Blog do Flavio Gomes
F-1

FOGO NO CABARÉ!

I understand that, without my agreement, Alpine F1 have put out a press release late this afternoon that I am driving for them next year. This is wrong and I have not signed a contract with Alpine for 2023. I will not be driving for Alpine next year. — Oscar Piastri (@OscarPiastri) August 2, 2022 […]

SÃO PAULO (vixemaria!) – Enquanto escrevíamos um tratado sobre a promoção de Oscar Piastri a titular da Alpine em 2023, o indigitado piloto corria para o Twitter para postar a mensagem acima: “Soube que, sem meu consentimento, a Alpine publicou um press release no final da tarde de hoje informando que eu pilotarei para eles no próximo ano. Isso está errado e eu não assinei contrato com a Alpine para 2023. Eu não serei piloto da Alpine na próxima temporada”.

Fogo no cabaré! O cara não faria isso se não tivesse algo muito amarrado para o ano que vem. McLaren? É a única possibilidade, já que as negociações com a equipe inglesa estavam em andamento, como informado no post abaixo. A propósito, esqueçam o post abaixo!

Agora vamos esperar pela tréplica da Alpine. A coisa, realmente, está feia. O último post da equipe no dia foi esse aí embaixo. Depois dele, o mais sepulcral silêncio.

Algumas observações, no entanto, se fazem necessárias antes de nos acomodarmos na poltrona com o saquinho de pipoca na mão.

Piastri e seu manager Mark Webber podem estar cometendo um grande erro. Qual é exatamente o grande poder sedutor da McLaren? A equipe tem um piloto sob contrato, Daniel Ricciardo, até o fim de 2023. Se alguém tiver prometido esse carro ao jovem Oscar para já, omitiu o fato de que isso só vai rolar depois de muita briga. O colega Fábio Seixas, em seu blog, escreve que o australiano poderia ter acertado uma transferência para a equipe laranja para ser piloto de testes/desenvolvimento/reserva no ano que vem, assumindo como titular em 2024. É uma possiblidade.

Mas quem garante? A McLaren, semanas atrás, anunciou a contratação de Álex Palou, espanhol da Indy. E mencionou a F-1 no pacote, ainda que vagamente. O piloto, num movimento parecido com o de Piastri, aproveitou o ensejo pada desautorizar comunicado oficial publicado momentos antes por sua atual equipe, a Ganassi, informando que ele permaneceria no time por mais uma temporada. O caso vai para os tribunais.

E faz sentido ficar mais um ano parado, esperando um carro que nem sabe se virá, tendo a chance de correr já no ano que vem? Numa equipe que, inclusive, está na frente da outra na classificação? Sim, a Alpine está melhor em 2022 que a McLaren: 99 x 95 para os franceses na briga pelo quarto lugar entre os construtores.

E é o caso de perguntar: que zona é essa, McLaren? A equipe hoje atua na F-1, na Indy, na Extreme E e estará no próximo campeonato da Fórmula E. Quer abraçar o mundo. Andou testando Colton Herta, dia desses. Prometeu o mesmo a Pato O’Ward — Zak Brown, o CEO do grupo, é americano e está atirando para todos os lados, especialmente na direção de pilotos dos EUA. Quem garante que essa suposta promessa a Piastri não tenha sido feita também aos outros? Alguém aí está sendo enganado.

Trocar um assento certo na Alpine por algo duvidoso na McLaren me parece burrice. Webber e Piastri teriam começado a conversar com o time inglês alegando, ainda segundo a coluna de Seixas no UOL, o descumprimento de determinadas cláusulas contratuais entre o piloto e a Alpine. Esta, quando oficializou sua dupla para 2023, listou tudo que tem feito pelo australiano nos últimos anos, como se dissesse: olha aqui, estamos cumprindo que prometemos. Quem está dizendo a verdade?

O comunicado emitido hoje pela Alpine não continha, como é praxe nesses casos, nenhuma declaração do piloto — na linha “estou muito feliz com a oportunidade de realizar o sonho de correr na F-1, sempre me senti em casa aqui, é como uma família para mim” etc. Foi estranho, e a ausência das aspas de Piastri foi notada por muita gente. Deu a impressão de que a equipe se apressou em tornar público algo que, por alguma razão, não estava ainda sacramentado. Mas o que explica fazer um negócio desses sem ter plena certeza de que não haverá contestação? Será que ninguém lá dentro percebeu que havia alguma ponta solta nesse novelo?

Por sua vez, o que teria levado Webber e Piastri a assinarem algo com a McLaren pelas costas da Alpine, como se supõe que tenha acontecido? Algum respaldo haveria de ter. Estavam irritados porque a Alpine negociava com Alonso? Só souberam disso agora? A equipe perdeu algum prazo para lhes dar uma resposta sobre 2023?

As conversas sobre a permanência do espanhol no time francês eram públicas. Não seria mais sensato esperar que elas fossem concluídas para, então, tomar alguma decisão? Será que Webber não sabia que a Alpine oferecia apenas um ano de contato a Alonso, algo que o bicampeão não aceitaria? Não era mais fácil falar com Fernandinho, seu amigo de noitadas de pôquer em tempos imemoriais?

O que, afinal, a McLaren colocou na mesa diante de Piastri que possa tê-lo tentado tanto, a ponto de abrir mão de uma possibilidade iminente de ser titular na Alpine?

São perguntas que, nas próximas horas, serão respondidas. Tem muita gente devendo explicações depois de uma terça-feira quente como hoje. O que temos, até agora, é uma equipe mergulhada em constrangimentos — perdeu Alonso sem saber, anunciou um piloto e foi desmentida pelo próprio logo depois –, um veterano humilhado sem abrir a boca — Ricciardo, porque se Piastri tem algo com a McLaren é para o lugar dele –, um garoto que nunca disputou um GP recusando um bom cockpit de titular para 2023 e um time que não foi citado por ninguém, mas está claramente por trás disso tudo.

E nós aqui, comendo pipoca!