Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

O RUMO DE BRUNO

SÃO PAULO (fez muito bem) – Bruno Senna está fora da Fórmula 1. A notícia foi oficializada agora há pouco pela assessoria do piloto, que confirmou que ele vai disputar o Mundial de Endurance da FIA, o WEC, pela equipe oficial da Aston Martin (na foto acima, o carro do time, com a pintura Gulf histórica […]

ASÃO PAULO (fez muito bem) – Bruno Senna está fora da Fórmula 1. A notícia foi oficializada agora há pouco pela assessoria do piloto, que confirmou que ele vai disputar o Mundial de Endurance da FIA, o WEC, pela equipe oficial da Aston Martin (na foto acima, o carro do time, com a pintura Gulf histórica e inigualável).

Sem querer bater bumbo, porque não somos disso, mas é importante lembrar que nosso colunista Américo Teixeira Jr. cravou em 17 de dezembro que o brasileiro estava fora dos planos da Force India. E no dia em que a Caterham fechou com Giedo van der Garde, Américo afirmou com todas as letras que suas chances de ficar na F-1 haviam se esgotado.

Nunca acho que o jornalista é mais importante que a notícia, mas faço essas observações por uma razão simples. Não, não é para dizer que nós somos os fodões do bairro Peixoto, que o Grande Prêmio é o melhor site do mundo e que o Américo tem arrebentado com informações exclusivas há muito tempo. Isso tudo é verdade, somos os fodões do bairro Peixoto e de outros bairros, temos o melhor site do mundo e o Américo é um tipo raríssimo de jornalista — conhece o assunto que cobre, é bem informado e tem fontes confiáveis, que eu nem seu quais são; mas confio no colunista, e isso basta para que banquemos as notícias que ele tem para dar.

O motivo, porém, é outro. Quando noticiamos que um piloto brasileiro tem poucas chances aqui, nenhuma ali, está quase fora, pode ser substituído etc e tal, parte do público que nos segue sai atirando impropérios em nossa direção, que podem ser resumidos numa frase-padrão (editada, sem os xingamentos): “Vocês não apoiam os pilotos brasileiros e torcem contra! Vocês não são patriotas!”.

No fundo, é verdade. Não apoiamos os brasileiros, nem os tailandeses, nem os vietnamitas. E se alguém ainda é tonto o bastante para misturar patriotismo com esporte e informação esportiva, que vá se tratar. Nós simplesmente não torcemos para ninguém e temos obrigações com uma única figura estelar e soberana: aquele que nos lê, ou ouve, ou assiste na TV. Ponto final. Quando quero me comportar como torcedor, vou para a arquibancada ver a Portuguesa. Há quem diga que devemos apoiar, ajudar, bajular, elogiar pilotos brasileiros porque dependemos deles, sem brasileiros vencendo o interesse pela F-1 se esvai, perdemos público e vamos à falência.

Pode ser que para alguns jornalistas e para algumas mídias funcione assim. Aqui, não. Primeiro, porque temos alguns princípios pétreos, e o maior deles é: aquilo que sabemos, publicamos. Depois, acredito sinceramente que o público que se pauta pelo ufanismo e que se guia pelos arroubos nacionalistas que contaminam a imprensa esportiva não nos interessa. Dispenso. Porque acredito, também sinceramente, que existe um público mais crítico, sensato, que gosta de ser informado, não enganado. E que gosta de automobilismo de verdade, sejam os protagonistas brasileiros ou incas venusianos.

Isso posto, falemos de Bruno.

Seus quase três anos de F-1 foram pontuados por algumas boas atuações, muitas discretas e outras ruins. Há várias atenuantes, como o fato de ter começado tarde, ter tido de pular algumas etapas por conta da idade, ter estreado por uma equipe muito ruim, não ter feito a temporada toda em 2011 e ter tido alguns treinos a menos no ano passado. Foi um piloto comum carregando um sobrenome incomum.

A guinada na carreira é positiva para ele. Na F-1, ficaria se arrastando atrás enquanto houvesse patrocinadores dispostos a investir em algo que, no fim das contas, não passava disso: um sobrenome muito caro aos brasileiros e ao automobilismo. Mas, na F-1, a percepção de que só estava lá porque é sobrinho de quem é seria permanente.

No WEC, Bruno terá a chance de ser piloto de corridas de verdade, numa equipe de ponta de uma marca que neste ano completa 100 anos de existência. O campeonato é muito legal, as provas de longa duração são espetaculares e ele vai correr em Le Mans, o que por si só vale uma vida — Bruno já esteve lá uma vez, mas num esquema bem menos ambicioso.

Há casos de outros pilotos brasileiros que desencanaram da F-1 quando viram que algo não iria se encaixar, e partiram para uma carreira mais sólida em outras categorias. Os casos mais recentes são os de Augusto Farfus (desistiu de monopostos há anos e hoje está no DTM pela BMW), João Paulo de Oliveira (sucesso absoluto no Japão), Nelsinho Piquet (fazendo a América na Nascar) e Lucas di Grassi (contratado pela Audi para o mesmo WEC). Existe vida, claro, fora da F-1. E ela pode ser muito divertida e prazerosa.

Senninha anda com o carro da Aston Martin nos dias 17 e 18 em Portimão e participa das 12 Horas de Sebring (que não fazem parte do WEC) em 16 de março. O Mundial começa em 14 de abril com as 6 Horas de Silverstone.

Fez muito bem o primeiro-sobrinho em tomar essa decisão. Talvez a F-1 não seja o lugar para ele. Mas as pistas, certamente, são. Que acelere muito, se divirta e seja feliz.