Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

PIQUET & SENNA

SÃO PAULO (incrível) – O mundo do esporte dá voltas. Ô, se dá… Quis o destino que hoje um Senna tenha ajudado um Piquet a conquistar um título mundial. A Fórmula E encerrou sua temporada com uma rodada dupla em Londres que teve tudo aquilo que o fã do automobilismo gosta. Drama, tensão, chuva, ultrapassagens, […]

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Pilotoon de Bruno Mantovani

SÃO PAULO (incrível) – O mundo do esporte dá voltas. Ô, se dá… Quis o destino que hoje um Senna tenha ajudado um Piquet a conquistar um título mundial. A Fórmula E encerrou sua temporada com uma rodada dupla em Londres que teve tudo aquilo que o fã do automobilismo gosta. Drama, tensão, chuva, ultrapassagens, alto nível de pilotagem, punições, suspense até o último instante.

E Piquet. E Senna.

Dois que nunca se deram, Nelson pai e Ayrton tio.

Dois que se dão, Piquet filho e Senna sobrinho.

Hoje, Nelsinho era o que tinha menos chances de ser campeão, apesar de liderar nos pontos. Sua classificação, pela manhã, foi um desastre. Não por sua culpa. Os dois últimos grupos pegaram pista molhada. Buemi, que ao lado de Di Grassi brigava com o título também, andou com pista seca.

Resultado: Buemi em sexto no grid, Di Grassi em 11°, Piquet pimpolho em 16°. Nessas condições, num circuito estreitíssimo, era muito difícil conseguir chegar perto o bastante do suíço. O normal seria ver o ex-piloto da Toro Rosso ganhando uma ou duas posições, tentar uma volta mais rápida, que dá dois pontos, e faturar o título — ainda que por pequena margem. Lá de trás, o brasileiro teria enormes dificuldades, talvez, até para pontuar.

[bannergoogle] Mas Nelsinho largou muito bem. Ganhou quatro posições de cara. Um dos que estavam à sua frente era o companheiro de equipe, o que facilitaria as coisas quando fosse necessário. No primeiro stint, Piquet segurou a onda para trocar de carro depois dos outros. Não deu muito certo, nem muito errado. Voltou onde estava, de novo atrás do parceiro, mas a quase 10s dele.

Aí a sorte deu u’a mão. Ou duas.

Primeiro, Buemi rodou quando saiu dos boxes e perdeu a posição que ganhara no início da prova. Foi ultrapassado por Bruno Senna. A matemática entrou em campo.

Depois, um safety-car na 20ª das 29 voltas aproximou todo mundo — batida de Leimer. Isso permitiu que na relargada Nelsinho passasse o parceiro Oliver Turvey e, na balada, ganhasse também a posição de Salvador Durán — esta, sua ultrapassagem mais fácil e importante na corrida. Assumiu o oitavo lugar. Imediatamente à frente, o inimigo Di Grassi. Tentar algo sobre ele estava fora de questão — Lucas mandaria o jovem Piquet para o lago do Battersea Park. Assim, restava torcer para tudo acabar como estava. Com Buemi em sexto, Nelsinho seria campeão por um mísero ponto. “Vai, Bruno!”, deve ter gritado dentro do capacete.

Claro que a e.dams avisou seu narigudo piloto de que a vaca estava indo para o brejo. E ele partiu para cima de Senna alucinadamente, porque era a única chance que tinha de ser campeão. O primeiro-sobrinho foi duro na defesa de sua posição, mas não fez nada de errado. Se não se esforçasse tanto, tiraria o título de Nelsinho. Senna segurou uma barra pesadíssima, porque o helvético tinha mais carro e, claro, motivos mais do que suficientes para passar por cima dele. Mas Bruno ficou firme. E deu a taça a Piquet.

Um Piquet. E um Senna.

Buemi ficou bravo, gesticulou em direção a Bruno, mas estava mais irritado consigo mesmo do que qualquer outra coisa. “Ele se colocou nessa posição quando rodou sozinho e eu o ultrapassei”, disse Bruno. Tinha toda razão. No final, o vencedor Sarrazin foi punido com 30s em seu tempo total de prova por usar mais potência do que o permitido e a vitória ficou com o inglês Sam Bird. Bruno foi o quarto, com Buemi em quinto, Di Grassi em sexto e Nelsinho em sétimo.

Piquet pilotou muito bem durante toda a temporada. Ganhou duas corridas, aprendeu rápido a lidar com carros que eram uma novidade total, soube usar de estratégia, foi agressivo quando precisou, largou quase sempre de forma precisa e decisiva, mereceu amplamente o que conquistou. Foi por um ponto, 143 x 144. Quando seu pai ganhou o Mundial de F-1 pela primeira vez, em 1981, também foi por um ponto, 50 x 49 na disputa com Carlos Reutemann.

Os deuses das corridas capricham, quando querem.