Blog do Flavio Gomes
F-1

BARRICHELLO, ANO 17

SÃO PAULO (não acaba nunca!) – Está tudo certo e o anúncio será feito na quinta-feira. Rubens Barrichello vai mesmo para sua 17ª temporada na F-1. Na reta final das negociações, deu um tombo em Bruno Senna, por assim dizer. Falando ao jornalista Livio Oricchio, de “O Estado de S.Paulo”, Bruno usou essa expressão mesmo: […]

SÃO PAULO (não acaba nunca!) – Está tudo certo e o anúncio será feito na quinta-feira. Rubens Barrichello vai mesmo para sua 17ª temporada na F-1. Na reta final das negociações, deu um tombo em Bruno Senna, por assim dizer. Falando ao jornalista Livio Oricchio, de “O Estado de S.Paulo”, Bruno usou essa expressão mesmo: um tombo. Disse que foi “inocente” nas conversas com Ross Brawn, com quem tinha uma reunião para onem que acabou sendo cancelada. E que ficou “chateado por perder boas oportunidades profissionais” enquanto esperava um desfecho do caso. “Brawn”, aliás, será o nome da equipe — como já se sabia desde a semana passada.

Assim, fica claro que Bruno não mentiu quando nos disse que não tinha nada assinado com ninguém, contrariando reportagem da revista italiana “Autosprint” — que cravou um contrato já firmado de três anos para o brasileiro, usando de um expediente maroto no jornalismo, a edição de respostas adaptando-as a perguntas jamais feitas.

A permanência de Barrichello não deixa de ser uma surpresa, ao menos para mim. Menos pelo silêncio que ele manteve nos últimos meses, mais por achar que do ponto de vista mercadológico Senna seria um negócio melhor para quem quer que fosse o novo controlador da ex-Honda. Mas acabou pesando, no frigir dos ovos (ovos fregem?), a experiência de Rubens para fazer andar um carro que terá, antes da estreia na Austrália, míseros quatro dias de testes em Barcelona.

Barrichello não fará milagres, nem Button (que deve conduzir o shakedown da barata sexta-feira em Silverstone). Com pouquíssimo tempo de pista, nada de dinheiro e uma situação atípica para qualquer time em qualquer categoria, o carro da Brawn está condenado a andar nas últimas posições. Mas a F-1 será bem estranha neste ano, por conta das novas regras. O que pode, ao longo do ano, causar uma surpresa ou outra.

O último capítulo dessa novela pode ser considerado o maior triunfo da carreira de Barrichello. Às portas de seu 37º aniversário, desacreditado e sem resultados notáveis nos últimos anos, ele deixa para trás um monte de garotos loucos para correr e consegue uma sobrevida improvável, depois de ter sido sacado do baralho sem dó nem piedade por todo mundo — eu, por exemplo, apostaria em qualquer coisa, menos na sua permanência. É sinal de que ainda goza do respeito de pessoas importantes na categoria, o que certamente fará muita gente repensar os conceitos que normalmente agrega ao seu nome — “lento”, “perdedor”, “coitadinho” etc.

Não que, de um dia para o outro, ele tenha se tornado “velocíssimo”, “ganhador” e “fantástico”. Na Honda, mesmo, não foi nada disso desde que por lá chegou, em 2006. Há sempre um outro lado para a moeda. O que aconteceu foi que as circunstâncias, por incrível que pareça, ajudaram Rubens. Num cenário de tragédia anunciada e terra arrasada, Ross Brawn viu nele um porto seguro e conhecido para fazer a roda continuar girando. Na zona que deve estar a equipe neste momento, a última coisa que o novo chefe precisa é de um piloto novato, a quem tenha de ensinar quais botões apertar no volante e todos os demais segredos de uma categoria repleta deles. Brawn olhou para suas possibilidades, viu o retrato de Rubens à frente e deve ter dito: “Só tem tu, vai tu mesmo”.

Não tivesse a Honda decidido puxar o carro da F-1, em resumo, Barrichello provavelmente estaria a pé. Mas não ficará, e continuará fazendo aquilo que sempre declarou ser sua paixão. Que tenha muita sorte, então!