Blog do Flavio Gomes
F-1

S DA SALVELINA (14)

SÃO PAULO (todos gostam daqui) – Trinta e três milésimos de segundo. Foi a diferença de Rosberguinho, nossa Vênus Platinada, para Comandante Amilton, o Deus de Ébano das pistas. Foi a décima pole de Nico no ano, 14ª na carreira. Igualou alguns monstros nas estatísticas, como Alberto Ascari, James Hunt e Ronnie Peterson. E Barrichello, também. […]

SÃO PAULO (todos gostam daqui) – Trinta e três milésimos de segundo. Foi a diferença de Rosberguinho, nossa Vênus Platinada, para Comandante Amilton, o Deus de Ébano das pistas. Foi a décima pole de Nico no ano, 14ª na carreira. Igualou alguns monstros nas estatísticas, como Alberto Ascari, James Hunt e Ronnie Peterson. E Barrichello, também.

Sua volta de agora há pouco em Interlagos foi perfeita. Cravou 1min10s023 na segunda tentativa do Q3, um tempo espantoso, contra 1min10s056 de Lewis. “Mas só vai ser perfeito se eu ganhar amanhã”, falou o alemão. Faz sentido, a cautela. Porque Petit Rosberg tem tido alguns problemas com as poles neste ano. Só conseguiu ganhar duas das nove em que largou em primeiro — em Mônaco e na Alemanha.

A última lapada foi na semana passada, em Austin. “Lá eu aprendi o que tenho de fazer melhor.” Lá ele aprendeu que Hamilton, quando lhe dão a chance, engole sem dó, nem piedade.

Teremos mais uma vez, se as condições de temperatura e pressão forem normais, um GP da Mercedes e um GP dos Outros amanhã aqui neste circuito que fica entre lagos — na verdade, duas represas, por isso poderia se chamar Interrepresas, o que seria horrível. E que tem também os seus lagos próprios, que incrivelmente não secaram. As nascentes ficam dentro do autódromo, pelo que andei lendo, e a água tem sido bastante útil para lavar a pista, abastecer banheiros e cozinhas e tudo mais.

O pole dos Outros foi Felipe Massa, que teve um sábado bem legal.

Felipe sempre anda bem em Interlagos, já venceu aqui duas vezes, e realmente ganha uma motivação modelo “plus a mais” cada vez que sai dos boxes na pista de sua cidade. Agora, então, que os motores não fazem barulho, ele consegue até ouvir a torcida, que o aplaude e incentiva efusivamente. “Foi muito emocionante, estou muito emocionado. É sempre bom ter um carro competitivo aqui, fico muito feliz de ouvir a torcida, a energia deste lugar é única”, disse.

Essa energia fez com que Massa, desde ontem, mantivesse uma performance muito sólida em todos os treinos, suficiente para bater seu companheiro Walter Sapattos na hora em que era a sério, a classificação. Companheiro que de bobo não tem nada, pelo contrário. No Q3, Felipe ainda teve um problema que o deixou aflito, para dizer o mínimo. Depois de fazer sua primeira volta em 1min10s247, quase não conseguiu sair do box para a segunda tentativa. A equipe não conseguia ligar o carro. “Tentaram três, quatro vezes, e aí ligou. Mas quando saí, peguei tráfego, um monte de gente do lado.”

Por conta disso, nem completou sua volta. Na metade, viu que não ia dar e abortou. A sorte do brasileiro foi que Bottas, depois de virar 1min10s305, também errou na sua segunda tentativa. Mesmo assim, na pesagem pós-treino, Massa estava com cara de quem tinha perdido um campeonato.

Nem era para tanto. Primeiro, porque não conseguiria bater os tempos da Mercedes. Ele mesmo admitiu. “Mas dava para chegar um pouco mais perto, não usei tudo que meu carro tinha”, disse. Segundo, porque terceiro no grid, a pole dos Outros, estava de ótimo tamanho.

Na disputa mercêdica, Rosberg era o favorito, por ter andado na frente em todos os treinos até então. Também foi o mais rápido no Q1 e no Q2. Se não ficasse com a pole, teria de sair daqui e procurar um pai-de-santo. No primeiro round da briga interna, Hamilton meteu 1min10s195 e Nico, na sequência, enfiou 1min10s166. O inglês saiu de novo para chegar a 1min10s056, mas aí… Lá vem o Nico! Descendo o morro do S do Senna! Rosberguinho imediatamente respondeu com 1min10s023 e encerrou o papo.

Como se vê pela tabelinha absorvida da TV, Massa e Bottas chegaram mais ou menos perto dos prateados e o resto ficou a um ano de distância. Bonitton, Tião Alemão, Magnólia Arrependida, El Fodón de La Oitava Posición, Ricardão e Kimi Dera Já Fosse Segunda-feira fecharam os dez primeiros. Alonso, aliás, ficou na frente de Raikkonen pela 16ª vez em 18 grids no ano. Quando saiu do carro, um repórter espanhol se aproximou dele e perguntou, com toda delicadeza:

— Señor Alonso, o señor logró terminar na frente de su compañero de equipo pela 16ª vez en el año. La Ferrari no está se livrando del piloto errado?

Ao que Alonso parou, cofiou a enorme barba, olhou para o jornalista e respondeu:

— Não é uma decisão da Ferrari.

Uia! Tóin! Chupa, Ferrari! Aguardamos o anúncio oficial, já está passando da hora.

Nestes posts pós-Qs (Q1, Q2 e Q3, preciso explicar tudo), costumo reservar algumas linhas às duas primeiras partes da classificação, mas hoje elas não merecem muito, não. Como temos ridículos 18 carros no grid, cada Q degola apenas quatro, e assim não há surpresas. Ou, ao menos, nada muito relevante. Hoje, por exemplo, o Q1 deixou de fora, pela ordem, Grojã (que errou miseravelmente em sua volta rápida), Verme (muito mal, no mesmo Q1 K-Vyado ficou em oitavo), Maria do Bairro (que perderia sete posições no grid, mesmo, punição trazida dos EUA) e Maldanado. Na ausência das nanicas de verdade, Caterham e Marussia, a tendência era ver Lotus e Sauber nas quatro últimas posições. A Lotus confirmou. A Sauber até que se saiu bem e levou seus dois pilotos adiante.

Mas lá ficaram, porque no Q2 deu a lógica e avançaram as duplas das cinco grandes — Ferrari, Red Bull, Mercedes, McLaren e Williams. Assim, empacaram Gutierros, Hulk, Fútil e K-Vyado — este nem saiu dos boxes, porque tinha uma punição de sete posições no grid para pagar, por troca de motor em Austin. Ricciardo escapou por pouco. A equipe o liberou para uma única volta quando faltavam apenas 2min30s para o fim da sessão. Mas o sorridente australiano se virou bem.

Não caiu uma gota d’água durante as atividades de pista hoje. A temperatura esteve muito mais agradável que ontem, na casa dos 25 graus e sem sol. Agora, no momento em que escrevo, nuvens muito carregadas pairam sobre o autódromo e está na cara que vai chover. Amanhã, não sei.

O GP do Brasil será legal, como costuma ser, porque há uma perspectiva muito boa de pódio para Massa e de briga metro a metro entre Hamilton e Rosberg. Interlagos é um circuito ótimo para ultrapassagens. Elas vão acontecer aos borbotões, ainda mais com esse botão do ERS e com a asa móvel.

Falando em ERS, volto à Ferrari. Vocês devem ter notado a hora em que Alonso disse um “ai, ai, ai, mas será o Benedito?” no rádio. Pois é. Ele havia acabado de ser informado de que tinham-no mandado para a pista sem carregar totalmente as baterias do ERS.

Haja paciência com essa equipe.