Blog do Flavio Gomes
Imprensa

JORNALISMO CHINFRIM

SÃO PAULO (não é à toa…) – Agradeço a todos os blogueiros que me mandaram, hoje, o recorte anexo. Trata-se de um texto publicado na “Gazeta Mercantil” de hoje sob o título impreciso e mentiroso “Rússia dá bilhões de dólares para a produção do ultrapassado Lada”. A “GM” é um jornal que já teve uma […]

SÃO PAULO (não é à toa…) – Agradeço a todos os blogueiros que me mandaram, hoje, o recorte anexo. Trata-se de um texto publicado na “Gazeta Mercantil” de hoje sob o título impreciso e mentiroso “Rússia dá bilhões de dólares para a produção do ultrapassado Lada”. A “GM” é um jornal que já teve uma certa importância. Mas nos últimos anos passou por péssimas administrações, demitiu gente, enfrentou greves, não pagou salários. Hoje, nem sei direito quem é o dono. A outrora relevante “GM” não tem mais o menor peso. Ninguém lê. O “Valor” ocupou seu lugar como único jornal de economia importante do país.

A explicação para a decadência sans elegance são textos como essa porcaria aí do lado. Como é difícil de ler, reproduzo alguns trechinhos. Originalmente foi publicado no “The New York Times”, que deve ter um correspondente picareta em Moscou, de onde manda uma matéria por semana e passa o resto dos dias enchendo a cara de vodca e comendo as putas russas.

Nesta semana, resolveu falar sobre a indústria automotiva da antiga URSS, que estaria recebendo “bilhões” do governo russo. A tradução da “GM” é tão ridícula que já erra no crédito, o nome da cidade de onde supostamente o picareta mandou seu texto: “Tolyatti”. Claro que para leitores analfabetos americanos Togliatti, o nome correto da cidade, seria algo quase ilegível e certamente impronunciável. Pena que não tenho o nome do autor da matéria. Se tivesse, mandaria um e-mail para ele dizendo que “Tolyatti é seu cu”.

Aí ele começa a vomitar suas bobagens. “A fábrica aqui vem repetindo a mesma versão do Lada, o típico retangular do ex-Bloco Oriental, por quatro décadas.” Ah, é? O 2107, modelo ao qual a besta deve se referir, é apenas um dos carros fabricados pela Autovaz. Ainda tem toda a linha Kalina, Samara, Priora, a plataforma do 110, o Chevrolet Niva, o 4×4… Mas o cretino só viu o 2107 — que lá no fim do texto ele chama de “Klassika”, e gostaria muito de saber de onde tirou esse nome; o 2107 é chamado de “Classic”, e o animal acha engraçadinho escrever qualquer palavra supostamente em russo com K, algo simpático aqui no blog, por exemplo, mas patético num jornal como o “NYT”.

Aí vem um parágrafo que começa assim: “Conhecida como Avtovaz…”. Conhecida como? Primeiro, na transliteração, é Autovaz com U, não com V. Depois, a fábrica não é “conhecida como”. Ela se chama Autovaz. Seria o mesmo que escrever “conhecida como Ford, a fábrica de Detroit” etc. Para piorar, logo depois tem um ridículo parêntese “pronuncia-se aft-OV-az”, e o energúmeno que fez a tradução para a “Gazeta” manteve a importantíssima explicação. “Aft”? Puta que o pariu.

Continuando… “Conhecida como Avtovaz, é uma das fábricas automotivas menos eficientes de todo o mundo — cada operário produz, em média, oito carros por ano, em comparação com os 36 por ano na linha de montagem da General Motors em Bowling Green, Ky., por exemplo”. Porra, o cara tem a manha de usar a GM como parâmetro! A GM! Essa lata de lixo quebrada que está sangrando os cofres americanos e não tem para onde ir! Tenha santa paciência… E o que é “Bowling Green, Ky.”? KY, para mim, é aquele gel. Como pode um jornal brasileiro publicar uma tradução nesses termos?

E continua, a anta… “Mesmo assim o governo está concedendo à Avtovaz (aqui entra o parêntese sobre a pronúncia) bilhões de dólares em ajuda sem pedir nada em troca.” Beleza de apuração. Quantos bilhões, ó psicopata das letras? Dois? Cinco? Noventa? Nem uma palavra sobre a quantia. Escreve bilhões que impressiona. Ninguém vai perguntar quanto, mesmo. “Nada de demitir o principal executivo. Nada de negociar os contratos dos trabalhadores” e etc. Cartilha que está sendo executada à perfeição na economia dos EUA, não é mesmo? Opa…

Tem mais: “(…) A ajuda (…), ao estilo russo, pretende mais garantir a tranquilidade nas ruas do que reestruturar um negócio, para tristeza de alguns críticos que acham que um arrocho seria melhor.” Quer dizer que a tranquilidade de 120 mil operários é menos importante que um arrocho? E quem são esses críticos? Ele cita um obscuro ex-primeiro-ministro também com a grafia errada. Ora, ora. Preciso descobrir o nome do autor dessa matéria. Um imbecil, como diz nosso Mestre Joca, analfabeto de pai, mãe e parteira. Mandaria mais um e-mail bem educado. Arrocho de cu é rola, toupeira.

A Autovaz, aparentemente, foi ouvida, embora não apareça o nome de ninguém, apenas uma declaração apócrifa: “A Avtovaz não demitiu ninguém e não pretende fazê-lo.” É o que presta no texto. Grandes empresas não têm de sair demitindo ao primeiro sinal de crise. Se a Lada não está demitindo, palmas para ela.

E que essa besta de correspondente deixe a Rússia, pegue um avião e vá a Detroit. Verá que a antiga capital mundial do automóvel é, hoje, uma cidade-fantasma, com milhares de pessoas sem emprego, pedindo esmolas nas ruas, perdendo horas na fila da sopa gratuita, por conta da ineficácia da indústria americana.

Mas se resolver ficar em Moscou, que fique. Tomara que seja atropelado por um Niva. Quanto à “Gazeta”, que procure redatores melhores.