Blog do Flavio Gomes
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MÔNACO, 1993

SÃO PAULO (feliz Dia da Tartaruga) – Hoje, 23 de maio, faz 20 anos da última vitória de Ayrton Senna em Mônaco. Foi a sexta, quinta seguida. Ele venceu em 1987 com a Lotus e de 1989 a 1993 direto e reto com a McLaren. Poderiam ser sete não fosse a célebre batida no guard-rail […]

monaco93SÃO PAULO (feliz Dia da Tartaruga) – Hoje, 23 de maio, faz 20 anos da última vitória de Ayrton Senna em Mônaco. Foi a sexta, quinta seguida. Ele venceu em 1987 com a Lotus e de 1989 a 1993 direto e reto com a McLaren. Poderiam ser sete não fosse a célebre batida no guard-rail em 1988, quando estava um ano na frente de Prost, desconcentrou-se e deu a panca besta na entrada do túnel. Ficou tão puto que nem para os boxes voltou. Atravessou a rua e foi para casa, já que tinha um apartamento ali perto. Diz a lenda que irrompeu pela porta, surpreendeu a empregada e pediu para ela fazer o almoço.

Nessa corrida de 1993, Senna quebrou um recorde que já durava 24 anos, a incrível marca de cinco vitórias de Graham Hill no Principado. É, até hoje, quem mais ganhou nas ruas de Monte Carlos. Schumacher chegou perto, com cinco. Curiosamente, um dos adversários do brasileiro naquela corrida era justamente o filho de Hill, Damon, então piloto da Williams. Terminou em segundo, quase um minuto atrás de Ayrton. Alesi, o terceiro, cruzou a linha mais de um minuto depois do carro vermelho e branco. Prost, o quarto, uma volta atrás.

Damon foi um lorde ao falar sobre a marca atingida pelo rival. “É um tributo para meu pai que alguém do calibre de Senna tenha batido seu recorde. Tenho certeza que se ele estivesse aqui seria o primeiro a cumprimentá-lo”, falou. Graham Hill morrera em 1975, num acidente aéreo.

Como se vê, esse GP de Mônaco, exceto pelo recorde histórico, esteve longe de ser um dos mais emocionantes de todos os tempos. Muito pelo contrário. Prost, o favorito absoluto, estava na pole e queimou a largada. Quando pagou o stop & go, teve a manha de deixar o carro morrer duas vezes. Perdeu 21 posições e mesmo assim terminou em quarto, tamanha a superioridade da Williams sobre os demais naquele ano — ele conquistaria o tetra com o pé nas costas em Portugal, no fim de semana em que anunciaria sua aposentadoria. Schumacher, na Benetton, assumiu a liderança quando Alain foi para os boxes, mas quebrou. Assim, a vitória caiu no colo de Senna, que não precisou passar ninguém.

Eu estava nessa corrida e fui dar uma olhada no que escrevi no jornal naquele dia. A cobertura foi modesta, até, para os padrões da época. Apenas duas páginas com oito textos, quatro fotos e uma arte. Está aqui, para quem quiser ler. Senna tinha batido forte nos treinos de quinta-feira e machucou a mão esquerda. Correu o risco de não participar da prova, mas no fim das contas não sentiu dores especialmente impeditivas. Na entrevista depois da corrida, tirou uma onda de Prost e disse que o francês vivia queimando largadas na época da McLaren. “Isso me incomodava muito e ele sempre conseguia escapar da penalização.  E hoje, na terra dele, teve que pagar.”

Bom lembrar que Senna não era muito fã dos dirigentes da FIA e da FISA. Não perdia uma chance de espetar as entidades, com as quais vivia às turras desde a desclassificação no GP do Japão de 1989.

Depois, quando perguntamos a ele sobre os infortúnios de Prost e Schumacher, Ayrton nos interrompeu bruscamente e disse: “Acredito em Deus, não em sorte”. Por fim, recusou-se a falar da polêmica de então, o uso de motores Ford de última geração pela Benetton, em detrimento da McLaren, que tinha unidades menos potentes: “Não sei, não me interessa, esse é um assunto que já me encheu o saco”.

Sim, meninos e meninas, Senna dizia “encheu o saco”. Parece incrível, não? Afinal, santos não deveriam ser assim tão… humanos. Pois é, Ayrton era humano. Se alegrava, se irritava e pilotava carros de corrida. Ainda bem. Mas não vou ficar aqui teorizando sobre sua personalidade tão distorcida pelos anos. Prefiro dar um link para vocês. Este texto foi escrito por um professor de História da UEG chamado Ademir Luiz e publicado no site “Jornal Opção”, de Goiás. Não conhecia. Foi escrito em 2011, quando do lançamento do documentário sobre a vida de Senna.

O texto é enorme, mas é o melhor que já li sobre o assunto. Por “assunto”, entenda-se Ayrton Senna e tudo que se criou em torno de seu nome. Leiam, que vale muito a pena. O autor conhece Fórmula 1 — comete um ou outro errinho factual, como o ano do acidente de Niki Lauda. Entende de cinema (uma crítica ao filme é o pontapé inicial do artigo) e exercita o rigor que historiadores costumam ter quando rabiscam qualquer coisa.

Pelo escasso número de comentários, acho que pouca gente leu. Ainda é tempo. O bom da internet é isso. As coisas estão aí para ser lidas, a qualquer tempo.