Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERNADAS (23)

SÃO PAULO (fazendo hora) – Última corrida de temporada sempre tem despedida de alguém ou de alguma coisa. Hoje, Massa se despede da Ferrari, Maldonado da Williams, Pérez da McLaren, Hülkenberg da Sauber, e possivelmente Di Resta da Force India, Pic da Caterham, Kovalainen da Lotus… E Webber da F-1. Dessas despedidas todas, algumas não […]

SÃO PAULO (fazendo hora) – Última corrida de temporada sempre tem despedida de alguém ou de alguma coisa. Hoje, Massa se despede da Ferrari, Maldonado da Williams, Pérez da McLaren, Hülkenberg da Sauber, e possivelmente Di Resta da Force India, Pic da Caterham, Kovalainen da Lotus… E Webber da F-1.

Dessas despedidas todas, algumas não serão muito lembradas no futuro. Afinal, se Pic sair da Caterham, não vai acontecer muita coisa. Pérez deixar a McLaren? E daí? Um ano só, não sabe nem onde fica o refeitório da fábrica. São passagens efêmeras, seja por uma equipe, seja pela categoria.

Mas outras são despedidas mesmo, sérias, que encerram alguma era de alguma coisa, e antes da largada dediquemos algum tempo a elas. Escolhi quatro temas, dois relativos a pilotos e dois a… a coisas. Para cada uma delas, uma foto daquilo que sempre vou me lembrar quando mencionados estes pilotos e coisas.

Webber em 2002: lágrimas pelo quinto lugar.

Começando com Webber, que a partir de amanhã será piloto da Porsche no WEC. Foram 12 temporadas completas, a primeira delas em 2002 pela Minardi. Esta foto aí em cima, de Julian Smith/AAP, é da estreia do australiano em Melbourne, pela Minardi. Ah, a Minardi… Para quem não sabe, é a Toro Rosso, hoje. Foi comprada pela fábrica de energéticos, rebatizada, mas continua com sua sede em Faenza, na Itália, e o espírito garagista de Giancarlo Minardi. Encharcado de lágrimas e champanhe, Mark recebe o abraço de Paul Stoddart, que tinha assumido o controle da equipe italiana pouco antes. Stoddart, empresário meio maluco, dono de companhia aérea, beberrão, fumante, divertido, era uma figuraça. E nessa prova, sua primeira, Mark cravou um inesquecível quinto lugar. Hoje, Webber se despede da F-1 depois de 215 GPs disputados por Minardi, Jaguar, Williams e Red Bull., com nove vitórias e 13 poles no currículo.

Massa em 2006: a maior de suas vitórias, em Interlagos, no primeiro ano de Ferrari.

Depois de oito anos como titular da Ferrari, e 12 como contratado dos italianos, Felipe Massa deixa Maranello e vai para a Williams. Vai ser uma boa mudança de ares. Está feliz porque depois de o time vermelho anunciar sua saída, foi procurado e não teve de procurar ninguém. Lotus, McLaren e Williams quiseram conversar com o brasileiro. Acabou fechando com a tradicional, histórica e decadente equipe de Grove, e segundo consta não vai ganhar muito menos de salário e terá três anos para mostrar serviço — e a equipe idem, porque é preciso que a Williams mostre que é capaz de voltar a ser competitiva. Vai dar certo? Depende do que se considere “dar certo”. A Williams é um time grande de resultados pequenos nos últimos anos. Precisa de dinheiro, claro. Mas tem expertise, know-how, estrutura. Muita gente me pergunta: Massa vai ter chance de ser campeão no ano que vem? Claro que não, digo. Não existem milagres conhecidos na F-1, exceto o da Brawn em 2009, mas esse tem uma boa explicação — a grana que a Honda colocou no carro no ano anterior, antes de deixar a F-1, e a esperteza de Ross Brawn. Mas pode ser que em 2014, temporada em que o regulamento será totalmente novo, alguma equipe se destaque de maneira surpreendente. Pode ser a Williams? Pode, como pode ser a Sauber, ou a Force India, ou a Caterham, ou a Marussia. A rigor, tudo pode acontecer, até a Red Bull despencar. Mas não é provável, todos sabem que quem tem mais grana e capacidade lida melhor com as dificuldades e as novidades. Enfim, só quando os carros começarem a andar será possível dizer algo. Enquanto isso, fiquemos com o momento que mais me marcou da passagem de Felipe pela Ferrari, a vitória de 2006 em Interlagos. Foi bem bonita e emocionante.

Cosworth: dominante nos anos 70 sob gestão da Ford, deixa o palco melancolicamente.

E vamos às coisas, que me são tão caras, também, às vezes mais do que as gentes… Ninguém fala, mas hoje a Cosworth faz sua última aparição na F-1. Presente apenas na Marussia, a empresa não vai participar da nova era turbo. Sai em silêncio, sem um ponto sequer, sem festa de despedida, sem as devidas homenagens. Nos anos 60, mas principalmente nos 70, era O motor da F-1. Quem quisesse ganhar corrida tinha de recorrer à Cosworth. Mudou de dono, foi vendida, comprada, faliu, voltou, mas sempre esteve por aí. Agora, não estará mais.

V8: desde 2006, o motor que a F-1 escuta, e que hoje ficará em silêncio.

Por fim, os V8 aspirados. Eles foram adotados como padrão, numa configuração de 2.400 cc de cilindrada e construção em 90°, a partir da temporada de 2006. Hoje, a exemplo da Cosworth, silenciam na categoria. Será o fim de uma era e o início de outra. A partir do ano que vem, a F-1 passa a usar motores de 1.600 cc, V6, turbo. Sons diferentes, maior economia de combustível, maior eficiência, essas coisas. Muita gente lamentou o fim dos V10, achando que os V8 teriam um ruído semelhante ao de um motorzinho de dentista. Não foi assim, e nos acostumamos. Acho que vamos nos acostumar aos novos, também.

A Renault divulgou dados sobre estes oito anos de V8 que merecem uma olhada. Afinal, os franceses foram os grandes vitoriosos desta era que se encerra. Vejam:

Farewell para todos.