Blog do Flavio Gomes
F-1

SE PANGS (4)

SÃO PAULO (fez muito bem) – Eu estava meio sonolento, admito. Faltavam três voltas para o fim da corrida e nada mais aconteceria, depois que Alonso passou Hülkenberg e assumiu o quarto lugar. De repente, o rádio: “OK, Felipe, Valtteri is faster than you. Do not hold him up”. A frase começou a ecoar. Faster […]

sepangs4SÃO PAULO (fez muito bem) – Eu estava meio sonolento, admito. Faltavam três voltas para o fim da corrida e nada mais aconteceria, depois que Alonso passou Hülkenberg e assumiu o quarto lugar.

De repente, o rádio: “OK, Felipe, Valtteri is faster than you. Do not hold him up”.

A frase começou a ecoar. Faster than you, you, you…

Então, e aqui reconheço que é possível que tenha sido minha imaginação, mas juro que ouvi, veio a resposta do piloto: “No cu, Jaú”. “What? No cool, Jaool? Who is Jaool? What do you mean with no cool, what is heating, the engine, the brakes?”. Havia um certo desespero do outro lado do rádio depois que o piloto disse “no cu, Jaú”, dada a incompreensão de tão clara expressão. “No cu, Jaú” means “nem fodendo”, se é que a essa altura o pessoal da Williams precisa de tradutores.

Na boa, poucas vezes vi tamanha falta de sensibilidade numa equipe em toda minha vida. Não se diz “Fulano is faster than you” para Felipe Massa. Não com essas palavras, para início de conversa. Não é preciso recorrer à memória para lembrar o quanto ele foi ridicularizado depois daquela corrida na Alemanha, mais ainda porque acabou deixando Alonso passar.

É só a segunda corrida do ano, Massa e Bottas estavam em sétimo e oitavo, e chegariam em sétimo e oitavo mesmo se o finlandês passasse, embora ele tenha dito, também pelo rádio, que tinha 100% de certeza de que passaria Button. Não tinha, e mesmo que tivesse, e daí? Iria mudar o preço da libra esterlina? Não. Mas dizer “is faster than you” para Massa muda. Poderia simplesmente acabar com a carreira do brasileiro, caso ele aceitasse a ordem esdrúxula, como são quase todas as ordens de equipe.

Bottas ficou bravinho e falou que todos teriam uma conversa na equipe. Felipe tentou minimizar a situação, disse que a disputa foi “normal” e que apenas fez o que julgou ser o melhor a fazer. “É justo fazer o meu melhor? Respeito meu trabalho”, declarou. “Não acho que ele teria como passar o Button”, avaliou. O rádio da Williams foi uma sucessão de absurdos. Primeiro, a ordem para Bottas: “Você está mais rápido, passe”. Depois que Felipe mandou um “no cu, Jaú”, quando informado que os pneus do companheiro eram melhores e que por isso ele não deveria impedir a ultrapassagem, veio a contra-ordem: “OK, Felipe, mantenham as posições, ele não vai atacar, apenas dê uma esfriada no carro”.

Tudo absolutamente desnecessário. O silêncio seria o melhor naquele fim de prova, era só deixar os dois correrem, talvez uma ou outra informação técnica (a temperatura de ambos os carros estava subindo perigosamente), mas se alguém queria dizer alguma coisa, que abrisse o rádio para os dois e falasse apenas: “Meninos, faltam três voltas, estamos com os dois nos pontos, já é mais do que fizemos no ano passado inteiro, fiquem atentos à temperatura, divirtam-se, mas não façam bobagens. Nos vemos no jantar”.

A troca de mensagens frenética, como se o mundo estivesse para acabar e dessa corrida dependesse o destino de cada um no dia do Juízo Final, apenas criou uma crise boba e inútil. Em vez de sorrisos pelo bom desempenho no fim de semana, nada demais, mas bom, com dois carros nos pontos, os boxes da Williams foram invadidos por semblantes amarrados e gente bicuda.

Mas uma coisa é certa. Felipe ganhou pontos com seus fãs, consigo mesmo, com seus colegas pilotos e com o lumpesinato da equipe, que é o que importa — mecânicos, funcionários do pé da fábrica, porteiros e cozinheiros. Se Bottas vai fechar a cara, se Claire Williams vai fazer muxoxo, se o engenheiro do rádio (que não sei quem é) vai se sentir desautorizado, paciência.

Nessas horas, a única coisa sensata a dizer é no cu, Jaú.