Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERNADAS (28)

SÃO PAULO (vai, Lusa!) – O manto da noite já caiu por aqui, embora estejamos no horário de verão. E faz um frio desgraçado. E muitas equipes estão lá embaixo acelerando motores para estourá-los, como de hábito quando acaba um campeonato. São meio sádicos, os mecânicos. Podiam deixar um para mim, unzinho. Mas que nada. […]

nadas1bSÃO PAULO (vai, Lusa!) – O manto da noite já caiu por aqui, embora estejamos no horário de verão. E faz um frio desgraçado. E muitas equipes estão lá embaixo acelerando motores para estourá-los, como de hábito quando acaba um campeonato. São meio sádicos, os mecânicos. Podiam deixar um para mim, unzinho. Mas que nada. Todo ano eles estouram motores, passam de giro, fazem um barulho desgraçado, e inutilizam o que não vai mais ser usado. Ainda mais esses V8 aí, que só vão servir para milionários que, no futuro, comprarem alguns dos carros de 2013 para suas coleções particulares.

Sendo assim, vamos ao resumo do domingo em tópicos, como de hábito. Tentando não pular nenhum número.

1) Números oficiais de público no fim de semana, de acordo com os organizadores: 13.830 na sexta, 49.822 ontem, 66.823 hoje. Algumas considerações. Não duvido que esse número de ingressos tenha sido vendido, não mesmo. Porque essa conta inclui as entradas vendidas ao povo em geral e aquelas compradas por empresas que fecham alguns setores, as arquibancadas corporativas. Mas não havia 66.823 pessoas aqui hoje nem a pau. O Setor G tinha dois de seus quatro gomos muito vazios. Alguns desses setores comprados por empresas estavam às moscas, e o que mais me chamou a atenção foi o vermelho da Shell, no S do Senna. Ninguém, uma coisa deprimente. Esses ingressos são comprados pelas firmas, que os distribuem a empregados, fornecedores, amigos, amantes, apaniguados, afetos e desafetos. Quando nem com ingresso de graça o sujeito tira a bunda do sofá para ver uma corrida de F-1, é que tem alguma coisa bem errada com a F-1. Nunca vi um GP tão vazio e esvaziado. É algo que os envolvidos precisam aceitar, primeiro, se querem mudar o rumo das coisas. E isso não é só no Brasil, não.

2) Atenção, a informação é extra-oficial, porque não tenho acesso aos números finais do Ibope. Mas o que me disseram é que a corrida deu 12 pontos na Globo. A média do ano foi de 8,1 pontos, segundo li na “Folha” dia desses. A F-1 perdeu 60% de sua audiência na TV nos últimos dez anos. É só porque não tem brasileiro ganhando? Tenho cá minhas dúvidas, embora todos saibam que o público brasileiro na TV gosta mesmo é de uma vinhetinha com eco, e quando não tem, prefere fazer outra coisa. Mais um dado que os envolvidos têm de estudar. E parece que também não é só no Brasil, não.

3) Falando de TV ainda, não vi, mas acompanhei pelo Twitter. Barrichello no grid penou com um microfone defeituoso. Confere? Problema hidráulico? Falou da avó, que sabe quando vai chover em Interlagos com dias de antecedência? Pediu emprego em alguma equipe? Sim, estou sendo maldoso. Sempre fui.

4) Detalhes que merecem registro, antes da largada: os mecânicos da Red Bull com chapéus australianos no grid em homenagem a Webber e os mecânicos da Ferrari numa espécie de corredor polonês na saída do box de Massa, aplaudindo o brasileiro quando ele deixou a garagem para seu último GP com carteira assinada em Maranello.

5) Massa que passou xingando todo mundo pelo pit-lane quando pagou seu drive-through. Considerou “inaceitável” a punição. Bom, sei lá. A regra é clara, como diz aquele juiz da TV. A pergunta é: mais alguém fez aquilo? Eu não vi, os comissários também não. Paciência.

6) Chorou ou não chorou? Webber tinha lágrimas nos olhos na sua volta aos boxes sem capacete. Mesmo que não estivesse chorando, veríamos lágrimas. O vento quase arrancou seus olhos das órbitas. Carro de fórmula aberto sem capacete é foda. Nem mais, nem menos. Na velocidade que for.

7) Na coletiva pós-corrida, o Canguru Desolado ganhou uma bandeira do Brasil assinada por todos os pilotos. “É como um troféu para mim”, disse, snif snif. E quem entregou a ele, e aparentemente foi quem teve a ideia, foi Bernie Ecclestone. Que, segundo relato da suprema Evelyn, pediu autorização ao oficial da imprensa da FIA para fazer a entrega. É m velhinho simpático, Bernie, embora muita gente não goste dele.

Chilton, todo orgulhoso: deu 19 sem tirar de dentro.

8) Vejam, tivemos mais um recorde hoje! Chilton terminou as 19 corridas de que participou. Nunca um estreante terminou tantas provas seguidas, sem nenhum abandono. Caiu a marca de Tiago Monteiro de 2005, 18 GPs até o fim em sua temporada de estreia. Bela merda, dirá alguém. Mas é um recorde, uai. E como a Marussia foi a última equipe da história a usar motores Cosworth, é algo para ser registrado. Ano que vem, os marússicos vão usar motores Ferrari. A Cosworth se despede zerada, mas pelo menos sem quebrar em corrida com o piloto inglês. Mas Chilton fechou a temporada como último colocado absoluto. Cinco pilotos terminaram com zero ponto: ele, seu parceiro Bianchi, a dupla da Caterham Van der Garde e Pic, e Kovalainen. Mas seu melhor resultado foi um 14°, e depois um 16°. Kovalento conseguiu dois 14°s. Van der Garde fez um 14° e três 15°s. Pic, dois 14°s e dois 15°s. E Bianchi, um 13°. O que vale é sempre o melhor resultado no desempate, tipo medalha de ouro em Olimpíada. Se o cara faz um segundo lugar e abandona 18 corridas, ganha do outro que, sei lá, é décimo colocado em 18 corridas e abandona uma.

10) Falando em recordes, Webber deve deter algum de micos históricos. Hoje, no pódio, escorregou e tomou um capote que, obviamente, foi registrado pelos fotógrafos. Esse aí embaixo.

Webber e o mico do dia: quase a Porsche perde um piloto.

11) Mais um, negativo. Não um recorde, propriamente, mas uma marca bem negativa para a McLaren. A equipe terminou a temporada sem um pódio sequer. O último campeonato em que o time passou sem um trofeuzinho foi o de 1980. O quarto lugar de Button, em compensação, foi a melhor posição da McLaren no ano. E ele mereceu, guiou pacas.

12) Nove das 11 equipes marcaram pontos na temporada. Marussia e Caterham foram as únicas que zeraram. Incríveis, as nanicas. Desde 2010, quando estrearam, nunca pontuaram. A Hispania faliu antes. Mesmo assim, as duas disputaram corrida a corrida o décimo lugar no Mundial, que dá uma ajuda de custo de transporte na temporada seguinte. Ano passado, graças a Petrov, lembram dele?, a Caterham chegou na frente. Neste ano, foi a Marussia. Graças a o13° de Bianchi na Malásia. O melhor resultado da Caterham foi 14°, três vezes.

13) Uma demonstração de como a Red Bull, Vettel, na verdade, nadou de braçada em Interlagos, está no tempo perdido no segundo pit stop do alemão, que em nada afetou seu resultado final. Nem de longe. A primeira parada tomou dele 22s510. A segunda, 32s899. E ele ganhou com mais de 18s para Alonso, o terceiro colocado.

14) Mesmo tendo feito nove pontos mais que a Mercedes em Interlagos, 21 x 12, a Ferrari não conseguiu o vice entre as equipes. Os alemães ganharam o duelo por seis pontos, 360 x 354.

E sem mais nada a declarar, creio que disse tudo. Se sobrar alguma coisa, volto. Possivelmente com aquela despedida melosa acompanhada de alguma foto dos caras desmontando as coisas nos boxes. Pegam bem, essas notinhas de encerramento de cobertura meio tristonhas.