Blog do Flavio Gomes
F-1

NÃO, NÃO É

ITACARÉ (proa sul) – Não sei se foi com essas palavras exatamente, mas quando Vettel venceu seu primeiro GP, em 2008 pela Toro Rosso, escrevi algo na linha “já fez mais que Senna”, o que despertou o ódio, a ira e os chiliques costumeiros nas ainda precoces redes sociais — blogs entravam nessa categoria. Claro […]

ITACARÉ (proa sul) – Não sei se foi com essas palavras exatamente, mas quando Vettel venceu seu primeiro GP, em 2008 pela Toro Rosso, escrevi algo na linha “já fez mais que Senna”, o que despertou o ódio, a ira e os chiliques costumeiros nas ainda precoces redes sociais — blogs entravam nessa categoria. Claro que naquele momento preciso eu me referia ao início da carreira, comparando seu resultado na Itália com as primeiras façanhas de Ayrton em times pequenos, sendo a maior delas um segundo lugar com a Toleman em Mônaco — menos que uma vitória em Monza, por óbvio. No fim das contas, com o passar dos anos, ele faria mais que Senna no geral, também.

Depois daquilo, Sebastian subiu para a Red Bull, deu à equipe sua primeira vitória (China/2009) e seus primeiros títulos, enfileirou quatro taças seguidas (2010 a 2013) e colocou o time no mui seleto grupo dos grandes da F-1. E que ninguém se engane: o alemão não chegou ao tetra chupando cana e assoviando com um carro dominante em todas essas temporadas. Em 2010, foi campeão com meros quatro pontos de vantagem sobre Alonso, então na Ferrari. Só liderou o campeonato em uma corrida, a última. Em 2011, sim, ele e a Red Bull nadaram de braçada. O menino ganhou 11 das 19 etapas e chegou em segundo cinco vezes. No ano seguinte, porém, nova batalha inesquecível com Alonso e o título conquistado na última etapa, em Interlagos, com uma atuação exuberante que lhe garantiu a vantagem de três pontos na classificação sobre o espanhol ainda ferrarista. Em 2013 foi fácil, todos se lembram. Mas na falta de outra coisa para fazer, Vettel foi atrás de recordes. O primeiro, 13 vitórias no ano. Número que só ele e Schumacher (em 2004) alcançaram. Com um detalhe: ganhou nove seguidas, marca que ninguém igualou até hoje.

Tem uma molecada que descobriu a F-1 na Netflix, só conhece Verstappen e Hamilton, tem faniquitos com Norris e Leclerc, acredita que Russell é um gênio e acha que o mundo começou na semana passada com um vídeo do Tik-Tok. Esses olham para Vettel e nada sentem. Além do mais, o cara não tem Twitter, não publica stories no Instagram e não faz dancinhas na frente do celular. Então, nem deve existir.

Incrível que Vettel, um menino, seja tratado como se fosse uma espécie de dinossauro pelas novas gerações de torcedores que não têm sequer o trabalho de ler sobre o cara. Cacete, ele ganhou sua primeira corrida apenas 13 anos atrás! É o terceiro maior vencedor da história, o terceiro maior detentor de troféus da categoria, está em quarto lugar na lista dos que mais fizeram pole-positions, o quinto em voltas mais rápidas, o terceiro em número de GPs e de voltas na liderança, o mais jovem campeão de todos os tempos.

Aí vem a besta do Helmut Marko dizer que Verstappen é melhor que ele.

O quê?

Max é bom. É ótimo, excepcional. O talento mais precoce que a F-1 já viu. Não se pode negar o óbvio. Mas melhor que Vettel? Calma lá, doktor Marko. Para poder afirmar isso, espere seu menino ganhar mais três títulos. E mais 33 GPs. E fazer mais 44 poles. Depois a gente conversa.

Enquanto isso, regozije-se por ter descoberto Sebastian, também. Não precisa diminuir o primeiro para exaltar o segundo. A Red Bull deve muito a Vettel. Ignorar o que ele fez outro dia é, no mínimo, deselegante. A marca de Marko, diga-se.