Blog do Flavio Gomes
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OS DEZ MAIS

SÃO PAULO (vamos tentar) – Me mandaram um link do sempre ótimo “Autoentusiastas” avisando que ali havia uma lista dos dez melhores carros criados por brasileiros. Pensei em fazer a minha sem espiar a original, elaborada por Marco Antônio Oliveira. Mas não resisti e dei uma olhada. “Criados por brasileiros” foi critério adotado sem muita […]

SÃO PAULO (vamos tentar) – Me mandaram um link do sempre ótimo “Autoentusiastas” avisando que ali havia uma lista dos dez melhores carros criados por brasileiros. Pensei em fazer a minha sem espiar a original, elaborada por Marco Antônio Oliveira. Mas não resisti e dei uma olhada.

“Criados por brasileiros” foi critério adotado sem muita ortodoxia pelo autor, e nem poderia ser diferente. A indústria brasileira, com algumas exceções, quase sempre importou projetos de fora. O Opala deriva do Opel Reckord alemão, por exemplo. Os Dodges eram todos de origem americana. Claro que muita coisa se adaptou aqui, o que explica a relação de Marco Antônio.

Assim, meu critério é ligeiramente diferente. Em vez de “criados”, optei por “produzidos” no país. E cheguei aos meus dez mais — avisando, desde já, que DKW e Fusca não entram na lista porque são hors-concours. Mandem os seus, também. A ordem é aleatória. Como o colunista do “Autoentusiastas”, eu teria muita dificuldade em ranquear essa galera toda. Alguns dessas fotos aí embaixo são meus.

GOL

Esse foi criado aqui, mesmo. Apesar do desastre (delicioso) da primeira versão, com motor a ar de 1.300 cc, deixou uma família completa: os esportivos (GT, GTS, GTi), a perua (Parati), o sedã (Voyage), a picape (Saveiro) e o popular (1000). É o queridinho do Brasil. Desenho moderno para a época e até hoje, com suas linhas retas inspiradas nos desenhos de Giugiaro, caiu no gosto do país. Desconsidero as gerações posteriores, a partir de 1994.

PASSAT

Muita gente acha que o Pointer, o último dos Passats, foi o melhor carro já fabricado no Brasil. Pode ser. Incluo o Passat na lista por vários motivos. Um deles, memória afetiva. Quando guiei um pela primeira vez, fiquei encantado com o câmbio, seus engates precisos e curtos. Claro que não estou falando dos primeiros, 1974, que quando você engatava a primeira entrava a ré. Depois, memória afetiva de novo, quem da minha geração não sonhou com um TS?

OPALA

Nenhum carro sobrevive tanto tempo, de 1968 a 1992, se não for um fenômeno. E sobreviveu quase igual do começo ao fim, com as alterações estéticas de sempre — lanternas, faróis, bancos, painel, essas coisas. Também rendeu uma irmã, a Caravan, e versões cupê de duas portas e sedã de quatro, além dos inesquecíveis SS. Deu origem a uma categoria que mudou os rumos do automobilismo nacional, a Stock. Enfim, um queridão.

CORCEL

Aqui faço uma concessão à segunda geração, a do Corcel II, já que é um projeto inteiramente nacional — com as/os filhotes Belina, Pampa e Del Rey. Deve ser incluída na lista junto com os primeiros, igualmente inovadores e belos. Eram ágeis e econômicos. Um projetinho esperto da Renault que a Ford encampou com picardia. Duas e quatro portas, sedã e cupê, uma das mais lindas peruas, a Belina (uma woodie segue sendo sonho de consumo), e verso de música de Raul Seixas. Precisa mais?

GALAXIE

Dá para dizer que foi o único grande carro feito no Brasil. Ao Galaxie 500 juntemos todos os LTDs e Landaus. Foi durante décadas a tradução mais fiel para a expressão “carro de luxo” fabricado no país. Carregava milionários, presidentes e autoridades. Refestelar-se em seus sofás e desfrutar de sua suspensão macia era fetiche de muita gente. Continua sendo.

BRASÍLIA

Criação genuinamente nacional, foi um dos maiores sucessos de venda da história da indústria brasileira. Era para substituir o Fusca. Acabou convivendo pacificamente com ele. Compare uma Brasília com qualquer carrinho compacto de hoje. Tirando o motor traseiro, o design é praticamente o mesmo.

MONZA

A GM teve a felicidade de emplacar dois blockbusters no segmento de carros médios (e não muito baratos) ao lançar o Monza quando já planejava a aposentadoria do Opala — que acabou sendo adiada várias vezes, e eles acabaram se tornando contemporâneos. Tanto o hatch quanto o sedã atravessaram os anos vendendo muito e ostentando ótima reputação. Quando o primeiro foi apresentado, em 1982, era um estouro. Ótimo acabamento, inovações tecnológicas, atualizado com o que se fazia na Europa, garantia de sucesso. Não nos esqueçamos do S/R, nem do Classic. As alterações estéticas dos últimos anos, no entanto, nunca me encantaram.

UNO

Esqueçam o nome “Mille”. Fiquemos com Uno, o carro mundial da Fiat lançado no Brasil em 1984 para acabar com a fama da montadora de Betim de fazer apenas caixinhas de fósforo simpáticas. É um grande nome para um carro, Uno. Deixou de ser fabricado agora, no fim de 2013, quase 30 anos de estrada. É muita coisa. As versões esportivas eram (são) de arrebentar corações, como o 1.5R, o 1.6R e o Uno Turbo — esse, de chorar. O Uno deu na Elba e no Prêmio, além dos utilitários da linha Fiorino, picape e furgão. É outro que ditou tendência: frente em cunha, traseira truncada, diversas motorizações, até desembocar na sua vocação de carro popular e barato com o motor 1.0 que o rebatizou como Mille. Foi o grande “mil” do Brasil. Grazie, Mille.

ESCORT

A Ford também entrou na onda dos carros mundiais e no início dos anos 80 e mandou ver no Escort, carrinho médio invocado que vendia que nem pão quente mas que, no gosto deste blogueiro, só era legal se fosse XR3. Mas não se deve desprezar nenhuma das versões calminhas. Eram carros modernos e bem acabados, uma das características da Ford desde sempre. Ao contrário do Uno, porém, o Escort não criou família. Era ele e ele. Nada de derivados. Tinha versões mais simples, mais luxuosas, econômicas e esportivas. Mas de suas costelas não saíram peruas ou picapes.

DODGE

Nunca tive e nunca dirigi um. Mas meu pai teve. Um Charger R/T branco. E um SE, também. Se a família Dart inteira merece nosso respeito, até mesmo as últimas versões de nomes coxinhas como Le Baron, era o SE que me falava ao coração, com sua simplicidade e despojamento. Os bancos em padrão xadrez são maravilhosos. Não dá para deixar os mais notáveis V8 brasileiros fora desta lista. E, assim, o Dojão fecha a relação.

Quero ver se as listas de vocês serão tão boas. Duvido!