Blog do Flavio Gomes
#69

FRACASSO TOTAL

SÃO PAULO (não diga…) – Bem, foi um retumbante fiasco a abertura do Paulista de Velocidade na modalidade Antigomobilismo, a ex-Superclassic (qual nome vocês acham melhor?). Um campeonato que terminou a temporada de 2007 com 42 carros no grid e manteve uma média de mais de 30 no ano passado, apesar das primeiras mudanças de […]

SÃO PAULO (não diga…) – Bem, foi um retumbante fiasco a abertura do Paulista de Velocidade na modalidade Antigomobilismo, a ex-Superclassic (qual nome vocês acham melhor?). Um campeonato que terminou a temporada de 2007 com 42 carros no grid e manteve uma média de mais de 30 no ano passado, apesar das primeiras mudanças de regulamento e da ingerência da FASP, que tirou do comando a APTA, nossa associação, começou com minguados 22 pilotos hoje em Interlagos.

Foi uma piada de mau gosto a estreia do novo regulamento, devidamente espinafrado por este que vos fala neste post aqui, alguns dias atrás, e fervorosamente defendido por escrito nos comentários deste outro post pelo piloto Ricardo Malanga. A fama de chato e intransigente ficou comigo.

A zona começou na hora da inscrição. “Qual a sua categoria?”, perguntava a secretária aos pilotos diante do checão de 790 reais, a taxa deste ano. Muitos não sabiam. Eu fui sincero, não sabia mesmo. Queria ver se tinha uma lista para me inscrever na que tivesse menos participantes, já que meu carro se encaixa em várias delas, mas não tinha lista alguma e deixei a cargo da secretária escolher uma.

Quando saiu a folha de tempos da classificação, o Meianov estava enquadrado como D2C2, uma categoria que não existe. Achei sensacional. Um carro-fantasma de uma categoria-fantasma. Entre os 25 inscritos para o treino que definiu o grid, havia carros da PB, PA, D3C, D2C2, D3B, D3, D4B, D4D, D2B, F, D3A e D1.

A classificação começara tensa, com uma forte batida do Ricardo Magnusson no S do Senna. Acabou com o Bianco, mas ele não sofreu nada. Tanto que mandou buscar o Puma em casa e largou com ele, horas depois. A pole foi do Malanga, que apareceu com seu Transformer verde agora decorado com um enorme aerofólio traseiro (na PB, a divisão dele, pode usar asa onde quiser) e fez 1min59s348 na sua melhor volta. As novas regras agora permitem slicks em alguma divisões, acho que a D4 com suas letrinhas, e dois carros usaram tais pneus: o Passat do Rogério Tranjan (melhorou seu tempo em mais de 2s em relação ao que costumava virar com radiais, e adorou) e o JK de Fábio Steimbruch, que vem a ser um dos quatro membros da genial comissão de antigomobilismo da FASP — a que elaborou o genial regulamento de 20 categorias diferentes.

O Meianov andou direitinho, nem muito, nem pouco. Fez 2min19s653 (111,078 km/h), 19º na geral. Para a corrida, pedi apenas para colocarem meu banco bem mais para a frente, porque acho que desde a última prova eu encolhi — ou o Meianov esticou. Demos uma mexida no carburador, também, porque estava havendo um buraco enorme nas retomadas de aceleração. A posição de dirigir melhorou muito. A carburada não adiantou grande coisa, mas tudo bem. Se eu tivesse treinado na sexta, a gente teria tido tempo de arrumar isso, mas não pude, paciência.

No intervalo entre classificação e largada, mandei fazer lá no autódromo mesmo os adesivos da ToGroundControl, o ateliê da Juliana, lembram?, a estilista que desenhou o novo macacão do velho piloto aqui. Depois coloco fotos, ficaram muito bonitos.

No briefing, perguntei timidamente ao Ernesto, diretor de prova, como seria a questão do pódio e dos troféus, já que tínhamos 12 categorias representadas no grid, inclusive uma, a minha, que não existia. Não era de sua alçada, avisou. Steimbruch, o da comissão de antigomobilismo, não soube responder. Não insisti.

Largamos com o tempo muito nublado, sem grandes sustos, e nas primeiras seis ou sete voltas tive uma briguinha bem divertida com meu amigo José Zuffo, maluco por DKW, mas que voltou a correr depois de muito tempo com um simpaticíssimo Fiat 147 — o único carro inscrito na D1. Ele me passou na largada, eu o passei no S do Senna, depois ele me passou no Sol, quando a minha quarta marcha não entrou, e eu o passei de novo no S antigo. Aí comecei a abrir um pouquinho, ele quebrou e corri sozinho até o fim.

Não foi uma prova das mais emocionantes. Fiz minha melhor volta na sexta passagem, 2min18s635, e da metade para o final, sem ninguém para brigar e com uma leve garoinha em Interlagos, os tempos subiram para a casa dos 2min20s. Tudo funcionou direitinho no carro e foi bacana ver a blogaiada torcendo a cada passagem pelo S do Senna ou pelo Laranjinha, com a turma acenando lá do heliporto.

O Malanga, que liderava na geral com o Transformer alado, quebrou na última volta. A vitória acabou ficando com o João Caldeira, de réplica de Porsche, carro preparado pelo Della Barba. Sebastião Gulla (Puma AP da LF, minha equipe) ficou em segundo na geral e o “restauranteur” Edson Furrier (Puma a ar, da Della Barba) foi o terceiro.

Não houve pódio. Porque ninguém da FASP, nem de sua genial comissão de antigomobilismo (de seus quatro membros, dois não apareceram em Interlagos, um estava correndo e outro preparando o carro do filho), sabia como fazer a classificação final. O caladinho Meianov, coitado, começou o sábado como D2C2 e terminou como D2C. Eram 12 as categorias na definição do grid, tornaram-se dez ao final da corrida. A comissão de antigomobilismo desapareceu. O vice-presidente da FASP bradava que aquilo estava uma bagunça e convocava os pilotos à federação terça-feira, para reclamar a volta do regulamento de 2006/2007 (feito pela nossa proscrita associação, a APTA). Malanga, que defendeu aqui com devoção quase religiosa as novas regras, também sumiu. Se tivesse ficado até mais tarde, levaria o troféu de quarto colocado na categoria PB, seja lá o que for isso.

Muitos pilotos reclamaram troféus de vitoriosos em suas categorias, mesmo que elas tivessem apenas um carro. Falaram em fazer cinco pódios, usando a classificação de cada divisão, independentemente da subcategoria. Eu, por exemplo, terminei na gloriosa segunda posição na D2C, que tinha dois carros (o primeiro foi o TL do Michael Preffer). Num pódio com todos os D2 e suas letrinhas, ficaria em quarto. Mas não houve cerimônia de pódio, porque depois de muita discussão e desesperança, vários pilotos simplesmente foram embora. Catei um troféu de quarto lugar na D2 e me mandei, também. Outros pilotos fizeram o mesmo. Sobraram troféus, acredito.

É o resultado dessa comissão desastrosa, que estragou nosso campeonato com uma arrogância ímpar, fazendo um regulamento ininteligível sem consultar ninguém, sem ouvir os pilotos que há seis anos correm na Superclassic e que sempre trabalharam por uma certa estabilidade da categoria, que forçou a barra para colocar pneus slick onde nunca houve (o carro de Steimbruch usa slicks, reforço) achando que velhos amigos voltariam a correr (não voltaram), que embromou o pobre do Professor Carpinelli com a história de que era preciso chamar mais carros originais (a D1, os ditos originais, tinha um carro), resultado da ação dessa comissão cujos membros mal sabem escrever (basta tentar ler o regulamento para comprovar), desses caras que fogem na hora da crise, e que vão enterrar uma categoria que já foi tão bela, pacífica e divertida. Quem esteve hoje em Interlagos viu no que deu a combinação da omissão da FASP com a genialidade da comissão e sua defesa cega puxada pelos “legalistas” como Malanga.

E, depois, o chato sou eu.