Blog do Flavio Gomes
F-1

SPA, 25 ANOS ATRÁS

SÃO PAULO (estrada, é tudo que quero) – Amanhã, dia 25, a estreia de Schumacher na F-1 faz 25 anos. Foi no GP da Bélgica de 1991, história mais do que conhecida — correu pela Jordan no lugar de Bertrand Gachot, que tinha sido preso em Londres depois de uma briga com um taxista. Com […]

SÃO PAULO (estrada, é tudo que quero) – Amanhã, dia 25, a estreia de Schumacher na F-1 faz 25 anos. Foi no GP da Bélgica de 1991, história mais do que conhecida — correu pela Jordan no lugar de Bertrand Gachot, que tinha sido preso em Londres depois de uma briga com um taxista.

Com 300 mil dólares da Mercedes na mão, Eddie Jordan não pensou duas vezes e alugou seu cockpit vago para aquele alemão que se destacava no Mundial de Marcas pela Sauber-Mercedes. A corrida de Michael durou muito pouco. Quebrou na primeira volta. Mas foi no dia anterior que ele assombrou todo mundo.

[bannergoogle]No sábado, 24 de agosto de 1991, o estreante Schumacher se classificou em sétimo lugar no grid. Ficamos espantados naquele dia em Spa menos pela posição — melhor que ele foi Pierluigi Martini, de Minardi, em nono… –, muito mais por ver um novato que nunca tinha andado no circuito belga e só tinha sentado num carro de F-1 uma vez, num teste arranjado às pressas para arrumar o banco e aprender o básico de seu funcionamento. Não dava para negar que era um resultado surpreendente.

E não fomos só nós, os jornalistas, que achamos isso. Flavio Briatore, ratazana cinzenta que comandava a Benetton, viu naquele moço de queixo grande e corte de cabelo cafona um campeão em potencial. Melhor ainda: com uma empresa como a Mercedes disposta a apostar nele. Não teve dúvidas. Na prova seguinte, em Monza, lá estava Schumacher na equipe colorida, no lugar do demitido Roberto Moreno. O resto é história.

Um quarto de século, exatamente hoje, se passou desde aquele sétimo lugar no grid. Devo ser sincero. Schumacher foi espantoso, mas não saí dizendo que seria o próximo campeão mundial. Na verdade, o assunto naquele fim de semana era mesmo Gachot — além, claro, da disputa do título entre Senna e Mansell.

Mas, na sexta-feira, dediquei algumas linhas ao rapaz, que fizera um ótimo tempo naquilo que a gente chamava de “primeiro treino oficial”. Os tempos de sexta, vocês se lembram, serviam para formar o grid. Vejam:

Essa foi a edição de sábado da “Folha”, onde eu trabalhava. Que diferença… Duas páginas de F-1 num jornal. Bom, Schumacher mereceu uma “retranca” (não vou explicar de novo o que é; procurem no Google, em “jargões do jornalismo impresso”, ou algo assim). “Surpreender” foi o verbo que usei. Michael elogiou o carro e disse que seria mais rápido no segundo treino. “Que ninguém duvide”, escrevi, para depois apostar que ele poderia “assumir a condição de melhor piloto germânico dos últimos tempos”, o que faria a alegria de Bernie Ecclestone, “louco para que a Alemanha produza um ‘top driver’ capaz de popularizar ainda mais a F-1 no país”. Esse “(FG)” no fim do texto sou eu.

E no sábado veio o sétimo tempo no grid, mas o movimento pró-Gachot era mais interessante e divertido (ganhei até uma camiseta, que não sei onde foi parar), e por isso Schumacher não mereceu tanta atenção do repórter aqui na edição de domingo.

A menção ao estreante da Jordan foi mais discreta que no dia anterior, no “pé” do texto sobre uma passeata que estava sendo planejada para pedir a liberdade do piloto belga encarcerado na Inglaterra. Foram dois parágrafos para dizer que o alemão “voltou a dar um show” e que estava “deslumbrado com a fama instantânea”. “Nunca dei tantas entrevistas na minha vida”, disse um ainda tímido Michael, espantado com o novo ambiente “muito diferente de tudo que já tinha visto”.

O domingo foi de Senna, que ganhou a prova e praticamente sepultou a reação da Williams. Piquet, em terceiro, subiu ao pódio pela última vez na F-1. No final daquele ano, deixaria a categoria. Schumacher, como já mencionado, abandonou pouco depois da largada. Quem acabou chamando muito mais a atenção foi Andrea de Cesaris, seu companheiro na Jordan. “Ontem ele foi a estrela do dia na Bélgica, o ‘segundo colocado moral’ do GP”, escrevi no jornal da segunda-feira. O italiano estava dando um calor em Senna quando quebrou, no finalzinho da corrida. Uma judiação. Tanto que abrimos uma “retranca” (não sei por que coloco entre aspas, todo mundo deveria saber o que é uma retranca) para ele. No “pé”, registrei a curta prova de Schumacher, que parou com “problema na embreagem”.

Gosto de rever essas coberturas, ler o que escrevi há tanto tempo, ver como a F-1 tinha espaço e relevância na imprensa. Era, realmente, outro mundo. Gosto também de lembrar de Schumacher, o maior piloto que vi na vida, e que hoje segue envolto em mistério na sua mansão na Suíça. Era um talento excepcional e, ao contrário do que muita gente imagina aqui no Brasil, gente boa até não poder mais.

Semana passada o amigão Miguel Costa Jr., um dos maiores fotógrafos de automobilismo do mundo, estava revirando seus arquivos e encontrou a foto abaixo, de 2006. Foi sua despedida da Ferrari, e tive a honra de comandar sua última entrevista coletiva como piloto do time italiano. Seria também seu último GP, em Interlagos, mas depois ele acabou voltando, pela Mercedes. Miguelito me mandou a foto para que eu pudesse guardar, também.

Está guardada.