Blog do Flavio Gomes
#69

BEM-VINDO, GAROTO

SÃO PAULO (que sejamos felizes) – Foi em abril que o Nenê Finotti, meu chefe de equipe, telefonou para me dar uma dura. Como assim, parar de correr? Não dava mais, o Meianov tinha chegado ao seu limite, encerrou sua linda trajetória no final de janeiro com um troféu de primeiro colocado que ganhou quase […]

SÃO PAULO (que sejamos felizes) – Foi em abril que o Nenê Finotti, meu chefe de equipe, telefonou para me dar uma dura. Como assim, parar de correr? Não dava mais, o Meianov tinha chegado ao seu limite, encerrou sua linda trajetória no final de janeiro com um troféu de primeiro colocado que ganhou quase de presente, pois foi inscrito numa categoria que só tinha um participante. Uma homenagem merecida para quem estava se despedindo, pequena taça guardada com muito carinho, ainda que conquistada sem competição nenhuma.

Vamos voltar, disse o Nenê. Mas com que carro, com que dinheiro?, perguntei. A gente dá um jeito, ouvi como resposta e, mais do que isso, ordem de um chefe de equipe que o piloto simplesmente tem de obedecer, sem questionar demais.

Pensamos em vários carros. Passat, Gol, Fiat, cheguei a especular um DKW “Pé na Bunda” com motor de Up! ou Hyundai, por terem três cilindros ambos, mas a adaptação seria complicada, tirar injeção, colocar carburador, inventar câmbio, e não seria um dois tempos, a ideia foi prontamente descartada. Não sabia realmente o que fazer. Aí apareceu esse carinha aí embaixo.

Amor à primeira vista? Seria um exagero, dizer isso. Ainda estava sob o impacto do fim da carreira do bravo soviético, sentia que seria quase uma traição pensar em correr com outro carro. Mas, aos poucos, fomos nos entendendo.

Fizemos uma conta, ponderamos as possibilidades, e com a generosidade de sempre o Nenê decidiu: vamos fazer. Você vai gostar dele.

Passaram-se sete meses. Fizemos um motor, consegui os pneus com a Pirelli, os instrumentos com a Cronomac, arrumamos um câmbio, comprei cinto e banco, o Marcel Marchesi se encarregou de bolar uma pintura, e finalmente o Voyage #69 está pronto.

Ele ainda não tem nome. Estreia neste fim de semana no norte do Paraná, no IX GP do Café, que faz parte da programação das 500 Milhas de Londrina. O Nenê já andou com ele em Piracicaba, “disfarçado” com a pintura antiga.

Sei pouco do meu Voyage. Parece que correu nos anos 90 em alguma categoria do Paulista. Não sei sequer o ano em que foi fabricado. Mantive-me razoavelmente distante de sua construção, por vários motivos — nada de especial, muito trabalho, pouco tempo.

Vamos começar a nos conhecer sexta-feira em Londrina. Farei muitas perguntas, ele há de responder — e perguntar, também. Conversaremos bastante, passarei alguns minutos sozinho com ele debaixo da tenda que vai abrigar a turma da Classic Cup. Meu Voyage não tem nome, ainda. Isso vai ficar por conta de vocês — mandem sugestões, vamos fazer um novo concurso, os três finalistas que escolherei serão votados, ganharão algum brinde, prometo. Digam o que acharam, enviem mensagens de apoio, falem tudo o que pensam do #69 made in São Bernardo, motor AP 1.6, carburador mini-progressivo.

Eis aí meu novo amigo, embarcando para a primeira de suas longas jornadas com este velho escriba apaixonado por carrinhos antigos que correm. Espero que sejamos felizes juntos, tanto quanto fui com o #96 e com o inesquecível Meianov.