Blog do Flavio Gomes
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À CASA TORNA

SÃO PAULO (e nem me avisaram!) – Vejam que baita notícia nos manda o blogueiro Mario Ruiz. A Audi comprou o último Auto Union Type D 1939 que estava nas mãos de um colecionador privado. Essa é uma das maiores histórias de arqueologia automotiva de que se tem notícia. Quando estourou a Segunda Guerra, a […]

SÃO PAULO (e nem me avisaram!) – Vejam que baita notícia nos manda o blogueiro Mario Ruiz. A Audi comprou o último Auto Union Type D 1939 que estava nas mãos de um colecionador privado.

Essa é uma das maiores histórias de arqueologia automotiva de que se tem notícia. Quando estourou a Segunda Guerra, a Auto Union escondeu seus carros de corrida numa mina de carvão em Zwickau. Apenas um Type C ficou exposto — literalmente, porque foi enviado para o Deutsches Museum de Munique antes do conflito; acabou bombardeado, mas foi restaurado e está com a Audi.

Com o fim da guerra e a divisão da Alemanha em áreas de controle dos vencedores aliados, toda a região da Saxônia, onde fica Zwickau, caiu sob administração soviética. Os carros foram encontrados debaixo da terra e levados para a URSS. Sumiram. Alguns foram levados a Moscou, desmontados e/ou destruídos. Os soviéticos queriam estudar e absorver a tecnologia daqueles monstrengos capazes de atingir velocidades de até 400 km/h, os grandes vencedores de corridas dos anos 30 ao lado das outras flechas de prata da Mercedes — que conseguiu preservar várias unidades. Há um relato bem detalhado que publiquei aqui no blog em janeiro do ano passado.

Em 1970, um sérvio radicado nos EUA de nome Paul Karassik, colecionador de carros de corrida antigos e obcecado pelos Auto Union que vira correr em Belgrado em 1939, partiu atrás das flechas de prata das quatro argolas. Acabou encontrando dois, um na Rússia e outro na Ucrânia. Comprou ambos e contrabandeou-os para o Ocidente, em partes, usando furgões e carros particulares. Mandou tudo para a Flórida, onde morava, e em 1990 enviou os restos mortais de ambos para a firma inglesa Crosthwaite & Gardiner, especializada em restaurações de coisas difíceis. Bem difíceis.

Os restauradores decidiram reconstruir um Type D nas especificações de 1938 e outro nas especificações de 1939. O primeiro ficou pronto em 1993. O segundo, em 1994. No dia 1° de outubro de 1994, ambos apareceram em público juntos, pela primeira vez depois de meio século, na Eifel Classics, em Nürburgring. Karassik vendeu o 1938 para a Audi em 1998. Em 2000, repassou o D 1939 para um colecionador particular, finalmente comprado pela Audi 12 anos depois. A Crosthwaite & Gardiner fez um trabalho tão espetacular nas restaurações, que sete réplicas das Flechas de Prata, dos dois modelos (C e D), foram feitas pela empresa e são usadas pela Audi em eventos no mundo inteiro — inclusive o streamliner que matou Bernd Rosemeyer.

Agora, além do Type C bombardeado em Munique, a Audi tem três dos sobreviventes originais que foram levados para a URSS depois da Guerra: os dois encontrados por Karassik e um modelo C/D, híbrido para subidas de montanha, comprado alguns anos atrás de um museu de Riga, na Letônia. Consta que existem cinco originais, mas não tenho certeza e preciso perguntar ao pessoal da Audi Tradition.

O “novo” D, que está de volta à fábrica das quatro argolas depois de mais de 70 anos, será mostrado de 14 a 16 de setembro em Goodwood.