Blog do Flavio Gomes
Autódromos

COMO ASSIM, PREFEITO?

SÃO PAULO (errado, tudo errado) – O engenheiro Chico Rosa é uma das figuras mais importantes da história do automobilismo brasileiro. Arriscaria dizer que, pilotos à parte, porque ele não pilota, é o cara mais importante da história do automobilismo brasileiro. Sim. O cara mais importante da história do automobilismo brasileiro. Não preciso repetir aqui […]

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SÃO PAULO (errado, tudo errado) – O engenheiro Chico Rosa é uma das figuras mais importantes da história do automobilismo brasileiro. Arriscaria dizer que, pilotos à parte, porque ele não pilota, é o cara mais importante da história do automobilismo brasileiro.

Sim. O cara mais importante da história do automobilismo brasileiro. Não preciso repetir aqui tudo que já foi escrito sobre ele, como neste excelente perfil no “Nobres do Grid”.

Chico foi se meter com corridas em 1958, quando ainda era estudante em São Paulo. Passou a frequentar Interlagos graças à amizade com Cyro Caires. Trabalhou para a equipe Willys comandada por Luiz Antônio Greco, era amigo do peito de Paulo Goulart, da Dacon, e no final dos anos 60 passou a ser o principal elo entre pilotos brasileiros e a Europa.

Foi Chico quem levou Emerson Fittipaldi para a Inglaterra.

Foi Chico quem levou José Carlos Pace para a Inglaterra.

Foi Chico quem apresentou Nelson Piquet a Bernie Ecclestone.

Chico Rosa tem participação direta em cinco dos oito títulos mundiais conquistados por pilotos brasileiros na Fórmula 1.

Em 1975, passou a trabalhar na administração de Interlagos. Nos últimos 40 anos, nada aconteceu no circuito sem passar por suas mãos. É uma espécie de “prefeito do autódromo”. Todas as reformas, sejam elas no traçado, sejam na área de infraestrutura — box, escritórios, centro médico, paddock, torre, tudo, absolutamente tudo –, foram de sua responsabilidade.

Há alguns anos, na gestão de José Serra, a administração de Interlagos passou para uma empresa de capital misto, a SPTuris, que tem como sócia majoritária a Prefeitura da cidade. É na SPTuris, que também cuida de outros eventos e equipamentos da cidade, como o complexo do Anhembi, o Carnaval, Virada Esportiva, Virada Cultural, que Chico Rosa passou a trabalhar deste então.

Só que a empresa é deficitária, tem problemas de caixa, sei lá o quê. Aí assumiu um presidente novo, que não sei quem é, e foi orientado a cortar despesas.

Como todo executivo que não entende nada de nada, o cara pegou a lista dos salários dos funcionários da empresa e foi riscando aqueles que ganhavam mais. Cortar custos, na maior parte das vezes no Brasil, significa cortar gente — o que é uma sandice.

E Chico Rosa foi demitido da SPTuris.

E Chico Rosa não vai mais trabalhar no autódromo.

E Chico Rosa, 40 de seus 73 anos de idade dedicados a Interlagos, não será mais seu “prefeito”.

É uma burrice fenomenal. Chico não trabalha no autódromo por caridade de ninguém. É um funcionário exemplar e, sobretudo, o sujeito que mais conhece aquele palco no Brasil. É figura de confiança de Bernie Ecclestone e de Tamas Rohonyi, organizador do GP do Brasil. Se Interlagos ainda existe, não é exagero nenhum afirmar que deve isso a Chico Rosa — à sua competência, ao seu conhecimento, ao respeito que desfruta de pilotos, donos de equipe, dirigentes, engenheiros, gestores públicos.

Como é que se manda embora alguém como Chico Rosa? Qual critério o presidente da SPTuris seguiu para dispensar seus serviços? Apenas salário? Olha, que me desculpem, nem sei quanto o Chico ganhava, mas certamente está longe, muito longe de resolver os problemas financeiros de qualquer empresa.

Não sei o que vai acontecer agora. Sei que gente importante está sabendo da demissão absurda. Gente muito importante, diga-se. Agora cabe ao prefeito Fernando Haddad — que, em última análise, é o chefe da SPTuris — corrigir a burrada. Revogar a demissão. Passar um pito no presidente da empresa. E recolocar Chico Rosa no posto que lhe cabe. De novo, não por caridade. Mas por merecimento e necessidade.

Interlagos sem Chico Rosa vai virar uma zona, terreno fértil para cagadas monumentais de gente que não entende nada de corridas, nem de autódromos.

Abrir mão de alguém como Chico Rosa é simplesmente uma estupidez.