Blog do Flavio Gomes
F-1

MASSA: FIM DE UMA ERA

SÃO PAULO (outra) – Felipe Massa anunciou agora há pouco na Itália sua aposentadoria. Ao final da temporada, ele pendura o capacete. Ao menos na Fórmula 1. O brasileiro não falou, até agora, sobre o que pensa para o futuro. Vejo possibilidades, se quiser continuar correndo. O WEC, por exemplo. Que é chique, bacana, tem […]

massacomecosauber

SÃO PAULO (outra) – Felipe Massa anunciou agora há pouco na Itália sua aposentadoria. Ao final da temporada, ele pendura o capacete. Ao menos na Fórmula 1. O brasileiro não falou, até agora, sobre o que pensa para o futuro. Vejo possibilidades, se quiser continuar correndo. O WEC, por exemplo. Que é chique, bacana, tem carros maravilhosos e provas clássicas. Indy e Fórmula E? Conhecendo Felipe como acho que conheço, esquece. Stock Car? Pode ser, para brincar por alguns anos com os amigos que tem na categoria. Mas nada muito sério. Ao contrário de Barrichello, que sempre me deu a impressão de ser alguém atormentado pela necessidade de provar algo a alguém, Massa me parece alguém bem resolvido.

A decisão de parar, embora não tenha falado com ele e faça esta análise a enorme distância, foi serena e sem traumas. Não se escreveu uma novela. Será que neste ano para? Será que continua? Vai renovar? Alguma equipe vai se interessar? De novo, é preciso fazer a comparação com Barrichello. Lembram como ele se agarrava a qualquer possibilidade para continuar?

[bannergoogle]Rubens entra no pacote desta conversa porque foi o último brasileiro a se aposentar da F-1, e de certa forma tem uma trajetória parecida com a de Felipe. Ambos são filhotes do automobilismo de base do Brasil, ambos passaram pela Ferrari, ambos tiveram chances de conquistar ao menos um título, ambos correram com Schumacher, ambos venceram corridas e foram, durante a maior parte de suas carreiras, centro das atrações para o fã ocasional da F-1 no país — aquele que só vê esporte na TV quando tem brasileiro ganhando alguma coisa.

Por se colocarem nessa posição — ou por terem sido colocados, talvez seja mais justo dizer –, Rubinho e Felipe foram submetidos por anos ao escrutínio da massa ignara, que ampliou sua voz e seu histrionismo a partir do momento em que um nerd qualquer inventou a janela de “comentários” em sites de notícias e, depois, nos blogs, fóruns, feicebúquis, tuíteres e instagrãs da vida internética.

E é por isso que me sinto na obrigação de defender os dois sempre que posso. Hoje Massa é o tema, é ele quem está se aposentando. Rubens já mereceu deste escriba palavras doces e encorajadoras — embora ele não fale comigo há dez anos, porque acha que fui eu quem levou uma tartaruga de plástico a uma entrevista coletiva de Schumacher; não vou dizer que seja algo que me faz perder o sono.

Massa estreou na F-1 em 2002, pescado por Ricardo Tedeschi na F-3000 Europeia — um espécie de “Série B” da F-3000 Internacional, que fazia as preliminares da F-1. O empresário, que também fora responsável por encaixar Barrichello na Europa, já o conhecia da F-Chevrolet. Felipe conquistou o título brasileiro da categoria em 1999, e é por isso que falo em fim de uma era no título. Refiro-me a uma época em que pilotos eram formados aqui no nosso puxadinho, em campeonatos como os da F-Ford, F-Chevrolet, F-Renault — esta, a última a dar algum fruto para o automobilismo de ponta, Lucas di Grassi.

Massa é, portanto, o último representante legítimo, na F-1, de uma escola brasileira de formação de pilotos. Nasr, embora tenha corrido de F-3 por aqui, não percorreu o mesmo caminho, até porque ele já não existia. O mesmo pode ser dito de Nelsinho Piquet e Bruno Senna, que chegaram lá por outras vias — sobrenome, apoio do pai, “escola particular”, e não pública, se é que me entendem.

E ele sai por cima. Claro que na redes sociais, que congregam tudo que mencionei acima (blogs, fóruns, feicebúquis, tuíteres e instagrãs), já começaram a xingar o rapaz. “Ganhou o quê?”, escreveu um. “Já vai tarde”, outro. “Envergonha o país”, mais um. E por aí.

Felipe não liga para essas merdas. Ainda bem. Mas eu, por força da profissão, sou obrigado a me deparar com esse festival de boçalidades sobre tudo, inclusive F-1, diariamente. Pois.

[bannergoogle]De 2002 até domingo passado, período de atividade de Massa na F-1, apenas 20 pilotos venceram GPs na categoria. Felipe foi um deles, com 11 vitórias. Apenas sete, nesse período, ganharam mais do que ele: Hamilton (49), Vettel (42), Schumacher (38), Alonso (32), Raikkonen e Rosberg (20) e Button (15). E só seis, desde 2002, foram campeões: Schumacher (2002, 2003 e 2004), Alonso (2005 e 2006), Kimi (2007), Hamilton (2008, 2015 e 2015), Button (2009) e Vettel (de 2010 a 2013). Estamos falando de 15 anos. E, no caso de Massa, é preciso dar o desconto de dois intervalos. Em 2003, ele não correu e ficou trabalhando apenas como piloto de testes da Ferrari. E, em 2009, perdeu meia temporada depois do acidente que sofreu na Hungria.

Como dizer que um piloto que fez tudo isso “já vai tarde”? Que história é essa? Que idiotice mais será vomitada nas redes sociais sobre um profissional trabalhador, dedicado, honesto, talentoso?

Felipe teve sua chance de ganhar um Mundial, em 2008. Não conseguiu. Outros que tiveram oportunidades quase únicas, como Button, Villeneuve e Hill, lograram sucesso. Nenhum deles entrará em nenhuma lista dos dez mais de todos os tempos porque a F-1 gerou, sim, grandes campeões que se destacam pelos números e conquistas. Mas ignorar o que outros tantos fizeram é uma estupidez.

Tomara que Felipe tenha uma aposentadoria divertida. Que saia sorrindo, como entrou. E quanto ao futuro do Brasil na F-1, deixo para um próximo post.