Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ALEMANHA (4)

SÃO PAULO (ah, a história…) – Não se tira uma vitória de um piloto, a não ser que o campeonato esteja sendo decidido, os pontos sejam fundamentais para resolver quem será o campeão. O que a Ferrari fez hoje em Hockenheim foi exatamente o que fez no GP da Áustria de 2002 com Barrichello e […]

SÃO PAULO (ah, a história…) – Não se tira uma vitória de um piloto, a não ser que o campeonato esteja sendo decidido, os pontos sejam fundamentais para resolver quem será o campeão. O que a Ferrari fez hoje em Hockenheim foi exatamente o que fez no GP da Áustria de 2002 com Barrichello e Schumacher: desnecessário e antidesportivo.

E os personagens de 2010 merecem nota zero, todos eles, como há oito anos. A começar pela cúpula do time. É inacreditável que não tenham aprendido com o erro gigantesco do passado. Este Mundial não vai se decidir por sete pontos. Expor seus pilotos a uma patuscada dessas, mais uma, é uma burrice monumental. Zero para Alonso, que mandou um ” é ridículo” pelo rádio quando nada de ridículo havia na sua frente. Apenas um piloto defendendo a liderança da corrida. Zero para Massa, que tem idade e cancha suficiente para se negar a fazer aquilo que não quer.

Se Alonso estava mais rápido que Felipe, e em algum momento da corrida sempre se está, depende dos pneus, do vento, de uma coceirinha no nariz, que fizesse a ultrapassagem. Sem colocar os dois carros em risco, evidente. Algo que não aconteceria, porque ambos são experientes e nada têm de burros.

Massa usou o discurso do “bem da equipe”, que a Ferrari adora. Vai reclamar internamente, é seu estilo. Mas aceitar a ordem o deixa numa posição frágil, ao contrário do que se imagina — de que foi ele o vencedor moral, ganhou pontos no time, essas coisas. Não adianta, a partir de hoje, 25 de julho, diante da opinião pública e principalmente do torcedor brasileiro, tornou-se um segundo Barrichello.

E por que a Ferrari faz essas coisas? Bem, ninguém precisa imaginar que é algo pessoal contra o Brasil, por causa das forças da FEB que ocuparam alguns vilarejos na Segunda Guerra, ou porque a seleção ganhou da Itália duas finais de Copa do Mundo. Não há uma vendetta patriótica. É apenas coincidência que as vítimas da ética toda particular de Maranello tenham sido pilotos brasileiros. Na verdade, primeiro e segundo pilotos é algo natural em qualquer equipe de F-1. O problema ferrarista é que seu modus operandi é desastroso. Vem lá dos tempos de Pironi e Villeneuve.

Nenhum piloto é obrigado a aceitar esse tipo de coisa. Mas, quando aceita, submete-se a um julgamento muitas vezes cruel. Principalmente porque apesar das ordens, dos contratos, do medo de perder o emprego, sempre existe a opção de dizer “não”. Para, depois, aguentar as consequências. Que, desconfio, não podem ser muito piores do que receber um rótulo de banana que pode colar na testa para o resto da vida.

Felipe, hoje, teve a chance de dar uma de Muricy, para ficar numa comparação fresquinha. Ou de peitar todo mundo, como Webber vem fazendo. Mas optou pelo time, pela “famiglia”. Vai receber tapinhas nas costas e agradecimentos. Não vale a pena. É melhor enfrentar umas caras feias, de vez em quando.