Blog do Flavio Gomes
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IMAGINEM HOJE

SÃO PAULO (nem pensar) – Acho que já contei que até hoje pedi autógrafos para apenas três pilotos na vida, em condições bem especiais. Um deles é o Marinho, o melhor de todos, o #10 da Vemag. Num livro. O outro foi Schumacher, na última corrida de 2006. Era sua despedida da F-1 (a volta […]

SÃO PAULO (nem pensar) – Acho que já contei que até hoje pedi autógrafos para apenas três pilotos na vida, em condições bem especiais. Um deles é o Marinho, o melhor de todos, o #10 da Vemag. Num livro. O outro foi Schumacher, na última corrida de 2006. Era sua despedida da F-1 (a volta em 2010 desvalorizou o material barbaramente, canalha, tratante, safardana) e apresentei uma coletiva para a Ferrari antes da corrida. Pedi que ele assinasse a camiseta que usei no evento e também minha credencial. O terceiro foi sir Jackie Stewart. E foi um caso engraçado.

Acho que foi em 2004 ou 2005, e eu tinha acabado de comprar uma coleção de “4 Rodas” antigas. Levei algumas na viagem para Indianápolis, porque gosto de ler no avião. Uma delas era essa aí da foto. A edição, de fevereiro de 1970. Não sei bem o que Stewart, já campeão mundial de F-1, estava fazendo no Brasil em fevereiro de 1970. Mas sei que a revista o convidou para testar carros brasileiros: Opala, Corcel, LTD, Volks 1600, Variant, Dart e Puma. O quarto da lista, para quem não sabe, é o Zé do Caixão, e eu tinha um. Se arrependimento matasse…

Pelo texto de apresentação da matéria, o escocês foi trazido ao Brasil especialmente para fazer esses testes. Será? Qual seria o cachê, por exemplo, para se trazer Vettel ao Brasil hoje para testar um Palio, um Celta, um Gol e um Fiesta?

Como a “4 Rodas” disponibilizou seu arquivo eletronicamente (a edição de fevereiro de 1970 está aqui), a única coisa boa que a editora Abril fez nos últimos 20 anos, é possível ler suas impressões ao dirigir cada um deles. Jackie gostou mais do Opala e do Corcel. Achou o Zé do Caixão “de gosto discutível”. Humpf. E disse que se morasse no Brasil, teria um Puma.

Sei que cruzei com Jackie no paddock e lembrei que a revista estava comigo. Falei que iria trazê-la do hotel no dia seguinte e assim foi. Ele ficou sinceramente espantado. Não sei bem com quê. Se com o estado da revista, zerada, se com o fato de um louco ainda ter um exemplar depois de mais de 30 anos, se com o fato de um louco ainda ter um exemplar depois de mais de 30 anos e cobrir F-1, se com o fato de um louco ainda ter um exemplar depois de mais de 30 anos, cobrir F-1 e estar em Indianápolis, ou se com o fato de um louco ainda ter um exemplar depois de mais de 30 anos, cobrir F-1, estar em Indianápolis e ter levado a revista na bagagem.

O fato é que havia um louco que ainda tinha aquela revista, cobria F-1, estava em Indianápolis e tinha levado a revista com ele, e, assim, foi com alegria que Stewart assinou a capa (preço para venda, caso interesse a alguém: 300 mil. Dólares. Não, euros) e ainda gastou alguns minutos folheando-a e lembrando dos carros. Deteve-se no Zé do Caixão, porque disse a ele que tinha um, e aí Jackie ficou realmente espantado com o fato de um louco ter um exemplar intacto depois de mais de 30 anos, cobrir F-1, estar em Indianápolis, ter levado a revista na bagagem e, de quebra, ser o proprietário de um Zé do Caixão.

Mas acho que se espantou, mesmo, com o fato de um dia, mais de 30 anos atrás, ter ido ao Brasil para andar num negócio daqueles na condição de campeão mundial de F-1. Expliquei o nome, Zé do Caixão, mas não sei se ele entendeu. A tradução para “Coffin Joe” foi algo meio espantoso para aquele simpático senhor de highlands.