Blog do Flavio Gomes
F-1

SAUBER C44: O CARRO DO COELHO!

SÃO PAULO (tem futebol no meio) – Demorei um pouco para falar sobre o carro novo da Sauber-Kick-Stake porque surgiu uma dúvida que ainda não conseguimos sanar. Christine ou Christiane? Qual é, afinal, o nome da mulher de Peter Sauber, homenageada com sua inicial no batismo de todos os carros da equipe? Acreditam que, depois […]

SÃO PAULO (tem futebol no meio) – Demorei um pouco para falar sobre o carro novo da Sauber-Kick-Stake porque surgiu uma dúvida que ainda não conseguimos sanar. Christine ou Christiane? Qual é, afinal, o nome da mulher de Peter Sauber, homenageada com sua inicial no batismo de todos os carros da equipe? Acreditam que, depois de tantos anos, descobri que não tenho certeza?

Não adianta me mandarem links obtidos no Google. Vocês vão encontrar os dois nomes, sejam lá as buscas que tentarem. Eu mesmo já escrevi Christine no passado distante e Christiane no passado recente. Só aceito foto de crachá da empresa, da certidão de nascimento ou do RG.

Virem-se.

C44 é o nome da viatura inspirada na camisa do América Mineiro. Talvez, agora, esse C venha do glorioso Coelho de Belo Horizonte. Esse verde alface não é lá muito comum em carros de F-1, mas a combinação com o preto-fibra-de-carbono (cor que em breve deve entrar para o catálogo do Pantone Color Institute, se é que já não está) ficou bonitona.

Disseram os responsáveis pelo projeto, na apresentação em Londres, que o C44 é totalmente diferente do C43. Ainda bem, porque o carro anterior era bem ruinzinho. Falou-se numa suspensão dianteira modificada. Nas entradas de ar laterais e superior de desenho distinto e elegante. E disso e daquilo e daquilo outro.

O que não mudou foi a dupla de pilotos, que segue no time pelo terceiro ano seguido: Valtteri Bottas e Guanyu Zhou. Ainda com motores Ferrari, a Sauber, que era Alfa Romeo até a última temporada, apenas espera por 2026. Todos já sabem que a equipe (ou seria a franquia?) foi comprada pela Audi, que estreia para valer com o novo regulamento. Até lá, barriga de aluguel, o jeito é se virar com patrocinadores endinheirados o bastante para nomear o time.

Esse é um dos mistérios de 2024. Será Stake, como anunciado há algumas semanas, ou Kick? Stake é uma casa de apostas com sede em Curaçau, ilhota de 150 mil habitantes no Caribe, pertinho da costa da Venezuela. Um paraíso fiscal que responde ao rei dos Países Baixos — que a gente chama de Holanda, mas está errado. Kick é uma plataforma de streaming de jogos eletrônicos com sede na Austrália — transmite partidas de videogame disputadas por adolescentes espinhentos que comem batatas Pringles e se entopem de Coca-Cola. Esse troço, pelo jeito, dá dinheiro.

Como em alguns países que fazem parte do calendário da F-1 a propaganda de cassinos online é proibida, Stake talvez suma em uma corrida ou outra. E entra no lugar a Kick. A Kick é a responsável pelo tom esverdeado dos carros — é sua cor, por assim dizer, oficial. Na dúvida, e para simplificar as coisas, vou chamar a equipe de Sauber, mesmo, assim como seus carros. “Olha lá, o Sauber quebrou!”, direi para mim mesmo vendo as corridas pela TV. Até ordem em contrário, será isso.

A Sauber, é bom que se diga, está há bastante tempo na F-1, desde 1993. Por isso, ao longo dos anos, fiz algumas amizades lá dentro que ainda mantenho ativas. Foi a um desses conhecidos que telefonei agora há pouco, acordando-o — tem certa idade e já estava na cama. Não vou identificá-lo, claro, porque temos sempre de preservar as fontes. Para não deixar o cabra sem nome, digamos que se chama “Pedro Limpinho”.

Como foi a festa de lançamento?
Pedro Limpinho
– Foi ontem, pelo horário, acho que você está meio atrasado…
Ah, me desculpe, mas o jornalismo não tem hora.
Pedro Limpinho
– Muito bem, pergunte logo o que quer saber e fale baixo porque minha esposa está dormindo e está no viva-voz.
Bem, primeiro quero saber o que o senhor achou das cores.
Pedro Limpinho
– Vai dar para enxergar bem à noite, para mim será ótimo, já que a vista está cansada.
Quem arranjou esses patrocinadores?
Pedro Limpinho
– Meus netos. Eles jogam videogame e gastam tudo que dou pra eles apostando em jogos de futebol. Ontem mesmo ganharam uma bolada num jogo aí do seu país.
Em qual jogo?
Pedro Limpinho
– Não sei pronunciar os nomes dos times, mas foi num estádio chamado Rastaquera.
Itaquera?
Pedro Limpinho
– Pode ser. Também não sei direito como chama.
Bem, mas vamos falar do carro. A suspensão é bem diferente, não?
Pedro Limpinho
– Meu filho, suspensão diferente é de feixe de molas. O resto é tudo igual. Num ano dizemos que é push-rod. No outro, que é pull-rod. Ninguém sabe a diferença, mesmo. Num ano, dizemos que o carro é uma evolução, quando o anterior era bom. No outro, que é uma revolução, quando o anterior era ruim. Fazemos esse trocadilho há trinta anos.
E os fluxos de ar?
Pedro Limpinho
– Não se preocupe, dormimos com a janela fechada, nem eu nem minha esposa podemos tomar friagem.
Um ponto positivo é a manutenção dos pilotos, não? Três anos com a mesma dupla. Estabilidade é a chave para ter bons resultados?
Pedro Limpinho
– Se fosse, eu continuava com Wendlinger e Lehto. Aliás, seria ótimo, ganhariam bem menos, os resultados seriam os mesmos e eu não precisava ter comprado o calendário do rapaz que tira foto do bumbum. Como é mesmo o nome dele?
Bottas.
Pedro Limpinho
– Esse. Parece ator pornô. Mas minha esposa adora ele. Diz que é muito simpático e que aquele bigode deve fazer cócegas.
Deve ser brincadeira dela, claro…
Pedro Limpinho
– Não me incomoda. Temos um ditado aqui na Suíça que diz que é dos carecas que elas gostam mais.