Blog do Flavio Gomes
Autódromos

O QUE PENSAR?

SÃO PAULO (não sei bem) – Conheço Tamas Rohonyi há anos e gosto muito dele. É o organizador do GP do Brasil há décadas, e já tivemos alguns arranca-rabos por conta de coisas que escrevi sobre a corrida de Interlagos em anos passados. Mas nunca faltou algo essencial da parte dele: respeito. Por isso, respeito […]

SÃO PAULO (não sei bem) – Conheço Tamas Rohonyi há anos e gosto muito dele. É o organizador do GP do Brasil há décadas, e já tivemos alguns arranca-rabos por conta de coisas que escrevi sobre a corrida de Interlagos em anos passados. Mas nunca faltou algo essencial da parte dele: respeito.

Por isso, respeito muito a posição que o promotor externou sobre a F-1 no Brasil em entrevista ao Grande Prêmio. Segundo Tamas, a corrida vem dando prejuízo porque as empresas que patrocinam o evento têm cada vez menos dinheiro para gastar, e os custos para sua realização só aumentam.

Não duvido. A F-1 é um evento caro, mesmo. O promotor usa exemplos de GPs em outros países, como Rússia, Abu Dhabi, China e Cingapura, que contam com fortes investimentos dos governos locais. Algo que não acontece aqui, embora a Prefeitura gaste todos os anos alguns bons milhões para montar e desmontar arquibancadas, e também esteja gastando para adequar o autódromo às exigências da categoria.

É tudo verdade. O que não quer dizer que seja correto. Apesar das vantagens que uma cidade aufere quando sedia uma competição esportiva de porte, é preciso ter em vista que qualquer evento desses tem caráter privado. São vendidos ingressos, camarotes, placas de publicidade, direitos de transmissão etc. Tudo isso compõe a receita que deverá ser contraposta às despesas — que são muitas, incluindo a taxa que o organizador tem de pagar a Bernie Ecclestone para ter o direito de fazer uma corrida. No final de tudo, se a conta ficou no azul, ótimo. Se ficou no vermelho, é preciso entender o que aconteceu.

Se tem tanta gente interessada em entrar no calendário, é porque de alguma forma esse negócio dá lucro. Não fosse assim, Tamas não estaria há tanto tempo à frente do GP — há alguns anos, a Globo comprou sua empresa e passou a ser, na prática, a promotora da corrida. Segundo Tamas, ela tem subsidiado o GP.

Acho que “subsídio” não é palavra que se aplica, neste caso. A Globo está pagando o que tem de pagar para fazer um evento que é dela, e com o qual gera receita para, teoricamente, arcar com as despesas e colocar algum no bolso. Se essa fórmula não está mais dando certo, vai ser preciso rever seu modelo de negócios, buscar dinheiro em outros lugares, dar um jeito de fazer do GP um evento sustentável, de alguma forma.

Mas é na iniciativa privada, no deus mercado, que a Globo terá de procurar suas saídas. E não pedindo dinheiro para governo, qualquer governo, sob a alegação de que o evento gera receitas para a cidade e ela, portanto, precisa ajudar a pagar a conta.

Essa conta já está sendo paga com a simples existência do autódromo, que é público, custa caro na sua manutenção e passa por obras todos os anos para atender ao que a FIA pede — Globo e FOM não ajudam nas despesas, e nem tinham de ajudar, mesmo. Mas quando fecham Interlagos para seu evento particular, aí passa a ser problema delas. O governo entra com a pista, cuida das arquibancadas e olhe lá. Não fosse o poder público, nem haveria uma pista para correr. E não faz sentido que sua participação vá além disso.

É o capitalismo, Tamas. Que você conhece bem.