Blog do Flavio Gomes
Fusca & cia.

NEW FUSCA

SÃO PAULO (pode ser que sim, pode ser que não) – Os marqueteiros da Volkswagen do Brasil apostaram numa jogada arriscada. Ontem foi apresentado aqui em São Paulo, com Neymar e tudo, a nova geração do New Beetle, que lá fora vai se chamar apenas Beetle — e não New New Beetle, porque aí, também, […]

SÃO PAULO (pode ser que sim, pode ser que não) – Os marqueteiros da Volkswagen do Brasil apostaram numa jogada arriscada. Ontem foi apresentado aqui em São Paulo, com Neymar e tudo, a nova geração do New Beetle, que lá fora vai se chamar apenas Beetle — e não New New Beetle, porque aí, também, haja “novo” para batizar todas as gerações vindouras; legal escrever “vindouras”. Também já vi por aí que seria chamado de New Beetle 2, ou Beetle New Generation, mas acho que ficou apenas no Beetle, mesmo.

Pois não é que no Brasil o automóvel foi, oficialmente, batizado de Fusca? Está aí, na traseira do carro, abaixo do logo da VW: Fusca. Com todas as letras. Algo que, aliás, o New Beetle nunca teve, um emblema com seu nome estampado na lataria. E o próprio Fusca de verdade, aqui no Brasil, só foi receber nas suas últimas versões, quando a VW assumiu o nome que as ruas lhe deram. Até então, era VW Sedan e, quando muito, tinha na tampa do motor a cilindrada. O meu 1976, por exemplo, é 1300L. O 1966 não tem nada escrito em lugar algum.

Acho arriscado o que fizeram os marqueteiros volkswaguianos porque, evidentemente, esse Fusca aí em cima será um carro caro, bem distante do conceito original de “carro do povo”. Sendo assim, como chamá-lo de Fusca, com toda a carga histórica que o nome carrega?

A VW pegou carona na fama do que ela mesma criou, o que é absolutamente legítimo, e lançou a releitura do Fusca em 1998, batizado como New Beetle. Uma simpatia. Gosto mais do que esse modelo 2012, mas é apenas questão de gosto. Um dia terei um. O New Beetle já não era um automóvel baratinho. O novo será menos ainda, pelo que andei lendo. Mas a segunda geração perdeu o nome em inglês, coisa que gente de grana gosta, e recuperou aquele que quase todo mundo associa, imediatamente, a carro velho e de pobre.

Por isso digo que é meio temerário chamar esse carro de Fusca. Por causa de seus potenciais compradores. Serão jovens endinheirados, certamente. Aí, a mina pergunta pro bacana: “Que carro você tem, bacana?”. E ele vai responder que tem um Fusca? Se dissesse “tenho um New Beetle, mina”, ela certamente entenderia e até gostaria. Mas Fusca? O que a mina vai achar? Que o cara é um pobretão. Ou um excêntrico que anda de carro antigo. E posso vos garantir que excêntricos que gostam de carro antigo não encantam todas as minas. Só algumas. A chance de a mina da nossa historinha procurar outro bacana à simples menção do nome Fusca é bastante razoável.

Aí, então, será necessária uma explicação por parte do bacana. “Não, mina, não é o que tu tá pensando. É o novo New Beetle, sacou?” A mina vai ficar confusa. Tudo que gera confusão, quando se trata de marketing, é ruim. Pelo menos é o que dizem os publicitários.

Podem apostar. Nenhum bacana que vai comprar esse carro, quando perguntado pelas minas ou pelos amigos, dirá que tem um Fusca. Dirá que tem um novo New Beetle. Ou “um New Beetle desses novos”. Ou “um New Beetle da segunda geração, sabe qual é?”. E espero que ninguém, quando eu falar dos meus Fuscas, tenha a petulância de perguntar se é “um daqueles Fuscas antigos, um New Beetle ou esse novo New Beetle”. Mandarei à merda.

E a adoção do nome Fusca suscita mais algumas dúvidas. O que vai sair no documento? Fusca, mesmo? Uau. E a Polícia Rodoviária, quando for avisar o guarda do posto seguinte sobre o carro que passou em excesso de velocidade? “Sargento Louzada, acabou de passar um carro aqui acima do limite. Anote aí os dados e apreenda o veículo quando ele passar por aí: Fusca branco, placa tal.” Aí o sargento Louzada vai ficar esperando por um Fusquinha, coitado, que nunca passará.

Sei lá, acho que não vai dar muito certo. Em todo caso, fico feliz com o uso de Fusca pela VW para esse novo carro. Homenagem maior não há.

Quanto ao design, acho que os estudos do Eduardo Oliveira, irmão do Décio, chegaram a modelos bem mais bonitos e ligados ao conceito original do Fusca. Para quem ainda não viu, os desenhos estão aqui. São de 2010. Eu, se fosse a Volkswagen (ou qualquer outra montadora), já tinha contratado.