Blog do Flavio Gomes
F-1

MUITO ALÉM DO CONTRATO

SÃO PAULO (estoy cansado) – Eu jamais me sentiria assim, como torcedor, porque há muito tempo deixei de dar grande importância a certas coisas, exceção feita à Portuguesa. Mas acho que o comentário deixado num dos posts abaixo, assinado pelo Francisco Menezes, ilustra bem o tamanho da repercussão de uma atitude como a que tomou […]

SÃO PAULO (estoy cansado) – Eu jamais me sentiria assim, como torcedor, porque há muito tempo deixei de dar grande importância a certas coisas, exceção feita à Portuguesa. Mas acho que o comentário deixado num dos posts abaixo, assinado pelo Francisco Menezes, ilustra bem o tamanho da repercussão de uma atitude como a que tomou Massa ontem na Alemanha.

Chico é um conhecido meu que mora em Munique. Há alguns anos foi trabalhar na Alemanha e acabou se instalando no país. Tem uma vida dura, trabalha numa empresa e faz uns bicos de motorista nos finais de semana, mas vai se virando numa boa.

Leiam, e depois eu volto.

Oi Flavio, tudo bem? Sou o Chico de Munique, se lembra?

Pois bem, ontem estive em Hockenheim com meu filho mais novo para torcer pelos brasileiros. Fomos de camisa do Brasil, boné do Brasil, duas bandeiras do Brasil e uma bandeira da Ferrari. Acompanho F-1 desde que Emerson foi bicampeão, portanto não aprendi a torcer somente depois de Ayrton Senna.

Porém, acho que me deixei envolver pela transformação que Ayrton Senna fez na F-1 para nos brasileiros. Acabei sempre torcendo pelo país, e nãopelo piloto, muito menos pela equipe.

Quando decidi passar o final de semana em Hockenheim, decidi ir lá para torcer pelos brasileiros e não por apenas um deles ou apenas por uma equipe.

Flavio, o Felipe Massa me puxou o tapete, cara…

Eu e meu filho levantamos a bandeira do Brasil durante 47 voltas, e gritávamos “vai Felipe” ou “vai Brasil”.

Flavio, fiquei morrendo de vergonha dos estrangeiros sentados perto da gente. Não consegui me despedir dos caras ou olhar na cara deles.

Será que o Felipe Massa entende que além de trabalhar na Ferrari ele também tem milhões de fãs brasileiros que hoje estão arrasados? Ou talvez deveriam apenas estar chateados?

Flavio, Felipe Massa não merece mais meu respeito (pois mostrou ontem que não me respeita) e NUNCA MAIS minha torcida.

Hoje entendi muito melhor por que se toca o hino do piloto e o hino do país da equipe no pódio.

Acho que no caso do Felipe Massa, ele não deveria mais ter o hino nacional brasileiro tocado no pódio. Ele não respeitou a pátria ontem.

Se algum dia ele pedir desculpas aos fãs, eu não aceito! Que apareça mais um piloto brasileiro com aquilo roxo.

Felipe Massa não se deu o respeito. Não deve esperar que a gente o respeite. Sua reputação, sua dignidade e sua honra foram jogadas no lixo ontem.

Eu discordo visceralmente do Chico. Não acho que pilotos representem pátrias, não gosto dessa mistura de esporte com nacionalismo, acho que há um enorme exagero nessas coisas. Mas reconheço que elas existem. E se como jornalista estou pouco me lixando para os resultados de seja lá quem for, entendo que as reações dos torcedores são bem diferentes e devem ser levadas em conta por aqueles que, no fim das contas, são pagos por eles.

Por isso que Massa, e qualquer outro atleta, deve refletir bem antes de tomar certas atitudes. Elas atingem milhões de pessoas que os seguem por diversos motivos. Pensar individualmente, em alguns casos, soa egoísta. Se o discurso oficial da Ferrari é o de que seus pilotos devem pensar na equipe, coletivamente, é fácil rebatê-lo dizendo que quando se fala em coletivo, deve-se contemplar também a massa de torcedores que se deslocam para um autódromo, gastam seu dinheiro comprando camisetas e bonés e bandeiras e ingressos, alimentam uma expectativa legítima e sincera.

Se Felipe (e isso vale para qualquer piloto, não vou individualizar nada aqui) se recusasse a acatar a ordem de deixar Alonso passar, ou — acreditando na cascata de que a decisão foi dele — brigasse pela vitória, estaria dando uma resposta a muito mais gente do que a meia-dúzia da cúpula ferrarista a quem decidiu agradar. Gente que também paga seu salário. Seria difícil até na Ferrari alguém ficar contra sua decisão.

Mensagens como a do Chico apareceram aos montes nos comentários feitos pelos blogueiros. “Nunca mais acordo cedo para ver esse cara”, “Vou cancelar meu ingresso para Interlagos”, “Ele não merece minha torcida”, é só ler, tem muita gente se manifestando assim.

Continuo achando tudo um exagero, as pessoas não deveriam levar um esporte tão a sério assim. É só uma corrida, ou só um jogo de futebol, o mundo não vai acabar porque um ganhou e o outro perdeu, esporte é entretenimento, devagar com o andor.

Mas é bastante claro que no esporte muita gente encontra uma válvula de escape para suas mazelas pessoais, isso no mundo inteiro, com maior ou menor intensidade, depende do país. No esporte se procura o sucesso e se foge do fracasso, há uma transferência de sentimentos, muito disso tudo acaba virando demonstração de carência, as pessoas precisam de ídolos para compartilhar suas vitórias, se apropriar delas. Se sentem traídas, violentadas, quando decepcionadas, quando a atitude de seu ídolo não é aquela que se esperava.

É algo que precisa fazer parte das preocupações de um esportista, por mais infantil que possa parecer.