Blog do Flavio Gomes
F-1

Guardei mesmo

SÃO PAULO (eu tinha um monte, sumiu tudo!) – Como disse, eu guardei mesmo o press-release da Ferrari de 30 de julho de 2000, um documento importante sobre a primeira vitória de Barrichello na F-1. Foi, também como eu disse, uma das maiores vitórias que vi ao vivo, não só porque ele largou em 18º, […]

SÃO PAULO (eu tinha um monte, sumiu tudo!) – Como disse, eu guardei mesmo o press-release da Ferrari de 30 de julho de 2000, um documento importante sobre a primeira vitória de Barrichello na F-1. Foi, também como eu disse, uma das maiores vitórias que vi ao vivo, não só porque ele largou em 18º, mas porque, também, arriscou com os pneus secos na pista molhada e guiou como um príncipe.

Naquele dia ocorreu um fato curioso. Eu trabalhava na Jovem Pan e fazia dupla com o Nilson Cesar, que durante anos narrou as corridas pela emissora. Já havia algum tempo que o Nilson transmitia “off-tube”, pela TV, e eu ia para as corridas. Mas em 2000 ele teve alguns problemas pessoais e teve de se afastar da rádio.

Seu substituto, na F-1, passou a ser o Vander Luís, que na verdade se chama Vanderlei. A gente brincava na Pan que quando ele narrava algum jogo ou corrida, sempre acontecia alguma coisa esquisita.

E naquele domingo aconteceu, mesmo. Faltavam poucas voltas para o final e o Nilson, vendo que o Rubinho iria vencer, telefonou de sua casa em Sorocaba para participar da transmissão, dar uma palavrinha. Afinal, era o titular desde sempre, e esteve nas primeiras corridas de Barrichello na F-1. Pertinente sua participação, claro.

O operador “pendurou” o Nilson na linha enquanto o Vander abria as últimas voltas. Só que deu um pau qualquer no estúdio de transmissão e a linha dele simplesmente caiu! O operador, mais do que rápido, entrou no telefone e gritou para o Nilson: “Vai, narra você!”. O Nilson, coitado, estava afastado havia um bom tempo, sem narrar nada. Mas não se apertou, bom profissional que é. Pela TV de sua casa, narrou as últimas voltas e a primeira vitória de Barrichello. Fiquei muito emocionado com seu retorno ao microfone, naquela situação extrema. É um bom amigo, o Nilson, a quem encontro de vez em quando aqui no prédio onde tenho meu escritório, o mesmo da Pan.

O Brasil não ganhava uma corrida na F-1 desde 1993. Acabei o trabalho em Hockenheim, naquele fim de semana, às 3h da segunda-feira. Nunca escrevi tanto, nem na morte do Senna.

A seguir, um resuminho das declarações de Jean Todt, Rubens e Schumacher, já que as letrinhas são muito pequenas e não dá para ler:

JEAN TODT: “Foi uma corrida quase irreal. Partíamos com Michael em segundo e com Rubens em 18º, mas já na primeira curva Michael estava fora da prova por causa de um incidente. Por causa da sua posição no grid, imaginamos uma estratégia bem agressiva para Rubens, baseada em duas paradas. Quando Barrichello parou para seu primeiro pit stop, estava já em terceiro. E quando nove voltas depois entrou na pista o safety-car, decidimos trazê-lo para o segundo pit stop. Logo depois começou a chover em parte do circuito. A equipe e o piloto decidiram ficar na pista, depois que Rubens nos informou que o segundo setor estava seco. Todas as escolhas feitas por Rubens se mostraram corretas. Estou extremamente feliz por sua primeira vitória, ainda mais por ter sido conquistada nessas circunstâncias.”

MICHAEL SCHUMACHER – “Estou triste pelo que me aconteceu mas felicíssimo por Rubens, a quem devo agradecer por salvar minha primeira posição no campeonato. Sua vitória foi para mim muito emocionante, depois de uma atuação excepcional que ninguém esperaria, a partir de onde estava no grid.”

RUBENS BARRICHELLO – “Ainda não posso acreditar! É extraordinário o que me aconteceu. Já tinham me dito que a última volta, quando se está na frente, é a mais longa de todas, e hoje vejo que é assim mesmo. Nas últimas voltas foi muito difícil porque a chuva caía cada vez numa parte diferente do circuito. Me avisaram que Hakkinen estava indo para os boxes colocar pneus de chuva, e respondi que queria ficar na pista com os pneus secos pelo menos mais uma volta. Depois vi que só estava molhado no Estádio e a equipe me disse que se mantivesse o mesmo ritmo, dava para ganhar. Aí decidi ficar na pista. A sete voltas do final detonei o pneu dianteiro esquerdo e já não conseguia enxergar direito. Comecei a corrida com pouca gasolina e isso me ajudou a passar muita gente. Os outros pilotos foram todos muito corretos. Meu carro não estava muito bom no warm-up, mas mudamos algumas coisas e na corrida, estava perfeito. Foi extraordinário sair de 18º e ganhar. Não sabia que Michael estava fora até o momento em que cheguei à quinta posição, porque estava totalmente concentrado na minha corrida. Demorou muito tempo para conseguir esta vitória, que dedico a Ayrton Senna, que me ajudou tanto desde 1984.”

É isso aí.