Blog do Flavio Gomes
F-1

KIMI & LECLERC

RIO (gostei!) – A Ferrari confirmou hoje de manhã, com seu estilo peculiar de comunicado oficial de duas linhas, que Charles Leclerc assume a vaga de titular ao lado de Vettel no ano que vem. É a concretização de um plano que começou lá atrás com Jules Bianchi, interrompido tragicamente em Suzuka. Alguns anos foram […]

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RIO (gostei!) – A Ferrari confirmou hoje de manhã, com seu estilo peculiar de comunicado oficial de duas linhas, que Charles Leclerc assume a vaga de titular ao lado de Vettel no ano que vem. É a concretização de um plano que começou lá atrás com Jules Bianchi, interrompido tragicamente em Suzuka. Alguns anos foram necessários para criar outro menino, e o monegasco está pronto. Falamos disso em vídeo do dia 27 de junho, direto de Moscou, lembram?

Não era nenhuma informação privilegiada, nem exercício de adivinhação. Apenas uma reflexão sobre a possibilidade, que me parecia positiva. E é justo que se diga também que por conta do bom ano de Raikkonen, reforçado com resultados sólidos nas muitas corridas seguintes, a hipótese de sua permanência não me parecia nenhum absurdo. Talvez fosse até mais sensata, para amadurecer Leclerc um pouquinho mais.

Mas são escolhas, e elas devem ser feitas em algum momento. Kimi não está indo embora por deficiência técnica, ou porque fez a pole e atrapalhou Vettel em Monza, irritando alguém. Nada disso. A decisão por Leclerc já havia sido tomada algum tempo atrás pelo então presidente Sergio Marchionne, que morreu no final de julho. E obviamente passou por várias instâncias da equipe e da Fiat. Essas coisas são bem pensadas.

O que achei mais legal dessa história toda não foi nem a ascensão de Leclerc, que é muito talentoso e terá uma linda e emocionante jornada pela frente. Gostei, de verdade, de saber que Raikkonen não pendura o capacete. Ele volta à Sauber por dois anos e continuará nos alegrando como uma espécie de elo perdido entre a F-1 atual e aquela de quando estreou, em 2001, pelo mesmo time. Agora que Alonso está fazendo as malas, sobrou ele.

A continuidade da carreira do tagarela finlandês mostra que, no coração da categoria, todos sabem que ele é um dos caras mais comprometidos com seu trabalho entre todos que disputam o Mundial. E que, ao contrário do que muita gente imagina, aquela imagem de “não tô nem aí” não passa de uma falsa impressão. Ele tá muito aí. Não há viv’alma na F-1 que fale mal de Raikkonen. Todos que trabalharam com ele — na Sauber, McLaren, Ferrari, Lotus/Renault — sabem com quem estão lidando.

Tanto é assim que seus dois anos sabáticos, 2010 e 2011, não foram suficientes para que o esquecessem. E não há ambiente esportivo no mundo em que se esquece tão rapidamente de alguém como a F-1. Em nenhuma modalidade a expressão “a fila anda” é mais verdadeira. Quase sempre, quando alguém perde uma vaga ou resolve dar seus pulinhos em outras glebas, o retorno simplesmente não acontece. Com Kimi não só aconteceu, como ele voltou ganhando corrida! E por uma equipe média, cheia de graça e encanto por conta do nome, das cores, da novidade.

Na Sauber, vai ser interessantíssimo acompanhar esse novo capítulo da vida de Raikkonen. A equipe renasceu depois de ser assumida pela Ferrari e terá num de seus carros nos próximos dois anos um sujeito que já ganhou campeonato, tem 100 pódios nas costas e 20 vitórias no currículo. Pena que na F-1 atual uma repetição daquilo que ele fez com a Lotus em 2012 e 2013 parece algo impossível. Mas alguém achava possível vê-lo ganhando GPs naquele carro preto e dourado depois de dois anos fazendo rali? Não. E ele foi lá e ganhou. Dois. E subiu ao pódio 15 vezes.

Torço muito para que Kimi consiga o impossível nos próximos dois anos. Com o cuore da Alfa no macacão, o cara se transforma num clássico. O último em atividade daquela geração de 2001 — de Alonso, Montoya, Schumacher e tanta gente boa.