Blog do Flavio Gomes
F-1

MISTÉRIOS DO MARKETING

RIO (enganam quem?) – Há anos a Philip Morris, proprietária da marca Marlboro, patrocina a Ferrari. Mesmo depois que a publicidade de cigarro foi proibida na categoria — hoje, no mundo civilizado, não se pode mais fazer propaganda do vício –, a empresa continuou firme e forte com o time de Maranello, renovando seus contratos […]

“A better tomorrow”: cascata da BAT, que faz cigarro, mesmo

RIO (enganam quem?) – Há anos a Philip Morris, proprietária da marca Marlboro, patrocina a Ferrari. Mesmo depois que a publicidade de cigarro foi proibida na categoria — hoje, no mundo civilizado, não se pode mais fazer propaganda do vício –, a empresa continuou firme e forte com o time de Maranello, renovando seus contratos por longos prazos e valores altíssimos. A Ferrari viveria da Philip Morris tranquilamente, sem precisar de outros anunciantes.

Pouca gente entende o quê, exatamente, a Philip Morris divulga nos carros da equipe italiana. E é patrocínio master, como se sabe. “Mission winnow” faz parte do nome oficial da escuderia e é a marca usada atualmente nos carros to time. E é quase impossível compreender o que significa. Quer tentar? Entre lá no site e procure saber. “Inovação”, “colaboração”, “revolução”, “transformação”, “tecnologia”, “paixão” são termos usados em quase todos os textos espalhados pela página. Tentem decifrar o que a Philip Morris está fazendo nesta descrição aqui. Conseguiu? Parabéns.

Não procurei, mas a palavra “cigarro” aparece muito pouco ao longo do site. Ou talvez nem apareça. E o que a Philip Morris faz é cigarro. Sem essa cascata de “inovação” e “revolução”. Aqui está parte do portfólio da empresa com alguns números impressionantes — como a venda de 264 bilhões de Marlboros no em 2018, SEM CONSIDERAR OS MERCADOS DOS EUA E DA CHINA. Aqui, um pouco mais sobre a companhia: 130 marcas diferentes de cigarros vendidas no mundo inteiro. Além de Marlboro, Parliament, L&M, Lark, Merit, Muratti, Chesterfield…

Win now? Win o quê, exatamente? Um câncer de pulmão?

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Hoje, a McLaren anunciou a renovação e ampliação de seu contrato com a BAT — British American Tobacco. Será a principal parceira comercial da equipe. O nome da empresa é bem claro no que diz respeito ao seu “core business”. O que a BAT — que na F-1 era dona da BAR, que deu origem à Honda, depois à Brawn e hoje é Mercedes — faz é cigarro: Dunhill, Kent, Lucky Strike, Pall Mall, Rothmans, Newport, Camel, Vogue, Viceroy, Kool, Peter Stuyvesant, State Express 555.

Mas também busca “inovação”, “colaboração”, “revolução”, “transformação”, “tecnologia”, “paixão”. E faz cigarros eletrônicos e “orais” como VUSE e VELO, e no fundo essas empresas continuam fazendo o que sempre fizeram: matam pessoas.

Não, não sou um não-fumante xiita. Ao contrário, eu mesmo dou minhas pitadas de vez em quando. Nesse quesito do comportamento humano, acho que cada um faz o que quiser e se mata como achar melhor.

Apenas implico com a hipocrisia. Philip Morris e BAT são grandes patrocinadores de equipes de F-1 e a indústria do cigarro, na prática, nunca saiu da categoria. Ambas, e todas as outras que espalham seu veneno em forma de tabaco especialmente pelo Terceiro Mundo, ficam com conversinha corporativa tentando convencer os incautos (e seus acionistas, talvez) que estão muito preocupados com os fumantes, atuando firmemente em pesquisa e desenvolvimento de produtos que não os matem tão rapidamente.

Como eu dizia em priscas eras, no cu, Jaú. Vão contar essa pra outro.

Ah, só pra constar. Uma das “marcas” da BAT que aparecem hoje na McLaren é uma frase, “a better tomorrow” (“um amanhã melhor”), que segundo a empresa é uma “plataforma” orientada pelo “compromisso de oferecer um portfólio de produtos de risco reduzido que possa entregar um amanhã melhor aos nossos consumidores”.

No cu, Jaú.

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