Blog do Flavio Gomes
DKW & cia.

DKW NA VEIA

INGOLSTADT (tá tarde) – Eu já devia ter capotado, mas cumpro minhas promessas. A noite chegou, a madrugada idem, e cá estou a editar fotos e a escrever. Melhor fazer isso, mesmo, com as coisas ainda fresquinhas na memória. De manhã a Audi Tradition abriu a exposição dos brasileiros, cortei a fita inaugural, dei algumas […]

INGOLSTADT (tá tarde) – Eu já devia ter capotado, mas cumpro minhas promessas. A noite chegou, a madrugada idem, e cá estou a editar fotos e a escrever. Melhor fazer isso, mesmo, com as coisas ainda fresquinhas na memória.

De manhã a Audi Tradition abriu a exposição dos brasileiros, cortei a fita inaugural, dei algumas entrevistas para a mídia local e gostei do que vi. São quatro DKWs nacionais, os três de que falei ontem (um Belcar 67, um Malzoni e um Fissore), mais um Puma DKW que pertence a um colecionador suíço de Pumas, isso mesmo, de Pumas. Walter Steffen é o nome da figura, que comprou esse vermelhinho há três anos pelo Mercado Livre.

Conheço gente que já fez isso lá do Brasil. Gente doida…

Os painéis estão OK, o filme do taxista japonês maluco com o Pelé e outros passageiros é genial (espero que me deem uma cópia amanhã) e estava tudo beleza na empresa.

Agora, ao que interessa.

A tarde foi reservada para uma visita secreta aos galpões secretos da coleção secreta da Audi Tradition, que na verdade mudou de razão social recentemente para Auto Union GmbH. Não me perguntem por quê. Parece que a Auto Union cuida da Tradition, do museu e de mais alguma coisa que não vem ao caso. Acho, mesmo, que a Audi quis ressuscitar Auto Union por alguma razão ainda secreta. Cheia dos segredos, a Audi.

Na verdade minha visita nem foi tão secreta assim e não colocaram uma venda nos meus olhos. O Alex, jovem mecânico da Tradition, me levou para um dos galpões no fundo da firma, onde por três pisos se espalham uns 200 carros que, vira e mexe, saem dali para eventos de clássicos por toda a Europa, ou passam uma temporada no museu. Esses 200 funcionam perfeitamente e tem de tudo nesses três andares, como se vê nas fotos abaixo — DKW, Horch, Wanderer, Audi, NSU, carros de corrida, de rali, protótipos antigos, motocicletas, peças, pneus, rodas e estoque de óleo dois tempos.

Alex catou o monstrengo vermelho que postei de manhã e me mandou sair pela cidade.

Vixemaria. Esse quattro Sport, 1983, vale cerca de 250 mil euros, me contou o garoto. Fizeram uns 200, só, para homologar e colocar no Mundial de Rali, e essa história todo mundo conhece: os quattro enrabaram todo mundo, até que a FIA proibiu um monte de coisa e acabou com o insano Grupo B.

Era meio insano jogar um negócio desses na minha mão, mas como sou um cidadão respeitador das leis e cumpridor das minhas obrigações, não fiz nenhum absurdo — 7 mil giros em primeira não são um absurdo. Com o Sport fomos, aí sim, ao galpão realmente secreto, que nem é tão secreto assim, porque nada que tenha capacidade para 500 carros dá para esconder.

Mas ninguém entra lá, não. Isso posso garantir. E não tem nada que identifique o local como sendo o depósito do acerto das quatro argolas.

Nesse galpão a Audi guarda carros mais modernos e todos os protótipos já construídos pela marca. Aqueles carros de salões de automóvel, sabem como é? Que nunca entram em produção. Um mais lindo que o outro. Mais uma porção de modelos que, por alguma razão, a empresa acha importante guardar. Sei lá, o primeiro A2, o último TT, o décimo-sexto A4, não tem muito critério.

Lá está também um carro que participou de um filme famoso, “I, Robot”, de 2004. Lembram dele? É o Audi RSQ. Infelizmente, não poderei revelar a história real do automóvel. Quando comentei com o amigo do Alex que me contou tudo, o rapaz que nos recebeu nesse enorme galpão, que meus leitores iriam adorar o caso, ele colocou as duas pesadas mãos nos meus ombros e disse: “Herr Flavio, sabemos onde o senhor mora e onde fica a escola dos seus filhos”.

Achei melhor ficar na minha. “Nem é tão boa assim essa história”, respondi ao gigantesco tedesco. Como vocês devem ter notado, nem fotos dessa monumental garagem pude tirar.

Voltamos para a sede da Tradition, dei uma passeada pelos três andares, reencontrei o conversível amarelo que me emprestaram para um passeio em 2008 e acabou a visita aos galpões secretos.

De noite, na abertura oficial da exposição, falei lá umas patacoadas, contei sobre o que se faz de DKW no Brasil, ouvi vários discursos em alemão que a Leila, santa Leila que conheço desde os tempos em que ela trabalhava no Brasil, traduziu e jantamos no próprio museu, em meio a DKWs de todos os tipos, ao lado de uma Schnellaster, de um F102, de várias motos e de tudo aquilo que, um dia, quando eu for presidente do mundo, vou confiscar e levar para casa. Contei umas mentiras para o povo dar risada e dei outras tantas com Peter Kober, meu brother, até que sua esposa teve um ligeiro mal-estar e ele se mandou para descansar.

O rango estava legal, e tinha até caipirinha. OK, a feijoada carecia de mais feijão, mas hoje nem é quarta-feira, então estão perdoados. Amanhã vou sentar num Monza vermelho para rasgar as estradinhas da região. Meu voo é só de noite. Pretendo secar um tanque, não menos.

LEGENDAS

Demorou, mas consegui inserir a galeria de fotos decentemente. Mas tive de sacar as legendas. Então, da esquerda para a direita, vamos a elas: 1) motoneta DKW Hobby, por ela eu matava alguém; 2) Puma, Malzoni, Fissore e 67, brasileirinhos em ação; 3) o filme descoberto nos arquivos da Audi, rodado em São Paulo, Santos e Brasília com o taxista doido; 4) 67 e JK, coisas do Brasil; 5) o Fissore que foi do Hélio Marques e o Malzoni restaurado pelo Rodrigo Theise, hoje parte do acervo da Audi; 6) selfie, porque também sei fazer; 7) uma woodie, a coisa mais linda do universo; 8) as verdadeiras Flechas de Prata; 9) o Type C ao lado de um Fórmula Jr; 10) um dos vencedores de Le Mans, como manda a tradição, sem ser lavado depois da corrida; ao lado dele, um dos monstrengos do WRC; 11) mais dois de Le Mans; 12) um dos carros da equipe de rali do Reino Unido; 13) o protótipo para o Grupo B que nunca correu porque a FIA extinguiu o campeonato; 14 e 15) um dois tempos dois cilindros de plástico; não, não é um Trabi, é uma imitação da Auto Union e só existe esse porque era protótipo; 16) belezinhas lado a lado, tudo DKW; 17) o F9, protótipo único de 1941, tendo ao lado o amarelinho que já foi “meu” em 2008 num passeio pela Saxônia; 18) a melhor moto de corrida de todos os tempos; 19) Auto Union na oficina, esperando pela revisão dos 80 anos; 20) vista geral da exposição, que deu certo, afinal.