Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERNADAS (2)

SÃO PAULO (baratinho) – Não sei se as pessoas se importam mais com as notícias de verdade do que com aquilo que genericamente chamam de “bastidores”. “Os bastidores da notícia”, bradam os programas de TV. Ou, quando a gente faz um projeto de qualquer coisa em jornalismo, qualquer coisa mesmo, programas, cadernos especiais, sites, revistas, […]

nadas002SÃO PAULO (baratinho) – Não sei se as pessoas se importam mais com as notícias de verdade do que com aquilo que genericamente chamam de “bastidores”. “Os bastidores da notícia”, bradam os programas de TV. Ou, quando a gente faz um projeto de qualquer coisa em jornalismo, qualquer coisa mesmo, programas, cadernos especiais, sites, revistas, blogs, é fatal: em algum momento vai estar escrito que “o programa X ou o site Y vai trazer os bastidores do esporte Z, aquilo que só a gente vê”.

Não gosto do termo, assim como abomino “circo da Fórmula 1”, expressão usada por dez entre dez jornalistas que falam de F-1 uma vez por ano — esta semana.

Mas vá lá, vamos aos bastidores da notícia para abrir os trabalhos.

Desde sei lá quando, acho que 2006, quando Massa virou titular da Ferrari, a equipe promove, na quarta-feira da semana do GP do Brasil, um almoço para alguns jornalistas mais assíduos e tal.

Em geral são muito agradáveis, porque a maioria é gente boa, Felipe é gente boa, os assessores de imprensa da Ferrari sempre foram gente boa (gentes boas?) e o restaurante é sempre o mesmo, e bom.

E caro. Meu amigo Menon, vizinho de mesa, viu no cardápio que dois ovos caipiras com trufas, ou trutas, algo que começa com “tru”, certeza, custam 300 mangos. 300 mangos por dois ovos e umas trutas, ou trufas, ou ambos. Ovos caipiras, ainda. Sertanejos, tipo Leandro & Leonardo. E estava cheio, o restaurante, inclusive com uma mesa daquelas de família, que a gente reúne, quando muito, em cantinas baratas do Bixiga no Dia das Mães ou no Dia dos Pais. Uma família muito arrumadinha, todos de camisetas polo com brasões no peito e gel no cabelo, provavelmente falando mal do Genoino e do Zé Dirceu, e reclamando dos altos impostos cobrados no Brasil, cada vez mais difíceis de sonegar. Tive ganas de parar na cabeceira, erguer o punho e mandá-los à merda, mas me contive. Não iria agregar muito à mesa.

Aí que foi hoje o tal almoço, claro, e sempre tem assunto com Felipe, este ano mais ainda porque, afinal, o rapaz está se despedindo da equipe. O que me levou imediatamente a questioná-lo se no contrato com a Williams ele incluiu uma cláusula que obriga o novo time a realizar o almoço todos os anos, e ele não soube responder. Conhecida a austeridade da Williams, receio que no ano que vem tal boca-livre aconteça no Habib’s, com comandas individuais.

E papo vai, papo vem, entrada, prato principal e sobremesa escolhidos, e percebo que a bebida mais forte na mesa era uma Coza zero, o que me deixou razoavelmente indignado, porque em anos anteriores alguém sempre pedia um bom vinho. Fiz o comentário com outro colega, que aceitou ser cúmplice, e chamei o garçom com sua carta de vinhos, depois de comunicar ao piloto e ao simpático novo assessor ferrarista que iria pedir vinho, afinal era a Ferrari que estava pagando, e de pobreza chega eu.

Fui nobre na escolha, fiz como faço sempre que peço vinho em restaurantes, escolhi o mais barato, que no caso da carta de vinhos em questão era caro, mas nada que vá afetar o desempenho de Alonso e Raikkonen no ano que vem. Ninguém vai ter de usar asa diferente do outro por conta desse vinho. Fiquem tranquilos.

Éramos dois para derrubar uma garrafa, mas obviamente a maioria na mesa aceitou também quando o garçom ofereceu, e assim deitamos duas garrafas, e Felipe tomou seu golinho porque propus um brinde ao futuro e ao passado do rapaz, e brindar com água com gás, sem chance. O brinde foi estratégico, transformou todo em participantes ativos da bebedeira, e sentou, sorriu, a conta dividiu. Não iria ficar eu sozinho com a culpa por aquelas duas garrafas.

Não sei quanto saiu a conta, mas quem vai pagar é o Luca di Montezemolo, então problema dele.

Boca-livre, a última da Ferrari: parece uma padoca, mas é um restaurante phyno em “The Gardens” (ou Jardins). Ano que vem, Habib’s, se depender da mão aberta de Frank Williams.