Blog do Flavio Gomes
F-1

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SÃO PAULO (surpresa) – Porsche e Red Bull não estarão mais juntas na F-1. As conversas entre as partes foram formalmente encerradas com o comunicado emitido hoje pela montadora alemã. Resumidamente — até porque ninguém está entrando em detalhes –, a Porsche queria comprar metade da equipe, as negociações foram abertas, submetidas a órgãos reguladores […]

Simulação de Jeroen Claus de um eventual carro da Porsche na F-1: com Red Bull, não

SÃO PAULO (surpresa) – Porsche e Red Bull não estarão mais juntas na F-1. As conversas entre as partes foram formalmente encerradas com o comunicado emitido hoje pela montadora alemã. Resumidamente — até porque ninguém está entrando em detalhes –, a Porsche queria comprar metade da equipe, as negociações foram abertas, submetidas a órgãos reguladores de vários países, um anúncio estava previsto para o fim de semana do GP da Áustria, mas, aí, o time austríaco refugou.

Christian Horner, que tem falado em nome da Red Bull sobre o tema, disse em Monza que as duas empresas têm “DNA diferente” e que, por isso, as coisas não evoluíram. Elogiou a Porsche, “uma grande marca”, mas reforçou o que vinha dizendo nos últimos dias em entrevistas aqui e ali: que a equipe sempre foi independente, nunca operou de forma corporativa, é ágil e rápida nas decisões, qualquer novo parceiro teria se adaptar à sua natureza e modo de trabalhar. Há exatamente uma semana os primeiros sinais do divórcio vieram a público em Zandvoort, como registramos no final deste post aqui. No fim, nem casório teve.

Pelo jeito, a Porsche não quis se enquadrar ao jeito Red Bull de ser. A proposta de compra de metade da equipe incluía alguma ingerência técnica e esportiva que os rubro-taurinos consideraram inadequada. Aquela história de não mexer em time que está ganhando — essa é a justificativa oficial. Mas o rompimento precoce não é, claro, uma mera questão filosófica. Tem mais caroço nesse angu.

Quando a Honda decidiu deixar a F-1, um ano e meio atrás, a Red Bull se viu no mato sem cachorro e começou a construir uma fábrica de motores. Em 55 semanas — a conta é de Horner — ela estava de pé com paredes pintadas, ar-condicionado funcionando, jardim na entrada e dinamômetros funcionando. E graças à tecnologia herdada da Honda, além de algumas dezenas de funcionários contratados junto à ex-parceira japonesa, o primeiro protótipo de motor próprio da safra RBPT (Red Bull Power Train) já está pronto para ser testado. Na configuração que será adotada em 2026.

Para que Porsche, então? Desde o início sabia-se que tanto a fábrica de Stuttgart quanto sua irmã de criação Audi — ambas sob a guarda do Grupo Volkswagen — só bateriam o martelo sobre sua entrada na F-1 quando o novo regulamento de motores fosse aprovado. Isso aconteceu, finalmente, em meados de agosto. A Audi, poucos dias depois, anunciou oficialmente que estava chegando — o que se sabe é que negocia a compra da Sauber. A Porsche, era público, conversava com a Red Bull. Que, por sua vez, já estava fazendo seu próprio motor e, na prática, oferecia aos alemães apenas um espaço no cabeçote. Por um preço alto — que podia ser a compra de metade de suas ações.

Do ponto de vista técnico, não era muito interessante para a Porsche entrar na F-1 de forma tão ruidosa apenas para colocar o nome na tampa de um motor que não seria feito por ela. Para uma marca com tanta história nas pistas, seria algo chinfrim — um comportamento de patrocinador, não de fornecedor ou parceiro na alegria e na tristeza. As glórias das eventuais vitórias recairiam sempre sobre a Red Bull, não sobre a Porsche. Da mesma forma que, nos anos 80, os louros dos triunfos da McLaren enfeitavam o pescoço da Porsche, e não da TAG — a empresa de Mansour Ojjeh que encomendou ao pessoal de Stuttgart o belíssimo turbo V6 em 80 graus de 1,5 litro, leve, compacto, econômico e espetacular; motor que deu à equipe de Ron Dennis três títulos de pilotos e dois de construtores.

Gastar uma fortuna para comprar a metade de uma equipe, não apitar nada em termos técnicos e de gestão, fazer papel de rainha (ops, rei!) da Inglaterra em troca de meia dúzia de credenciais para as corridas só para dizer que está na F-1 é pouco para uma empresa do porte da Porsche. A Red Bull, no fundo, queria só dinheiro, não um parceiro de verdade. E continua querendo. Está na cara que a equipe vai tentar vender seu cabeçote para quem quiser batizá-lo. Essa coisa de “rebrand” motor não é algo novo na F-1. Já tivemos marcas de computador (Acer), relógio (TAG-Heuer), gasolina (Petronas), roda (Fondmetal) e até camiseta e moletom (Playlife) empurrando carro na categoria, sempre estampadas sobre equipamentos fabricados por outrem.

Já a Porsche, em seu comunicado, informou que a F-1 ainda interessa e será monitorada pela empresa. Se os caras não broxaram de vez com o fracasso das negociações com a Red Bull, eu colocaria no grupo de WhatsApp do pessoal o contato da Williams: +44 (0) 1235 777700. Falem com Jost Capito. Ele, inclusive, é alemão. Ali está facinho, facinho. Custa menos, ninguém se preocupa com independência ou DNA, se quiserem usar a antiga sala do Frank podem ficar à vontade, não vai ter nenhum chato dando palpite nos futuros motores e se desejarem mudar as cores ou o nome da equipe, é só falar.