Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ALEMANHA (6)

SÃO PAULO (quem fala…) – Parece até sacanagem, mas Michael Schumacher defendeu as ordens de equipe dizendo, apenas, que elas “não podem ser tão óbvias”. É preciso dar uma disfarçada, em resumo. Algo que a Ferrari não fez com ele e Barrichello em dois GPs da Áustria, em 2001 e 2002. Mas à parte a […]

SÃO PAULO (quem fala…) – Parece até sacanagem, mas Michael Schumacher defendeu as ordens de equipe dizendo, apenas, que elas “não podem ser tão óbvias”. É preciso dar uma disfarçada, em resumo. Algo que a Ferrari não fez com ele e Barrichello em dois GPs da Áustria, em 2001 e 2002.

Mas à parte a pegação no pé do alemão, que se beneficiou dessas coisas muito menos do que se imagina, porque não precisava com frequência, está na hora mesmo de a FIA acabar com essa hipocrisia de proibir ordens de equipe. Como dito no último post, ninguém estaria discutindo nada se algo parecido acontecesse na última corrida do ano valendo título. Nem a FIA multaria ninguém em ridículos 100 mil dinheiros, como fez com a Ferrari.

As ordens acontecem aos montes, só que com frases diferentes. Ninguém diz no rádio para tirar o pé e deixar o companheiro passar. Usam-se eufemismos: “Meu querido, mude a mistura para G8 e poupe o motor”, diz um engenheiro; “Honey, seu consumo de óleo está alto, a temperatura do assento subiu, há uma vibração na gaveta do toca-fitas, acho melhor reduzir o ritmo”, pede outro.

F-1 é um esporte coletivo e cada time faz o que quiser. Desde que, claro, não mande alguém se espatifar no muro, ou segurar um adversário com manobras desleais. Como também já foi dito, as equipes que tomem suas decisões e aguentem as consequências, como a reprovação de fãs e torcedores, a imagem arranhada, a execração pública. E a contrariedade dos pilotos.

O problema hoje foi o comportamento dúbio de Massa. Deixou passar e ficou emburrado, dando a impressão de que a ordem o emputeceu. Depois, disse que foi ele quem decidiu deixar, que não houve ordem alguma.

O negócio é o seguinte: se houve ordem e atendeu, não reclame. Ou, então, se negue a fazer o que mandaram e acabou. Depois vai resolver a situação a portas fechadas. Se foi ele mesmo quem decidiu permitir a ultrapassagem, que não diga coisas como “não preciso falar nada”, insinuando que estava obedecendo ordens, e que era isso ou a guilhotina.

Do jeito que fez, Massa conseguiu que todo mundo ficasse com raiva da Ferrari, com raiva dele e com raiva de Alonso. Poucos ficaram com peninha do brasileiro. Ele será tratado como vítima, na Globo principalmente, mas não é. Mais ou menos como aconteceu com Barrichello em Zeltweg. Não adianta fazer bico. A tromba acaba jogando o público contra a equipe. E aí sim a equipe se irrita. Bastante.

Como já falei, e estou me tornando repetitivo, é preciso saber dizer “não” às vezes. E se for dizer “sim”, que se diga com um sorriso no rosto. O gozado é que de Felipe eu juro que não esperava isso. No seu primeiro ano de F-1, lembro claramente de ele ter peitado Peter Sauber numa corrida não sei onde. O companheiro de equipe era o Heidfeld, creio, e ele recebeu a ordem para deixar o alemão passar. Mas não deixou e na entrevista depois da corrida, falou que o rádio estava quebrado.

Doce molecagem, que poderia ter repetido hoje. Insisto que, para mim, ganharia pontos com tal atitude. Junto aos mecânicos, aos torcedores, ao seu engenheiro. Alguém ficaria puto no time, mas depois entenderia. O que se espera de um piloto é que ele lute por vitórias, não por empregos. O mundo do esporte, em algum momento, sabe recompensar quem age assim.

Quanto à Ferrari, sigo defendendo a tese de que ninguém deve ficar indignado ou revoltado com “essa nojeira”, “essa sacanagem com o Brasil”, essas coisas chiliquentas. A equipe é apenas burra. Não porque, como sugere Schumacher, não sabe disfarçar; mas porque resolve dar ordens estapafúrdias em momentos inadequados.

Hoje, não tinha sentido nenhum mandar Felipe deixar passar. No dia em que o brasileiro festejava o fato de estar vivo exatamente um ano depois do acidente horroroso que quase o matou na Hungria, uma vitória seria muito mais importante para ele, repleta de significados, do que para Alonso.

O espanhol, graças a mais uma patuscada italiana, ganhou sete pontos na tabela e anexou uma legião de torcedores antipáticos à sua causa quixotesca, que é tentar conquistar o tricampeonato com um carro pior que os de McLaren e Red Bull. E não serão esses sete pontos que vão resolver os problemas de Maranello.

Quanto a uma punição maior que os 100 mil dinheiros, seria engraçado se isso acontecesse. Principalmente na gestão de Jean Todt como presidente da FIA, justo aquele que já decidiu Paris-Dacar na moedinha e que não teve a menor vergonha de fazer o que fez na mesma Ferrari naquelas já distantes corridas austríacas.

E chega desse assunto.