Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

NO CRONÔMETRO

SÃO PAULO (que doideira) – Buemi, finalmente. O suíço ganhou o título da Fórmula E hoje em Londres do jeito mais esquisito de todos: numa corrida-solo contra o relógio, ao fazer a melhor volta da prova. Mas não porque estava num ritmo alucinante e tudo mais. Porque foi o que restou a ele. Assim como […]

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SÃO PAULO (que doideira) – Buemi, finalmente. O suíço ganhou o título da Fórmula E hoje em Londres do jeito mais esquisito de todos: numa corrida-solo contra o relógio, ao fazer a melhor volta da prova. Mas não porque estava num ritmo alucinante e tudo mais. Porque foi o que restou a ele. Assim como a Di Grassi. Os dois decidiram o campeonato nos dois pontos da volta mais rápida, item previsto no regulamento da categoria. E isso graças a um acidente inacreditável na primeira volta da segunda corrida londrina no fim de semana, que tirou ambos da luta por qualquer posição que pudesse valer pontos.

Inacreditável porque não deu para entender a batida de Lucas na traseira de Buemi — um abandono duplo daria o título ao brasileiro por ter um terceiro lugar a mais do que o helvético. Não é do feitio do piloto da Audi-Abt fazer coisas que não o deixem dormir em paz. E foi logo na largada.

[bannergoogle]O feioso narigudo da Renault pulou na frente, mantendo a pole. Prost, seu companheiro e segundo no grid, foi na escolta e Di Grassi, terceiro na partida, em terceiro ficou. Tudo normal. Mas na primeira freada forte, Lucas jogou o carro para a direita, tirou de Prost e acertou em cheio a traseira de Buemi. Foi muito doido. Mas foi, sobretudo, um erro primário do brasileiro.

Ainda não ouvi as declarações pós-corrida de cabeça fria. No rádio, Lucas falou que Buemi freou muito cedo. Mesmo que isso tenha acontecido, quem vem atrás precisa tomar cuidado e contar com freadas antecipadas de quem está na frente, que estabelece o ritmo de corrida que quiser. É é normalíssimo frear um pouco mais cedo na primeira volta porque freios estão frios, pneus idem, não faz sentido brecar no deus-me-livre.

Portanto, olhando apenas o que aconteceu e sem saber de detalhes — sei lá se Lucas ficou sem freio, mas creio que não –, a responsabilidade pela batida é dele. O piloto nega e fala que Buemi brecou 50 metros antes do que devia. Sigo com minha opinião. O suíço freia onde quer, desde que não esteja fazendo um “brake-test” de sacanagem, e evidentemente não era nisso que estava pensando na primeira volta de uma corrida decisiva, sabendo que podia perder o título ali.

Sorte de ambos, e para a decisão do campeonato, que os dois levaram seus carros arrebentados para os boxes, pegaram os carros novos e partiram para a decisão via volta mais rápida — já que não teriam bateria para ir até o final.

Lucas fez a dele primeiro. Mas Buemi devolveu depois com duas voltas muito boas, entrando e saindo das garagens ao comando da equipe, que o soltava na pista quando o caminho estivesse livre. O mesmo fazia a Audi com Lucas. Briga de gato e rato.

Mas, com um carro melhor, para Buemi era apenas questão de acertar uma volta perto da perfeição — imaginem a tensão — para sacramentar a conquista, que no fim das contas, embora pouco usual, foi justa. Sébastien levou uma pancada do destino na primeira temporada da F-E ao perder o título para Nelsinho na última etapa, e outra há alguns dias em Le Mans — fazia parte da tripulação da Toyota que perdeu as 24 Horas a três minutos do final.

Por isso chorou tanto ao sair do carro. Até que enfim os ventos sopraram para seu lado.

A F-E volta em outubro com muitas novidades no calendário de seu terceiro campeonato. China, Malásia, Uruguai e Rússia deixam a categoria para a chegada de Montreal, Bruxelas, Nova York e Marrakech. Mônaco volta, Paris fica, Londres será em outro lugar. Várias mudanças e encerramento na “Big Apple” com rodada dupla — assim como no Canadá. Tem também um evento em Las Vegas, uma “corrida virtual” com pilotos e fãs em simuladores. Vai ser legal. Por enquanto, duas temporadas emocionantes e interessantes. Que continue assim.

Quanto a Lucas, pode-se dizer que perdeu o título por conta da corrida de Berlim, em que a Audi não deu ordem para Abt deixá-lo assumir o segundo lugar. Lucas não reclamou e disse que preferia assim — nada de ordem de equipe. Curioso é que Abt disse que não se importaria.

No fim, foi o que decidiu o campeonato. Mas é claro que alguém há de lembrar da desclassificação no México, por erro do time. E, na primeira temporada, outra desclassificação em Berlim — também bobeada do time. Lucas poderia hoje, se essas duas vitórias fossem confirmadas, estar comemorando o bicampeonato. Me parece ser o melhor piloto da Fórmula E — seus resultados são muito expressivos.

Mas é assim que são as corridas. Tem de partir para a próxima. Não há outro caminho.