Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERLAGOS EM PINGOS (47)

SÃO PAULO (amaciado) – Os últimos dias foram muito agitados em Brixworth, na Inglaterra. É lá, nas antigas instalações da Ilmor, que a Mercedes faz seus motores de F-1 — através da subsidiária Mercedes-Benz High Performance Engines (HPE) Depois do GP da China, os 450 funcionários da HPE se dedicaram a construir um motor exatamente igual […]

SÃO PAULO (amaciado) – Os últimos dias foram muito agitados em Brixworth, na Inglaterra. É lá, nas antigas instalações da Ilmor, que a Mercedes faz seus motores de F-1 — através da subsidiária Mercedes-Benz High Performance Engines (HPE)

Depois do GP da China, os 450 funcionários da HPE se dedicaram a construir um motor exatamente igual ao que Lewis Hamilton usou em Xangai, com as mesmas especificações e acertos usados na penúltima etapa da temporada.

Na China, Hamilton percorreu 142 voltas pelos 5.451 metros do circuito de Xangai em três dias: 23 no primeiro treino livre, 33 no segundo, 15 no terceiro, mais 15 na classificação e 56 na corrida. Descontando o entra-e-sai dos boxes e considerando apenas o que andou no sábado e no domingo, com o motor que será usado em Interlagos (o da sexta-feira é outro), o inglês rodou exatos 468,786 km com o V8 que está montado em seu carro agora, 86 voltas. Atingiu 315,9 km/h de velocidade máxima durante o fim de semana.

Com todos os dados gravados pelos computadores da McLaren, a réplica do motor foi colocada num dinamômetro e ele foi submetido a uma simulação exata daquilo que Hamilton fez na China. Tudo foi reproduzido: cada troca de marcha, cada freada, cada reaceleração, cada desaceleração, cada tirada de pé, o esforço da largada, tudo — inclusive as condições de temperatura e umidade verificadas em Xangai.

Isso feito, os técnicos pegaram o mesmo motor e simularam aquilo que aconteceria no GP do Brasil inteiro, começando pelas voltas que a McLaren previa que seriam dadas nos treinos de sábado, antes da corrida. Aqui, foram apenas 32: 18 no terceiro treino livre e 14 na classificação. Um total de 137,888 km rodados. Na sexta, com outra unidade, Hamilton completou 56 voltas.

Até a largada para a prova de daqui a pouco, portanto, esse motor de Hamilton rodou 606,674 km. Quase nada, quando se toma como referência o motor de um carro de rua, por exemplo. Ou de um Mercedão 1313, que roda mais do que isso por dia. Para um carro de corrida normal, que não troca o motor a cada duas semanas, aliás, é até bom amaciá-lo por uns 500 km. Mas é claro que um motor de F-1, que trabalha sob uma solicitação muito mais alta de seus materiais, é mais confiável quando pouco rodado. Só que já faz algum tempo que a FIA exige que os motores durem dois finais de semana de GP, e por isso não há grande preocupação na McLaren com o tanto que a unidade instalada no carro de Lewis já andou.

Terminada a simulação até o momento da largada, sem as voltas do GP do Brasil, os engenheiros da Mercedes abriram o motor e fizeram uma vistoria rigorosíssima em cada parafuso, anel, junta e retentor. Estava tudo OK. Fecharam de novo e voltaram ao dinamômetro, para simular as 71 voltas da prova de Interlagos, usandos os dados que já possuem sobre consumo, relação de marchas, lubrificação, frenagens etc. Abriram mais uma vez e, aliviados, viram que o motor aguentou bem o tranco, sem nenhum problema digno de nota.

Claro que, a esta altura, Hamilton já sabe disso, o que lhe é tranquilizador.

E é claro que esse “tranquilizante” custou algum dinheiro. A brincadeira das simulações no dinamômetro sangrou os cofres da Mercedes em 250 mil libras, ou R$ 853 mil. Daria para comprar 142 Ladas, pelo câmbio de sexta-feira da moeda que uso atualmente (L$ 1,00 = R$ 6.000,00).