Blog do Flavio Gomes
#69

BYE, LONDRINA

LONDRINA (até o ano que vem) – E terminou o 5° GP do Café, nossa etapa londrinense da Classic Cup. Vimos aqui desde 2007 e é sempre muito gostoso. Risadas a granel e mentiras de pilotos a torto e direito. O único que conta a verdade dos fatos sou eu. E a verdade dos fatos […]

LONDRINA (até o ano que vem) – E terminou o 5° GP do Café, nossa etapa londrinense da Classic Cup. Vimos aqui desde 2007 e é sempre muito gostoso. Risadas a granel e mentiras de pilotos a torto e direito. O único que conta a verdade dos fatos sou eu.

E a verdade dos fatos é esse belo troféu aí embaixo. Algo que nem o carcamano Marcelo Giordano, meu companheiro de equipe, nem o prolixo Rogério Tranjan, meu adversário, conseguiram. Para variar.

Aqui é importante que se diga. Na minha equipe, a LF, é cada vez mais clara minha posição de primeiro piloto. Afinal, sou eu quem traz resultados. OK, um de nossos novatos, o João Peixoto, venceu a prova hoje na geral. E levou o título na soma das duas baterias. Mas ele é novato, está chegando agora, deu sorte e recebe tratamento privilegiado, como isopor exclusivo para seus gatorades.

Decadente, Giordano sequer largou. Houve um problema na rosca, algo assim. “Giordano com problema na rosca” era o que dizia o press-release de nossa assessoria de imprensa. Procurei não entrar em detalhes. Soube que tudo estava funcionando perfeitamente em seu equipamento, como o rádio, o Turíbio (não sei o que faz esse dispositivo, mas ele tem esse negócio), o Red Hot Chilly Laps, a câmera Go, Speed, Go, as merdas todas que ele coloca no carro. Menos o carro, por causa dessa rosca. Problema dele. Um a menos para passar.

Tranjan, por sua vez, piloto da pequenina Rosinha-Gaydarji, uma espécie de Hispania de nossa categoria, estava radiante porque finalmente seu carro conseguiu se deslocar do box para o grid. O dono da equipe ajoelhou-se no pitlane e ergueu as mãos para o céu. A cena me comoveu, mas percebi pessoas em torno espantadas com o gesto messiânico.

Larguei em 15° na geral, pole na minha categoria, de “Carros do Leste com Estrela Vermelha”. Como de hábito, parti de forma extraordinária, deixando todos no autódromo boquiabertos. Ultrapassei uns quatro ou doze carros, por aí, chegando na primeira chicane em primeiro ou segundo, aparentemente. Tive de cortá-la, inclusive, porque Giordano me espremeu. Sim, eu sei que ele nem largou, mas pilotos como eu chamam todos os outros de “giordanos”, assim como Mané Garrincha chamava seus marcadores de “joões”.

Tive uma boa disputa com dois Passats, um chegou na minha frente, outro atrás, mas o momento mais surpreendente da prova para mim foi ser ultrapassado por Tranjan. Algo inesperado e suspeito. Depois descobri, pela telemetria, que naquele exato momento meu carro estava com apenas um cilindro funcionando. Os mafiosos da Brandini se mandaram lá na frente com métodos espúrios, como sempre. Seus carros, com pinturas novas, ficaram irreconhecíveis. Por isso preferi não ultrapassar nenhum deles, com medo de represálias.

A partir da 14ª volta tive um problema prosaico, cabo do acelerador enroscando, travava a bagaça, tive de controlar meus impulsos e meus tempos de volta, previstos para aquela altura para chegar à casa de 1min18s, caíram para 1min43s. Aí foi só esperar a bandeirada. Minha melhor volta foi registrada pelos satélites da KGB em 1min38s944. Ontem foi melhor no cronômetro, mas pior na posição final.

Terminamos, eu e Meianov, em 11° na geral, o que nos garantiu o troféu “Most Valuable Eleventh Place for Blond and Blue Eyed Drivers”. Tranjan, com atuação medíocre, foi o sexto na geral, uma vez que o nível dos cinco primeiros era muito baixo. Já falei, o Peixoto ganhou depois que o Chambel se enroscou com o enferrujado Fernando Mello quando ia dar uma uma volta nele. Mas como Fernando é irmão do presidente da nossa associação, Chambel nem reclamou e pediu desculpas, ainda.

Na soma das duas baterias, fiquei em quarto na categoria até 1.600 cc e em primeiro, absoluto, entre os “Sedãs de Quatro Portas com Faróis Redondos”, resultado que minha equipe considerou muito bom. Giordano, como já dito, mas nunca é demais lembrar, voltou para casa de mãos abanando, mas deixei ele carregar meu troféu até o táxi. Tranjan, igualmente, como também já dito, e da mesma forma nunca é demais lembrar, está na estrada agora com sua caminhonete C10 sem levar nada na bagagem além do capacete e do macacão puído. Ao chegar ao hotel, fiquei feliz por receber telegrama do camarada Putin e a comenda “Best Autovaz Driver in the Season” graças ao resultado de hoje. O Petrov ficou meio puto.

Por fim, algo que não pode deixar de ser dito. Fizemos parte do fim de semana da etapa londrinense do Brasileiro de Marcas, que tem carros legais e bons pilotos, como Thiago Camilo, Valdeno Brito, Ricardo Maurício, Daniel Serra e outros. Londrina não é exatamente um centro internacional de lazer e aventura. Pouca coisa acontece nestes preguiçosos domingos do interior, e portanto uma corridinha no autódromo da cidade deveria ser um bom programa.

Falei com muita gente. Alguns disseram que a divulgação nas rádios e jornais locais existiu. Outros, que não. Não importa. Importa é que na largada da primeira corrida da rodada dupla de Marcas, havia contadas 25 pessoas na arquibancadinha montada na reta oposta, por volta das 10h de um dia ensolarado e de temperatura agradável. A foto aí embaixo, do Luiz Salomão, é a prova inconteste do desinteresse geral. Não deve ter passado muito disso depois, na segunda bateria, logo depois do almoço. No paddock e nos HCs, algumas dezenas de convidados, e nada mais.

Não há esporte que resista a tamanha indiferença do público, ainda mais quando esse esporte é movido exclusivamente por patrocínios. Ou o automobilismo brasileiro se reinventa, ou é melhor parar com tudo de uma vez.