber, não. Bobagem.

Prefiro a tese do João Paulo de Oliveira, que pelo Twitter disse que o engenheiro não tinha de dizer nada, que não se deve desconcentrar um piloto nessa situação. Checo ia ganhar a corrida. Entusiasmou-se demais, talvez, se desconcentrou, saiu da pista, chegou em segundo. E Alonso se livrou de um passão nas últimas voltas pela segunda vez no ano. Na Austrália, foi Maldonado que bateu quando estava chegando para jantar o espanhol. Os caras se assustam, deve ser isso.

Checo dedicou o segundo lugar à cadelinha Frida, que morreu há alguns dias, a Carlos Slim, o bilionário dono da Claro e da Telmex que o patrocina, e a Deus. Nessa ordem. Tem coisa mais fofa? Gracinha, diria a Hebe. Puta piloto, digo eu. Deu dobradinha da Ferrari, dirá o mais maldoso.

Foi um baita resultado para Pérez, piloto atrelado à Ferrari e preferido da imprensa italiana para assumir logo um dos carros vermelhos. Primeiro pódio mexicano desde o segundo lugar de Pedro Rodriguez em Zandvoort, 1971. Na chuva. Com uma Ferrari em primeiro, a de Jacky Ickx. Coincidências demais.

E é mesmo um negócio inacreditável, o Alonso. A Ferrari até escreveu “mágico” numa placa para ele. Se eu trabalhasse na equipe, escreveria “El Fodón”. Não se aperta, tem momentos de gênio, consegue com uma bomba sobre rodas sair da segunda corrida do ano na liderança do campeonato. Vale cada centavo que lhe pagam. Como vale Vettel, como vale Schumacher. O cara salvou o pescoço de todo mundo em Maranello.

Menos de um. Massa.

Putz. Como foi mal, Massa. Começou até de maneira razoável, estava em oitavo quando a prova foi interrompida, mas depois começou a despencar, despencar, despencar, todo mundo o ultrapassava, os pneus acabavam, e chegou uma hora que, depois de demorar para passar Petrov, o que é inaceitável, viu-se à frente apenas dos nanicos. Na prática, pois, em último. Com o companheiro em primeiro. Aí faltam argumentos para defender Felipe. Tem alguma coisa muito errada com ele.

Em compensação, o primeiro-sobrinho fez uma corridaça. Se começou mal, caindo para último quando teve de ir aos boxes logo no início, depois da relargada o rapaz foi um leão. Passou quem viu pela frente, foi passado e passou de novo, partiu para cima, não cometeu erros, e chegou em sexto. Um resultado brilhante, e se Bruno acertar nas classificações, pode começar a sonhar mais alto porque a Williams, incrivelmente, fez um carro muito bom para 2012. Maldonado teve um domingo menos feliz, até pelo toque de Senninha na largada, mas estava já em décimo quando o motor quebrou, na última volta. É meio cagado, esse Maldonado. Mas muito rápido.

Bem também foi Raikkonen, quinto colocado, dono da melhor volta da prova. E a Force India, com seus dois pilotos nos pontos, em sétimo e nono (Resta Um e o Incrível Hulk). Verme ficou em oitavo, fazendo seus primeiros pontos na F-1. E nunca mais falo bem ou aposto nada na Mercedes. Schumacher ficou em décimo porque Maldonado quebrou e Rosberguinho, nem sei onde chegou. Depois que um quero-quero passou por ele sem asa móvel, após uma sequência de pilotos riscando a carenagem prateada do carro bonito, mas ordinário, desisti. Já tomava nabo da Auto Union nos anos 30, por que vai começar a andar agora? Desisti dessa Mercedes. Marca que faz ônibus e carro, um dos dois não faz direito.

E para terminar, a Red Bull. Putz. O que aconteceu com esses caras? OK, Webber foi o de sempre. Mas e Tião? Bateu no Karthikeyan também e furou o pneu. No fim da corrida, pelo rádio, a equipe mandou abandonar. Depois desistiu. Depois mandou de novo. “Emergência!”, gritaram pelo rádio. O que encontraram? Uma granada na entrada de ar? Um foco de mosquitos da dengue?

Coisa mais esquisita, sô.

Quem ouvir um compacto da corrida transmitida pela rádio Estadão-ESPN com meus comentários? Clique aqui: F1-2503-COMPACTO.mp3">GP MALASIA F1 2503 COMPACTO