Blog do Flavio Gomes
#69

IN MOGI (2)

SÃO PAULO (esgotado, mas feliz) – Faltou piloto ao Meianov hoje. É a conclusão a que cheguei assim que terminou nossa primeira corrida no Velo Città. Que foi muito legal, um sucesso mesmo. Eu poderia colocar aqui uma interminável lista de agradecimentos, mas ia ficar chato. Já mandei e-mails para todos. Os que se empenharam […]

A marca registrada do Velo Città. Foto Dyonysyo Pyerotty

SÃO PAULO (esgotado, mas feliz) – Faltou piloto ao Meianov hoje. É a conclusão a que cheguei assim que terminou nossa primeira corrida no Velo Città. Que foi muito legal, um sucesso mesmo. Eu poderia colocar aqui uma interminável lista de agradecimentos, mas ia ficar chato. Já mandei e-mails para todos. Os que se empenharam além da conta para fazer essa corrida acontecer sabem quem são. E entre eles estamos nós, claro, os pilotos e integrantes das equipes.

Foi no dia 11 de outubro que fui ao Velo Città pela primeira vez, a convite do pessoal da Mitsubishi, para conhecer o autódromo. E em menos de dois meses fizemos tudo. Até a hora de alinhar nossas 23 jabiracas no grid para fazer um barulho danado e encantar todo o pessoal que lá estava para disputar mais uma etapa da Lancer Cup e para um “track day” com outras jabiracas mais encorpadas — esses Evo do capeta com seus milhares de cavalos que dão até medo quando viram a chave.

Mas eu dizia que faltou piloto, porque guiei mal pacas, culpa da esbórnia da noite anterior no Koxixo, histórica casa etílica de Mogi Guaçu, noite cheia de brindes por conta da corrida, do evento, da presença do Guiga Spinelli e da Bia Figueiredo conosco — ele, um dos maiores pilotos de rali do Brasil; ela, uma das maiores pilotas de qualquer coisa do mundo —, das histórias do Eric, da notícia que chegou de um prêmio aí.

O fato é que não acordei na minha melhor forma, física e moral, nem café da manhã tomei. Vesti o macacão e fui direto para a pista. Mas não serve como desculpa, não. Guiei mal, ponto.

Largamos precisamente às 12h18 com um sol de rachar lichia, e foi a única coisa boa que fiz na corrida, a largada. Larguei bem, como de hábito. Sou considerado um dos três maiores largadores do mundo na atualidade. Passei, sei lá, uns 20 carros. Mas na freada para a curva 1, no terceiro macaquinho, quando me preparava para passar outros 20 por fora, levei um encontrão na porta que, putz, quase me transferiu de Guaçu para Mirim (está logo nos primeiros segundos deste vídeo, tomado de dentro do Passat do Depret). Foi o Gol do Rafa Gimenez que deixou tinta na minha lateral. Depois da corrida foi lá explicar que errou uma marcha, entrou ponto morto, não deu para frear e pimba.

O momento da batida na largada. Foto Dyonysyo Pyerotty

Mas tudo bem, essas coisas acontecem em largadas, ainda mais para quem, como eu, sempre parte no pelotão da merda absoluta, depois de 15°. Desta vez, estava em 16° no grid. E a largada foi parada, não em movimento. Depois coloco vídeos. Preciso editar. Amanhã acho que consigo.

Se eu fosse um piloto-mimimi, poderia dizer que essa pancada me desconcentrou e tal. Picas. Fiquei meio puto porque deixei de passar um monte de gente por fora, uma estratégia brilhante sobre a qual refleti longamente por uns quatro segundos antes de dormir na madrugada anterior. Mas isso de desconcentrar é cascata. Estava concentradíssimo para não fazer nenhuma besteira, cuidando dos instrumentos, procurando não travar minhas rodas traseiras nas freadas (o que aconteceu várias vezes), tentando não errar marchas e acertar o traçado, olho no carro da frente para estudar onde dava para passar… Numa corrida não dá muito tempo para essas viadagens de “desconcentrar”.

Aí, rodei miseravelmente (adoro “miseravelmente”, já disse isso) na segunda volta, perdendo mais duas posições, para uma Brasília e um Zé do Caixão. Foi na curva da entrada dos boxes, cheio de gente no terraço vendo, uma vergonha da porra. Mas me estabilizei, e nas seis voltas seguintes andei muito perto do Puma laranja do Suero e do Passat vermelho do Depret. Perto mesmo, diria até que foi uma briga em certo sentido, até rodar miseravelmente, de novo, na volta 9. No mesmo lugar. A primeira rodada, no começo da corrida, me custou uns três segundos, só. Voltei rápido. A segunda, mais de 10 segundos. Um perfeito paspalho. Perdi o contato com os dois e fiquei deprê. Na sequência, menos de um minuto depois, rodei outra vez, numa curvinha tinhosa de segunda marcha. Mais 10 segundos para o saco, e por conta deles perdi a posição, que já não era lá muito animadora, para um carro amarelo que aparentemente estava entregando pizzas na cidade.

Vá à merda, um piloto assim.

OK que o Meianov tem o hábito de piorar ao longo de uma corrida, ainda mais com o calor que fez hoje, a pressão dos pneus subindo barbaramente, saindo de frente, essas coisas. Mas piloto tem de saber lidar com as dificuldades, e não fazer cagada uma em cima da outra. Ainda saí duas vezes na grama, depois das rodadas. Fui mal pra cacete, em resumo, e devolvi o carro todo sujo e esculhambado.

Mas a corrida foi boa, excelente, excepcional. Nos receberam muito bem, o pódio foi bonito, ganhamos salvas de prata (os cinco primeiros de cada categoria; 15 dos 23 ganharam salvas de prata; eu ganhei salva de palmas e olhe lá) e ainda almoçamos na linda área usada para os pilotos da Mitsubishi. O resultado completo está aqui. Na geral o vencedor foi o Luque, de BMW, da nossa equipe, a LF. Ele levou a Divisão 2, com Carlos Braz em segundo e Antonio Chambel em terceiro, ambos de Passat. A Divisão 1, a minha, claro que era a que tinha mais carros: dez. Assim, chances reduzidas de pódio. Terminei em sétimo, na vitória do Cristiano Canto (Fusca), com o Rafa Gimenez (Gol) em segundo e o Erick Grosso (Fiat 147) em terceiro, depois de uma excepcional recuperação — ele estava atrás de mim no grid, vocês vão ver depois nos vídeos. Na Divisão 3, vitória do Reinaldo Hernandez (Maverick), com João Peixoto (Bianco) em segundo e Waldevino Paiva Jr. (Puma) em terceiro.

Terminei em 15° na geral e pretendia protestar os resultados dos 14 primeiros. Ia inventar uma mentira para cada um, como ultrapassagens sob bandeira amarela, manobras bruscas com o sol na minha cara, asas-móveis escondidas, controles de tração, uso de canetas-laser por torcedores para me incomodar, peso excessivo ou reduzido, combustível irregular, estava tudo pronto para levar os protestos à torre, mas meu advogado não encontrou a torre e, assim, aceito o resultado final, conformado com minha desgraça. Que só não foi completa porque ganhei um presentinho.

Prêmio por ter sido considerado o piloto de Lada mais simpático do evento. Foto Dyonysyo Pyerotty