Blog do Flavio Gomes
F-1

BUMERANGUES (3)

SÃO PAULO (vai ser osso) – É triste, muito triste, quando um campeonato de Fórmula 1 começa decidido. O formato atual da categoria não permite que alguém tire um segundo e meio de outro. Não há desenvolvimento possível. Esqueçam. Será um ano para ver Hamilton x Rosberg de novo, com nítida vantagem para o primeiro […]

booooo3SÃO PAULO (vai ser osso) – É triste, muito triste, quando um campeonato de Fórmula 1 começa decidido. O formato atual da categoria não permite que alguém tire um segundo e meio de outro. Não há desenvolvimento possível. Esqueçam. Será um ano para ver Hamilton x Rosberg de novo, com nítida vantagem para o primeiro — ganhou no ano passado, está com moral e, sobretudo, é melhor.

(Aqui, um parêntese para contar uma historinha. Em 2004, começo do ano, fui convidado pelo Reginaldo Leme para participar do extinto “Linha de Chegada”. Foi logo depois do GP da Austrália. No debate com os colegas de mesa, me perguntaram quem era o favorito ao título. Schumacher já é o campeão, respondi. Mas, Flavinho, ninguém pode reagir? As coisas na F-1 mudam rápido, alguém argumentou. Não, disse eu. Schumacher já é o campeão. No primeiro treino livre de sexta em Melbourne já era possível afirmar: Schumacher fecha essa parada na metade do ano. Alguns ficaram indignados. Como assim? Acabar com o campeonato antes de começar? Achei, até, que a indignação tinha a ver com aquele negócio de manter as expectativas altas, produto da casa e tal. Posso estar sendo maldoso. Mas tive essa impressão. Agora, alguém poderá dizer que dou um tiro no pé ao afirmar que o campeonato já acabou. Afinal, temos um site, e ele precisa de audiência. Bobagem. Quem gosta, vai ver mesmo assim. E mentira não é comigo.)

Lewis fez a pole em Melbourne agora há pouco. Foi a 39ª de sua carreira. Com uma facilidade irritante. Foi o melhor no Q1. No Q2, também. No Q3, a trolha foi de 0s594 em Rosberguinho. E de 1s391 no terceiro colocado, o “pole dos outros”, Felipe Massa — aplausos para o brasileiro da Williams, que fez uma excelente volta para conseguir seu tempo depois de errar na primeira tentativa.

Tempo do mercêdico: 1min26s327. Demais, não? Não. Uma bosta. O recorde da pista é de Vettel, 1min23s529 em 2011. São 3s de diferença. Os caras gastam os tubos, inventam baboseira em cima de baboseira — a maior delas debaixo do capô, essas patéticas unidades de força que só quebram e atrapalham a pilotagem –, e os carros de 2015 são 3s mais lentos que os de 2011. Parabéns aos envolvidos, como diz Rodrigo Mattar.

A classificação para o GP da Austrália, nesta F-1 da Depressão (alguém viu alguém sorrindo nos boxes?), começou com 18 gatos-pingados na pista, já que a Manor Marussia não conseguiu ligar seus carros. A equipe, oficialmente, continua se chamando Marussia, apenas, porque entre outras bobagens da F-1 está a estupidez de um time não poder mudar de nome de um ano para o outro, sob pena de perder suas premiações em dinheiro (o que fez a Sauber correr como BMW Sauber em 2010 usando motores Ferrari, algo inacreditável).

Por que esses caras foram até a Austrália, coitados? Gente, eles sequer conseguiram dar a partida nos motores! Parece que o problema são programas de computador que foram apagados na mudança de dono e de fábrica. Sem eles, motor não liga. Tudo tem de ser programado de novo. Como é que uma categoria convive com uma insanidade dessas? Porra, num carro normal você joga gasolina no carburador que a merda pega! Que diabos são esses carros, que só funcionam com softwares complicadíssimos instalados em supercomputadores? São carros? Não, são uma derrota.

Bem, entre os 18 gatos-pingados estava a McLaren, se arrastando sem patrocinadores, fazendo tempos dignos de GP2. O Q1 eliminou apenas três carros, porque os dois da Marussia, de uma forma ou de outra, estavam inscritos. Se alguém achar as chaves desses carros, quem sabe eles largam amanhã… E, como era previsível, dois dos degolados eram do time de Ron Dennis. Button virou 1min31s422. Magnussen, 1min32s037. Quase 9s pior que o recorde de 2011. Qual motivação tem um piloto, um campeão do mundo como Button, para sentar num automóvel e virar 9s mais lento do que quatro anos antes?

O outro limado no Q1 foi Sonyericsson, da Sauber. “Lá vem o Marcus!”, ficou gritando um mecânico pendurado na mureta, “descendo a reta pra ser degolado!”. É bem ruinzinho, esse moço.

Destaques no Q1? Bom, sempre tem. Verstappinho em quarto foi bem. E um pequeno susto para Nasr, 15º colocado, na rabeira da rabeira. No mais, tudo normal, inclusive a última fila da McLaren que inicia sua nova aventura com a Honda de um jeito mais do que preocupante. Sim, porque é a pior performance da história da equipe, que tem quase 50 anos. Duro golpe, tristeza geral.

(Na Espanha, Alonso viu tudo pela TV. E traçou uma estratégia. Quando a empregada lhe trouxe o café da manhã, agradeceu em italiano e disse a ela que , quando crescesse, queria ser piloto de carros que nem aqueles caras da TV. Depois olhou para a namorada e perguntou quem era ela. A governanta estranhou aquele comportamento e telefonou para os pais de Fernandinho. Que chamaram imediatamente seus médicos. Neste exato instante, Alonso está dizendo a eles que se chama Pablo do Arrocha, que tem show amanhã em Itabuna e que precisa ensaiar sua sofrência. Os médicos, diante de tal quadro, vão informar à McLaren que ele está meio atrapalhado das ideias e que só poderá voltar a correr, se voltar, depois de julho.)

No Q2, Comandante Amilton mostrou que não estava para brincadeira e entrou na casa do 1min26s. Os eliminados foram Nasr, com um aceitável 11º lugar (a Sauber trapaceou na pré-temporada andando em segundo e terceiro o tempo todo, mas faz parte, só se engana quem quiser), Verstappinho, K-Vyado, Hulk e Maria do Bairro. O jovem Max, que tinha andado tão bem no Q1, acabou sendo ofuscado por Carlinhos Sainz Idade Para Andar Com Adultos, oitavo colocado.

No Q3, pela primeira vez notei a telinha no cockpit da Williams, que parece aquele GPS que a molecada compra no xingue-lingue (onde a Marussia deveria ter procurado seus programas de computador). As informações saíram do painel que ficava no volante. Interessante. E irrelevante. Hamilton virou 1min26s419 e poderia ir embora soltar bumerangues, se quisesse, porque Rosberguinho, depois de errar na primeira tentativa, fez apenas 1min26s921 na segunda. Mas o inglês foi para a pista de novo e baixou ainda mais seu tempo.

Massacrado em terceiro, Tião Italiano em quarto, Tagarela Raikkonen em quinto, Sapattos em sexto, Ricardão em sétimo, Sainz Idade em oitavo, Grojã em nono e Maldanado em décimo. Aí estão os primeiros colocados desse grid magérrimo que abre na madrugada de amanhã, às 2h, o Mundial de 2015.

Não será uma boa corrida, infelizmente. Não será um bom campeonato, infelizmente.

Mas vamos ver tudo mesmo assim.