Blog do Flavio Gomes
F-1

MOULES-FRITES (4)

SÃO PAULO (já) – Há um componente cruel nessa disputa entre Hamilton e Rosberg. Os caras eram amigos. Amigos de infância, desde moleques. Já adultos, finalmente caem na mesma equipe de F-1. Já pensaram em algo parecido? Você e seu melhor amigo de infância se tornarem pilotos de F-1 e na mesma equipe? E se […]

moules004SÃO PAULO (já) – Há um componente cruel nessa disputa entre Hamilton e Rosberg. Os caras eram amigos. Amigos de infância, desde moleques. Já adultos, finalmente caem na mesma equipe de F-1. Já pensaram em algo parecido? Você e seu melhor amigo de infância se tornarem pilotos de F-1 e na mesma equipe?

E se um dia tiverem chances de ganhar um campeonato? Dá para imaginar alguma coisa mais legal?

Pois o esporte acabou com a amizade. Lewis acusa Nico, que acusa Lewis, que aponta o dedo para Nico, que devolve o mesmo dedo para Lewis. Em Spa, as coisas passaram dos limites.

Não foi a primeira vez. Já tem alguns meses que a relação começou a se deteriorar. Me corrijam se eu estiver enganado. Foi em Mônaco? Lá Hamilton insinuou que Rosberg causou uma amarela de propósito na classificação para assegurar a pole. Depois vieram outras faíscas. Na Hungria, uma ordem (absurda) de equipe que Lewis desobedeceu. Rosberg não se conformou. E, hoje, finalmente, o que todos na Mercedes temiam. O toque.

De início, juro que achei que foi casual, coisa de corrida e tal. Olhando as imagens, continuo achando. Claro, coisa que dá para evitar. Quase tudo dá. Mas acontece, quando a briga é intensa, os carros são parecidos, a luta por cada ponto é nervosa e dramática. Ninguém bate no outro de forma tão cirúrgica, porém.

Não?

Pois Hamilton soltou o verbo. “Ele falou na reunião que foi de propósito. Perguntem a Toto e Paddy”, disparou, assim que saiu do “meeting” pós-GP.

Parece, portanto, que Nico falou mesmo. E deu de propósito mesmo.

Dá para imaginar atitude tão virulenta em alguém que parece tão dócil como Rosberguinho?

Lauda, Toto Wolff e outros deram declarações indignadas com o episódio. Um Senna x Prost 25 anos depois. Quem diria… OK, os pilotos não são tão bons, nem tão carismáticos. Mas a situação é muito semelhante: um time dominante, dois moços sedentos por vitórias e títulos, atritos inevitáveis.

Há alguns anos, em 2007, em Interlagos, perguntei numa coletiva a Hamilton e Alonso se eles não achavam que estavam desperdiçando sua juventude com aquela briga idiota na McLaren. Afinal, eram dois jovens talentosos, ricos, famosos e cheios de coisas em comum que poderiam ter um ao outro como o melhor amigo. E, ao contrário, estavam se transformando nos mais mortais dos inimigos, se odiavam e desprezavam mutuamente, viviam num ambiente de trabalho pavoroso, negativo, carregado.

Ambos acharam a pergunta esquisita. Alguns boçais entre os jornalistas deram risada de uma questão tão… humana. Cortaram o assunto dizendo que não se odiavam, que as coisas eram assim mesmo, next question, please.

Pois acho que a pergunta ainda é pertinente. Coincidentemente, um dos personagens é o mesmo, Hamilton.

Não há esporte, não há disputa, não há resultado que justifique o fim de algo tão nobre quanto uma amizade.

A amizade entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton, no entanto, já não existe mais. E nunca mais existirá.

Acho isso bem triste.