Blog do Flavio Gomes
F-1

FALA, FELIPE

SÃO PAULO (e está tudo bem) – Conheço Felipe Massa há uns 15 anos. Talvez um pouco mais, dos tempos em que ele corria na F-Chevrolet. Temos uma boa relação. OK, não frequentamos a casa um do outro, não tenho seu telefone celular, se jantamos juntos alguma vez foi em evento oficial da Ferrari, mas posso […]

SÃO PAULO (e está tudo bem) – Conheço Felipe Massa há uns 15 anos. Talvez um pouco mais, dos tempos em que ele corria na F-Chevrolet. Temos uma boa relação. OK, não frequentamos a casa um do outro, não tenho seu telefone celular, se jantamos juntos alguma vez foi em evento oficial da Ferrari, mas posso dizer que somos amigos. Tenho enorme carinho por ele, por conhecer seu passado, sua trajetória até chegar à F-1, sua família e tudo mais. Nossa intimidade, no entanto, se limitou a uma troca de presentes no começo do ano. Ele pediu um uniforme da Portuguesa para o Felipinho e eu mandei (parece que ele não tira o manto rubroverde nunca). E, como agradecimento, Felipe me enviou um par de luvas autografadas (que estão na parede de casa) e duas camisetas de Nomex que sobraram da Ferrari. Como temos mais ou menos a mesma altura, me serviram muito bem. Uso para correr e tiro a maior onda, porque ninguém tem esse negócio.

Hoje Felipe me ligou e estava razoavelmente puto.

Aqui se faz necessária uma observação. Massa nunca me telefonou para reclamar de nada. De nenhum texto, de nenhuma crítica, de nenhum comentário, de nenhuma palhaçada que faço no blog — e são muitas. Jamais, nunca mesmo, entrou em contato ou mandou recado para pedir nada, para escrever assim ou assado, para trocar uma foto, para “dar uma força”, para negar uma informação que a gente tenha dado com exclusividade — a assinatura com a Williams, por exemplo; na ocasião, ele disse a um interlocutor: “Uai, eles tinham a informação, deram, parabéns pra eles”.

Digo isso para reforçar que Massa é um sujeito absolutamente honesto e correto no trato com a imprensa, algo muito raro no meio. Não tenho nenhum reparo a fazer nestes 14 anos dele na Fórmula 1, a maior parte deles na Ferrari. E olha que na Ferrari as coisas sempre foram tensas, porque o nível de frescura da equipe é estratosférico.

Por isso, e só por isso, por sua honestidade e lealdade, julguei ser igualmente honesto e leal relatar aqui nossa conversa por telefone. Felipe ligou para dizer que o que escrevi sábado era mentira. É que o post em que expus minha estranheza pelo fato de ele ter declarado em vídeo seu voto em Aécio Neves, que acha que na Petrobras só tem ladrão e que o Banco do Brasil deveria ser bem menor do que é, deu a impressão de que ele só está na Williams por causa das duas estatais.

De fato, a frase dá margem a essa interpretação. “Felipe Massa seguiu na Fórmula 1, na Williams, muito graças à Petrobras e ao Banco do Brasil, empresas estatais que patrocinam a equipe e ajudaram a financiar sua vaga para 2014” é o que escrevi. O que quis dizer, e realmente não ficou muito claro, é que o dinheiro que a Petrobras e o Banco do Brasil colocam na equipe compõe seu orçamento, que é usado, entre outras coisas, para pagar o salário do piloto. Não afirmei que Massa conseguiu a vaga por causa das estatais. Até porque ele assinou com o time antes de Petrobras e Banco do Brasil. Teria sido contratado mesmo sem esses patrocínios.

É verdade. Admito que a maneira como escrevi foi dúbia, embora não tenha sido venal — não tenho motivo nenhum para ser venal com Massa. E reconheço, obviamente, que ele tem o direito de declarar seu voto em quem bem entender, e a partir do momento em que tal declaração se torna pública, as pessoas também podem achar o que bem entenderem. Não escrevi isso porque acho desnecessário, de tão óbvio que é.

Minha estranheza, repito, decorre do fato de Massa ter apoiado um candidato que tem uma visão tão torpe da Petrobras e do Banco do Brasil (e de outras estatais), como ficou claro por suas declarações na campanha eleitoral e pelas entrevistas de Armínio Fraga, que seria seu ministro da Fazenda. Foi o que expliquei a ele. Era um comentário que demonstrava apenas isso, minha estranheza, porque Petrobras e Banco do Brasil, hoje em dia, apoiam com força o automobilismo e merecem respeito, respeito que o ex-candidato nunca demonstrou. É evidente que Felipe não é obrigado a apoiar o PT só porque empresas do governo patrocinam sua equipe na F-1. Mas a maneira pela qual Aécio se referiu a essas empresas nos últimos meses desqualifica tudo que elas vêm fazendo no governo petista. Foi ele que adotou esse tom na campanha, não eu.

Acho que não convenci Massa, mas ele pelo menos ouviu o que eu tinha a dizer e nossa conversa foi franca e educada. Aceitei a queixa e prometi que iria escrever sobre o assunto para que nenhuma dúvida ficasse no ar. Isso posto, nos despedimos cordialmente, como sempre, e espero ter deixado as coisas mais claras agora.