Blog do Flavio Gomes
F-1

ENTRE OS LAGOS (22)

SÃO PAULO (boa, menino) – Como de costume, o GP do Brasil teve tanta coisa que não cabe tudo num post só. Então vamos organizar a bagunça aqui. Como se estivesse editando as páginas de um jornal, a primeira retranca do dia vai para Felipe Nasr, nono colocado em Interlagos. [bannergoogle]Felipe II é bom de […]

SÃO PAULO (boa, menino) – Como de costume, o GP do Brasil teve tanta coisa que não cabe tudo num post só. Então vamos organizar a bagunça aqui. Como se estivesse editando as páginas de um jornal, a primeira retranca do dia vai para Felipe Nasr, nono colocado em Interlagos.

[bannergoogle]Felipe II é bom de chuva e já mostrara isso num treino em Budapeste neste ano. Hoje, foi um dos nomes da prova. E conseguiu dois pontos para a Sauber que podem significar sua permanência na equipe. Porque esses dois pontos representam um caminhão de dinheiro no caixa do time para o ano que vem. A Sauber assumiu o décimo lugar entre os construtores, deixando a Manor para trás. Os dez primeiros no campeonato recebem valores interessantes, em ordem decrescente. A Mercedes, campeã do ano passado, reforçou a conta bancária em US$ 63,5 milhões. A Marussia, que virou Manor, recebeu US$ 13,5 milhões pelo décimo posto no campeonato.

Como nesta temporada são 11 equipes, a última colocada não vai levar nada por mérito — recebe uma parte do bolo igual às demais apenas pela participação. Assim, numa conta rápida, se graças a este nono lugar a Sauber ficar em décimo no Mundial, vai ganhar US$ 13,5 milhões (ou um pouco mais, depende da arrecadação do ano) para montar seu orçamento para 2017. É um bom dinheiro.

Nasr, assim que recebeu a bandeirada, começou a chorar dentro do capacete e saiu falando pelo rádio com seu engenheiro — ouçam no vídeo abaixo, é bem emocionante.

“É como uma vitória, vocês não sabem quanto!”, disse, e depois: “Nunca deixem de acreditar, nunca, nunca!”. Aí soltou, em português mesmo, o velho “sou brasileiro e não desisto nunca”. Argh. Mas tá valendo, coitado. O alívio pelos pontos, o alívio por ter feito uma prova excepcional, tudo isso acaba justificando o clichê.

Nasr começou a corrida lá atrás, mas na medida em que os mais ousadinhos iam colocando pneus intermediários, foi galgando o pelotão. Assim, na décima volta, a terceira sem o safety-car, apareceu em nono. Até a volta 32, não foi ultrapassado por ninguém. Àquela altura, já era o sexto colocado, posição que assumira na volta 23. Foi quando Ricciardo chegou e levou.

Nenhum motivo para se desesperar. Felipe tinha Ocon atrás dele, servindo como anteparo para alguns carros mais rápidos que vinham chegando. Segurou Alonso um tempão, por 16 voltas, enquanto o espanhol tentava, ao mesmo tempo, se defender de Vettel, primeiro — não resistiu –, e Hülkenberg depois — acabou rodando a 16 voltas do final, e depois teve de remar bastante para terminar em décimo.

[bannergoogle]Hülkenberg também demorou para superá-lo, assumindo o sexto lugar só na volta 59. Verstappen e Ricciardo, que se embananaram com as opções pelos pneus intermediários durante a corrida, acabaram chegando novamente no brasileiro e também passaram. Mas o belo início de prova acabou se pagando. Uma coisa é você estar em décimo e perder três posições no fim. O resultado é zero. Outra, bem diferente, é andar entre os seis primeiros com um carro ruim e ter uma gordurinha para queimar na parte decisiva de uma corrida. Nasr tinha. Caiu de sexto para nono, mas não tinha motivo nenhum para ficar chateado. Ao contrário.

Feliz, emocionado, às lágrimas, Felipe recebeu o abraço de Massa ao final da corrida. “Eu tinha de aproveitar a oportunidade no Brasil e consegui”, disse. Foi, de fato, uma grande virada no momento mais delicado de sua carreira. A Sauber tem de escolher logo seu segundo piloto para 2017. Ericsson, como se sabe, vai ficar. Tem gente na fila, e o mais espevitado é Gutiérrez, que traz apoio de patrocinadores mexicanos endinheirados.

Só que, neste domingo chuvoso e cinzento na metrópole, Nasr mostrou serviço e aliviou o saldo da Sauber no cheque especial. É um bom motivo para que a opção dos suíços seja feita por ele. Pelo que fez em Interlagos, a melhor corrida de sua carreira, o rapaz merece. Hoje, ele foi grande.