Blog do Flavio Gomes
F-1

ASSIM SÃO AS COISAS

SÃO PAULO (pff) – No dia 1° de novembro, o Grande Prêmio deu em manchete, em texto assinado por Américo Teixeira Jr. e Victor Martins, que Bruno Senna tinha sido comunicado pela Williams que estava fora em 2013. Naquele dia eu, que sou o dono dessa bagaça toda, nem perguntei aos dois quais eram suas […]

SÃO PAULO (pff) – No dia 1° de novembro, o Grande Prêmio deu em manchete, em texto assinado por Américo Teixeira Jr. e Victor Martins, que Bruno Senna tinha sido comunicado pela Williams que estava fora em 2013. Naquele dia eu, que sou o dono dessa bagaça toda, nem perguntei aos dois quais eram suas fontes. Eles me mandaram o texto antes, dei uma lida e falei: “OK”. Respeito muito essa coisa de fontes. Continuo sem saber quais eram as fontes. Assim como não sei quais as fontes do Américo, que cravou o Pérez na McLaren e o Hamilton na Mercedes antes de todo mundo. Se eles quisessem me dizer, teriam dito. Mas confio nos meus repórteres, e isso basta. Se as fontes deles confirmaram, OK.

Piloto, equipe e assessores negaram, como de hábito. Estão na dele. Falei das negativas que viriam aqui. Nossos jornalistas, conhecidos como “in lokos”, estavam certos, como de hábito, também. Faço esse pequeno comentário — menos relevante que a notícia em si, anunciada oficialmente hoje — apenas como desagravo aos que trabalham duro e têm suas apurações desqualificadas em rede nacional para milhões de pessoas. Naquele fim de semana, do GP de Abu Dhabi, o locutor oficial, também como de hábito, criticou “a internet, onde todo mundo escreve o que quer”.

A gente escreve o que sabe, não o que quer.

Isso posto, creio que não há muito mais a falar sobre a saída de Bruno, uma vez que já falamos dela há exatos 27 dias. Ele está na mesma situação que estava quando recebeu da Williams a notícia da saída: atrás de dinheiro para comprar um cockpit.

Há algumas vagas abertas ainda para 2013, a saber: uma na Lotus, uma na Force India, uma na Caterham, duas na Marussia e duas na HRT. Pelo bem de sua carreira, Bruno não deve nem considerar as duas últimas. A HRT sequer sabe se estará no grid no ano que vem. A Marussia é uma porcaria. Seria um retrocesso muito indesejado. A Force India é uma boa, mas custa 20 milhões de dinheiros americanos. Na Caterham a fatura é menor. Calcula-se que com a metade é possível sentar no carro verde. Também seria um retrocesso, mas o time pelo menos mostrou alguma evolução em três anos. O lugar da Lotus é apenas retórico. Grosjean vai renovar, e Bruno já passou por lá sem ter impressionado muito.

Senna perdeu seu lugar por vários motivos. Um deles, e o maior, a opção por Bottas feita há muito tempo, decisão que só seria mudada se o brasileiro, por exemplo, fizesse uma temporada espetacular. Mas não foi o caso. Ficou em 16° com 31 pontos, 14 a menos que Maldonado, seu companheiro de equipe. O venezuelano ainda ganhou uma corrida, o que tem enorme peso na F-1. Senninha pontuou em dez etapas. Seu melhor resultado foi um sexto lugar na Malásia, na segunda prova do campeonato.

Um nono lugar na Hungria foi seu melhor grid. Maldonado foi 11 vezes ao Q3 e largou na frente do brasileiro em 15 dos 20 GPs. Seriam mais, não fossem as inúmeras punições que sofreu. A posição média de Bruno no grid foi 14°. De Maldonado, 10°. Essa foi sua principal deficiência: classificações. Em posições de rabeira, o primeiro-sobrinho ficou muito sujeito a refregas de começo de corrida. E elas aconteceram com frequência.

O ritmo de prova de Bruno, no entanto, não foi ruim. Conseguiu algumas boas recuperações e fez corridas razoáveis na China, na Hungria e em Abu Dhabi. Mas nada que demovesse a Williams de efetivar Bottas. Que na minha opinião não foi, como escreveu o colega Fábio Seixas, uma escolha política. Não há escolhas meramente políticas na F-1. Há escolhas pautadas por vários fatores: relacionamento, qualidade técnica, capacidade de atrair patrocinadores, currículo, bom empresário. Tudo junto resulta num piloto titular.

Bottas, de 23 anos, tem um bom currículo, apoio forte de uma grande empresa na Finlândia e seu empresário é Toto Wolff, sócio da Williams. É promissor, foi preparado para ser titular com seus 15 treinos livres no ano (ninguém dá isso a um piloto se não tiver a intenção de vê-lo correndo) e não há nada de errado na sua promoção. Como preparado foram Vettel, Grosjean, Di Resta e muitos outros. Preparados por equipes,  empresários, montadoras, patrocinadores… Essa malta toda precisa apostar em alguém para fazer a roda girar, e aqueles que dão as cartas no jogo escolhem os que consideram bons o bastante para neles depositar suas fichas.

Senninha, para desbancar Barrichello no ano passado, apresentou um currículo breve, mas razoável, um dinheiro considerável (Eike Batista, P&G, Embratel, Santander) e, aí sim, com uma boa carga política representada por seu sobrenome. Também não havia nada de errado nisso. Uma vez titular, teria de mostrar serviço. O que mostrou, pelo jeito, não foi suficiente. E se Bottas também não mostrar, terá o mesmo destino.

É assim que as coisas são.