Blog do Flavio Gomes
F-1

FOI ELE

SÃO PAULO (fim de linha) – Nelsinho Piquet confessou, por escrito, que causou deliberadamente o acidente que deu a vitória a Alonso em Cingapura. A íntegra de sua confissão à FIA está aqui. Nelsinho isenta Alonso, afirmando que apenas Symonds, Briatore e ele sabiam dos planos. Justifica-se por um “estado emocional frágil”, por conta das […]

SÃO PAULO (fim de linha) – Nelsinho Piquet confessou, por escrito, que causou deliberadamente o acidente que deu a vitória a Alonso em Cingapura. A íntegra de sua confissão à FIA está aqui.

Nelsinho isenta Alonso, afirmando que apenas Symonds, Briatore e ele sabiam dos planos. Justifica-se por um “estado emocional frágil”, por conta das incertezas sobre seu futuro na Renault.

Piquet-pimpolho revela-se dono de personalidade frágil, isso sim. Não há justificativa para o que fez. Que pedisse demissão, nem corresse, metesse a boca no mundo. “Ah, é fácil falar”, dirá alguém. É fácil, mesmo. Se ele fizesse isso, não estaria em jogo sua vida, sua carreira, nada. Ao contrário, jogaria luz nas trevas da Renault e da F-1, poderia dormir em paz.

Uma coisa é aceitar fazer o inaceitável diante de ameaças irreversíveis. Perder a casa, a vida, um filho, um braço. Essas coisas de filmes, torturas, mutilações. Outra, bem diferente, é se agarrar a um emprego medíocre cometendo um ato indefensável. O que poderia lhe acontecer de pior se não aceitasse? Perder a vaga? Deixar de correr na F-1? Bela merda.

A carreira do menino acabou. E tenho pena dele. O que fez é desprezível, mas sinto mais pena do que desprezo. De gente como Briatore, Symonds e todos da F-1, que conheço bem, pouca coisa me surpreende. Esses que se fodam, serão punidos, acho que nunca mais aparecerão num paddock. Quem mais vai se sujar nisso tudo, justamente por ter se sujeitado à ganâncias dos patrões que são reconhecidamente maus elementos, é Piquet Jr. Porque de um piloto se espera um comportamento diferente, o que resta de pureza num esporte mau.

Há alguns anos, quando Nelsinho ainda estava na GP2, escrevi um texto sobre ele depois de um entrevero com um piloto turco em Mônaco. Fiquei muito mal-impressionado com o rapaz, a quem não conhecia direito, pois ele estava chegando, vinha da F-3 inglesa, não tínhamos muito contato. Achei-o um merdinha, para dizer o português bem claro.

Mas depois parei de viajar com a F-1, não o encontrei mais, e nos últimos meses ele até ganhou uma certa simpatia da mídia — e do público, por que não? — por sua atuação no Twitter, sempre dando a impressão de ser muito franco e sincero, disponível, interativo nas suas mensagens, revelando algumas inseguranças e esperanças, um jovem em busca de um lugar no mundo. Causava uma certa consternação ouvi-lo, sempre em voz baixa, preocupado com o futuro, sofrendo numa F-1 dura e competitiva, alvo de críticas e incertezas.

O “franco e sincero”, pelo jeito, ficaram na impressão.