Blog do Flavio Gomes
F-1

NASR LÁ

SÃO PAULO (ah, o futebol…) – A esta altura, todo mundo já sabe que Felipe Nasr será titular da Sauber no ano que vem. Deu no “Jornal Nacional”. E como todo mundo já sabe, deixa eu contar uma historinha. Eram mais ou menos 9 da noite quando o telefone do Victor Martins tocou. Estávamos numa […]

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SÃO PAULO (ah, o futebol…) – A esta altura, todo mundo já sabe que Felipe Nasr será titular da Sauber no ano que vem. Deu no “Jornal Nacional”. E como todo mundo já sabe, deixa eu contar uma historinha.

Eram mais ou menos 9 da noite quando o telefone do Victor Martins tocou. Estávamos numa pizzaria, eu, meu editor-em-chefe, a Suprema Evelyn, mais Gabriel, Vinicius, Renan e sua namorada. Parte do Grande Prêmio, pois. Pizzinha de semana de GP do Brasil, descontraída básica antes de mergulhar no autódromo. Era o Américo Teixeira Jr. no telefone. Aquele que não descansa nunca. “Nasr fechou com a Sauber.”

Uma frase bastou. Em poucos segundos, montamos uma redação na pizzaria. Computador na mesa, celulares acionados, a pizza teve de esperar um pouco. Em coisa de três ou quatro minutos a notícia estava na manchete do site. Na retaguarda, a Juliana Tesser colocou as primeiras informações no ar. Às 21h06 estava tudo resolvido.

Mas foi a Globo quem deu a informação primeiro. E nós, do Grande Prêmio, não gostamos disso. Detestamos quando somos furados. E a gente só não deu antes porque tem esquema. Isso mesmo, esquema.

A Globo não furou ninguém. Há um esquema montado há meses entre a emissora, o piloto e o Banco do Brasil, seu patrocinador. É o banco que está bancando (ops) a entrada de Nasr na Sauber, com 18 milhões de euros. Assim como bancou sua presença na Williams como piloto de testes. O acordo com a Globo é explícito. Em todas as corridas do ano Nasr foi entrevistado ao vivo durante as transmissões. No fim de semana, comentou o GP dos EUA para o Sportv. E a notícia de sua contratação pela Sauber foi programada para ir ao ar no “Jornal Nacional”. A equipe só divulgou seu press-release depois disso, às 21h13.

Não há méritos jornalísticos da Globo na divulgação dessa informação. Foi tudo combinado entre as partes. Mas há, no nosso caso, o demérito de não termos obtido a informação antes. Acontece, embora tivéssemos algumas pistas — mas não conseguimos confirmar, e não publicamos o que não confirmamos. Paciência, perdemos. Mas perdemos para um esquema comercial, algo que me desagrada profundamente. Não gosto do rumo que as coisas tomaram no esporte e no jornalismo.

Nasr está na Sauber por méritos? Sim, claro. É bom piloto, ganhou a F-3 Inglesa, briga pelo vice da GP2 neste ano. É piloto pagante? É, mas essa é a realidade da F-1 atual no segundo escalão — fora das grandes, só corre quem paga. Não tem problema nenhum aí. O problema é esse negócio de fazer esquema com emissora de TV e dar a ela informação privilegiada. Um mau começo.

No mais, o que dizer? Gutiérrez e Sutil perderam suas vagas para Nasr e Ericsson, este um piloto ruim, mas igualmente endinheirado. O mexicano também conseguira seu lugar graças a patrocínios de empresas de seu país. Secou a fonte, adeus à vaga. Nenhum dos dois vai fazer muita falta, e é assim que a banda toca.

O que Felipe fará na F-1? Difícil dizer. É jovem, 22 anos, e tem muita estrada pela frente. A primeira missão é ser mais rápido que o sueco, o que não deve ser muito complicado. Depois, construir uma trajetória, que pode ser resultar em qualquer coisa. Quando se chega à F-1, uma nova carreira começa. É impossível fazer prognósticos quando não se trata de alguém evidentemente genial, como eram Vettel, Hamilton e Alonso. Os normais podem virar qualquer coisa, até campeões do mundo — Rosberg está aí, que não me deixa mentir.

Que Nasr tenha toda a sorte do mundo, é o que desejo. A partir de agora, é com ele, com seu carro, com sua equipe, no campeonato mais difícil do mundo. Onde não tem esquema, e o que conta é o talento. Felipe tem, sem dúvida.